Adoro falar sobre separação. Faz parte do amor. E quem, assim como eu, tem entre 40 e 50 anos, integra uma geração que se separa. São pessoas que entendem que o relacionamento acabou e é preciso seguir, apesar da dor. No entanto, uma geração marcada pela separação devia ter mais habilidade com o tema. Não dedicamos ao desamor o mesmo cuidado que temos com a paixão. Não fomos educados para nos separar, não sabemos como se faz isso. As leis não ajudam, às vezes nem os amigos, as amigas, a família… Ninguém está autorizado a sair de cena. Muitas vezes é sinal de fraqueza.
Até 1962 (há apenas 54 anos) as pessoas se desquitavam, e a mulher, a partir de então, era considerada incapaz – esse era o termo legal. Uma pária, que tinha dificuldade até para alugar uma casa. Esse fantasma ainda ronda a sala. As leis mudaram, mas até hoje, quando um casal se divorcia, o estado civil de cada um passa a ser exatamente este: divorciado. E será assim para sempre, a menos que um dos dois volte a casar. Judicialmente, ninguém volta a ser solteiro.
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Nunca fui casada no papel, mas me separei de uma união estável que durou nove anos. Digo união estável porque é o termo legal; na minha opinião, eu estava casada. A dor não foi judicial, foi brutal. Outro dia demorei a responder à pergunta: “Mas vocês ainda são amigos, né?”. Não temos filhos; portanto, não nos falamos sempre, não frequentamos a casa um do outro, mas, quando nos encontramos, podemos ficar conversando por horas. Temos uma intimidade que se estenderá por toda a vida, mas não nos comportamos como amigos. Estamos unidos pela separação.
Na época, levei minha bolsa e nada mais. Só queria sair e administrar aquela hemorragia sentimental. Errei, acertei, já não me lembro. Só sei que nunca confundi “esposa” com “mulher”. Cheguei a proibir um grande veículo de comunicação de publicar meu nome seguido do termo “ex-mulher”. Jamais serei ex-mulher. Assim como nunca o chamarei de “ex-homem”. Ele tem nome e sobrenome. E teremos sempre a lembrança de um amor que já foi a ordem do dia.
É preciso que a legislação esteja atenta ao amor. E nós também. Ainda não vou entrar no assunto “filhos”, fica para uma outra crônica. Falo aqui do amor entre cônjuges e de como adaptá-lo a uma nova realidade. Por exemplo, quando este texto estiver em suas mãos, já estarei casada novamente. É, a vida faz o que quer. Por isso, saber lidar com ela pode fazer a diferença.
Vou me casar pela segunda vez em uma grande festa e quem me espera é um homem que vai para seu terceiro casamento, tem filhos e uma história longa para contar. Espero nunca me separar dele. Só morrendo mesmo, mas existem muitas mortes. E, se for o fim do amor e do desejo, então que tudo seja velado como deve. Terminar o serviço, fazer da separação algo definitivo é também uma conquista. Separação não é o fim da vida. É só uma luta. E, se o gongo soar, é aconselhável ter na saída a elegância de um pugilista.
*Fernanda D’Umbra é atriz, bailarina, diretora, roteirista, letrista, compositora, poeta, cozinheira, madrasta e vocalista da banda Fábrica de Animais