A ministra Cármen Lúcia está chegando ao final de seus dois anos como presidente do Supremo Tribunal Federal. No período, vivenciou momentos como a morte do colega Teori Zavascki, morto em acidente de avião, e a crescente exposição da corte, cada vez mais presente no noticiário e alvo de críticas pelas posições conflituosas entre as duas Turmas.
Em entrevista publicada na edição de CLAUDIA de agosto, a mineira de Montes Claros de 64 anos conta como as preocupações do cargo lhe tiram o sono e provocam variações em seu peso (39 quilos no dia da conversa). Comenta também como se impõe em situações de machismo. “Mantenho a resistência, não cedo diante de pressões pelo fato de eu ser mulher. A sociedade é preconceituosa; o Judiciário, muito mais preconceituoso”, declara.
“Há tribunais com 50 homens e uma só mulher. Não existem juízas competentes?”, questiona ela, que se prepara para as tensões dos próximos meses. “A temperatura vai subir. O período eleitoral é de intensas paixões.”
Questionada se foi feliz no cargo, respondeu: “Não. Feliz é uma palavra muito densa. Ela impõe um estado de espírito, de repouso. Se não tem isso, pelo menos você precisa ter consciência de si mesma, do corpo, da saúde, do bem-estar. O cargo não me deixou desfrutar. Pelo meu temperamento, repito. Outros viveriam de modo diferente. Para mim não deu. Foram dois anos de moto-contínuo. Faço essa análise de forma fria: tinha de ser assim. Um dia, quero ter a capacidade de sentar no fim da tarde com uma amiga e prosear. Sem controle – e ninguém controla a situação deste país – não se pode descuidar. A instabilidade não espera. Além disso, quilombolas, índios e advogados vêm de longe para audiências ou sessões. Não podemos dizer para voltarem na semana seguinte”.