“Não tem menor ideia do que é assédio”, diz Dep. Paulinha para Jessé Lopes
A pedido de CLAUDIA, a parlamentar de SC comentou as falas problemáticas do deputado Jessé Lopes.
“Jessé simboliza o retrocesso, o atraso, a propagação de algo que corrói a nossa sociedade da forma mais cruel. E, isso, vamos combater com todas as nossas forças”, afirmou a deputada estadual Paulinha (PDT-SC).
A pedido de CLAUDIA, a parlamentar, que ficou conhecida no Brasil inteiro por ter usado um macacão vermelho decotado durante a cerimônia de posse no dia 1º de fevereiro do ano passado, sofrendo ataques e ameaças nas redes sociais, rebateu os comentários absurdos feitos por Jessé Lopes, deputado estadual (PSL-SC), sobre o feminismo.
No início da semana, por meio do Facebook, o parlamentar afirmou que o assédio massageia o ego [da mulher] “mesmo que não se tenha interesse na pessoa que tomou a atitude. E não parou nessa pérola. Disse que o movimento feminista “tira o direito da mulher ser assediada”, comparando o crime de assédio, com uma cantada. Talvez, o que o deputado não saiba (ou deliberadamente ignora) é que, 42% das brasileiras com 16 anos ou mais declara já ter sido vítima de assédio sexual, segundo pesquisa do Datafolha.
Em outro trecho da problemática publicação, Jessé declara que “toda mulher sabe lidar com o assédio”. Com razão, Paulinha discorda: “Ele não tem a menor ideia do que é assédio e do quanto isso pode ser devastador para o psicológico da mulher. Estudos comprovam que a maioria absoluta de nós têm dificuldade de reagir ao assédio. Porque, no geral, não estamos preparadas para o excesso, o abuso dificilmente é esperado”.
A deputada ainda citou casos de violência doméstica que ocorreram em Santa Catarina, alertando que o discurso de Jessé incita e reforça o coro de agressões contra a mulher. “No ano de 2019, 59 mulheres foram mortas por seus ex-namorados, maridos… você imagina o que é isso? Somos um povo evoluído em tantas questões, tivemos redução de criminalidade em todos os aspectos, mas quando se trata desse tema, somos o segundo estado que mais agride, que mais maltrata as suas mulheres”.
“Penso que um homem que enxerga o assédio como um “direito” das mulheres e dos próprios homens, como ele diz, que confunde um crime com uma paquera, só pode ter sérios problemas de autoestima. Seguramente não dialoga com as mulheres de seu entorno: mãe, tias, amigas, esposa. É como se ele interpretasse um papel, vivesse num mundo à parte, completamente fora da realidade”, disse.
De acordo com ela, o fato de vivermos em uma sociedade estruturalmente machista, não é justificativa para que tire a responsabilidade das falas do deputado. É preciso pensar em formas contundentes de mudar esse cenário. “Para combate-lo precisamos mais do que nunca rever a forma com que educamos meninos e meninas, e tomar a questão do respeito como direito fundamental”, completou a deputada.
“E, deixo claro, não se trata de uma posição de esquerda ou de direita. A mulher que apanha, que é agredida, que é assediada no ônibus quando sai para trabalhar, por exemplo, ela é de todas as profissões, em todas as classes sociais, está em todos os lugares, em todos os partidos”, afirmou.
“Precisamos mais do que nunca rever a forma com que educamos meninos e meninas, e tomar a questão do respeito como direito fundamental”, finalizou.
Quais medidas serão tomadas?
Além de responder as publicações ofensivas do deputado via Instagram, ela também deixou claro que as respostas dessa atitude não ficarão apenas nas redes sociais.
“Inaceitável que a violência a que estamos submetidas durante décadas seja banalizada dessa forma. Por isso, dessa vez, vamos sim agir de forma mais contundente”.
De acordo com ela, a resposta não se limitará a notas de repúdio por meio das redes sociais. “Vamos ingressar com uma representação na comissão de ética, por quebra de decoro, e no Ministério Público”, disse.
As falas de Jessé sempre foram obtusas, apesar dele ser uma parlamentar gentil, segundo Paulinha. “Por algum tempo achamos mais coerente deixar ele falando sozinho, justamente pra não dar eco a seus propósitos e pensamentos, mas dessa vez ele se excedeu gigantemente. Assédio é crime, tipificado em lei, segundo o código penal”, afirmou a deputada.
Apesar de todas as questões que foram banalizadas pelo deputado, Paulinha diz que se sente confortada pela reação das mulheres frente a esse tipo de fala. “As mulheres estão reagindo. E, nesse caso, vamos tomar a liderança concedida pelos nossos mandatos para organizar esses movimentos em favor das mulheres.
Quem é Paulinha
Deputada estadual de Santa Catarina pelo PDT, Ana Paula Silva é natural de Bombinhas, (SC) e, aos 13 anos, já estava engajada em movimentos estudantis e sociais. Aos 14 anos, por conta de sua luta partidária, foi eleita vice-presidente nacional do movimento jovem do PDT.
Formada em administração pela ESAG, ela retornou para Bombinha, em 2000, onde assumiu a Secretaria Municipal de Administração, e, em 2004, foi eleita a primeira mulher vereadora da região.
No ano de 2009, ocupou a função de Diretora Nacional de Qualificação no Ministério do Trabalho, em Brasília. Já no ano de 2012 ela retornou a Bombinhas e foi eleita a primeira prefeita da cidade e a única reeleita. Renunciou o mandato em 2018 para se candidatar a deputada estadual.
A gestão de seu mandato foi consagrada como a primeira do estado e a terceira melhor do Brasil pelo Conselho Federal de Administração em termos fiscais pela Firjan.
Atacada por um decote
No dia 1º de fevereiro de 2019, Paulinha decidiu ir para a sua posse com um macacão vermelho decotado. Após publicar as fotos em suas redes sociais, ela sofreu diversos ataques e ameaças por conta do que vestia.
Apesar dos comentários machistas e ofensivos, a deputada recebeu apoio de diversas pessoas, inclusive de celebridades como Fernanda Young e Maria Ribeiro. Sua equipe printou todos os comentários e entrou com uma ação judicial contra os detratores.
“Quando me dei conta dos comentários nas redes sociais foi terrível. Sofri bastante, não nego, mas foi uma grande oportunidade de discutirmos em profundidade o machismo estrutural que nos rodeia de forma tão estúpida ainda nos tempos de hoje, e que acha que pode discutir até mesmo como a mulher deve se vestir”, contou ela.
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