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Capacitismo no BBB24: entenda o problema das “piadas” de Maycon

Integrante do grupo “Pipoca” sugeriu apelidar a prótese do atleta paralímpico Vinícius

Por Kalel Adolfo
10 jan 2024, 14h21
Entenda por que piadas de Maycon são capacitistas.
Vinícius Rodrigues, atleta paralímpico, foi alvo de piadas repetitivas feitas por Maycon.  (TV Globo/Reprodução)
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Durante a primeira prova do líder do BBB 24, que aconteceu nesta semana, o participante Maycon Cosmer sugeriu apelidar a prótese do atleta paralímpico Vinicius Rodrigues de “cotinho”, em referência à sua perna amputada.

“E aí, nós vamos colocar um apelido, um nome no cotinho? Vamos colocar um nome no cotinho? Não, vamos sim. Vamos sim. A gente pode colocar um apelido no cotinho? Colocar um nome nele?”, perguntou Maycon a Vinicius, repetidas vezes. O atleta permaneceu em silêncio durante os comentários. Rapidamente, a cena repercutiu de maneira negativa nas redes sociais, rendendo acusações de capacitismo a Maycon. Confira  o momento:

Falas de Maycon são capacitistas?

Para a influenciadora PCD Giovanna Massera, que convive com Lúpus e Síndrome de Cushing, a resposta é certamente positiva: “Você não precisa fazer piadas capacitistas para parecer que aceita pessoas com deficiência. Muitos acreditam que isso nos deixará à vontade, mas o efeito é justamente o contrário”, afirma.

Ela explica que uma prova do constrangimento gerado por Maycon é a reação do atleta paralímpico, que não engajou na brincadeira: “Acabamos relevando para não sermos excluídos, para não sermos os ‘chatos do rolê’. É uma tática para continuarmos pertencendo ao grupo”, diz.

Essa necessidade por inclusão, segundo a influenciadora, faz com que muitos indivíduos com deficiência cheguem a nem sequer enxergar a problemática por trás de piadas e comentários ofensivos. “Acredito que o Vini apenas quis evitar confusão. Ele não está lá para militar, e sim para apenas existir, participar como todo mundo”, afirma Giovanna.

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Como essas piadas afetam pessoas com deficiência

Para a influenciadora, é essencial entender que ninguém almeja, espera ou está preparado para ser uma pessoa com deficiência: “Eu, por exemplo, não nasci com deficiência, mas sim, adquiri ela posteriormente. O processo de aceitação foi bastante difícil, eu não aceitava que teria que conviver com essa condição pelo resto de minha vida”, diz.

Ela aponta que, até conseguir aceitar a deficiência e as suas limitações, muitos anos se passaram. Portanto, não é de bom tom caçoar de algo que nem mesmo a própria pessoa pode estar confortável naquele momento.

Reação capacitista do público

Depois do episódio, diversos internautas passaram a dizer que Vinícius Rodrigues seria o campeão do BBB 24, pois ele era um “guerreiro”. Os participantes que o ajudaram durante a prova também foram apontados como possíveis vitoriosos da edição. De acordo com Giovanna, transformar o atleta em herói apenas por sua deficiência também é um ato capacitista.

“Não somos heróis por superar as dificuldades de nossas deficiências. O que é realmente difícil é viver sem acessibilidade, sem o reconhecimento de nosso trabalho”, diz. Ela conta que, dentro da moda, área em que trabalha, o capacitismo velado ocorre com frequência: “Por mais que sejamos bons, precisamos ser muito melhores para sermos reconhecidos. Mesmo assim, as pessoas veem a deficiência antes de nossos trabalhos.”

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Outros espectadores afirmaram que a problematização era “mimimi”, pois o próprio Vinicius havia feito piadas com a sua deficiência durante o programa. Sobre isso, Giovanna rebateu: “Uma coisa é ele fazer a piada, e outra é um terceiro que mal o conhece insistir na brincadeira.”

Ela continua: “Muitas vezes, as piadas que ele mesmo faz são uma forma de defesa, de deixar os outros mais à vontade com a deficiência dele, já que é notável o desconforto das pessoas em lidar com essa questão.”

Produção do BBB também precisa estar atenta à acessibilidade

Durante a prova de liderança, os participantes precisavam se dirigir a uma plataforma que os jogava em uma piscina de bolinhas. Após a queda, era necessário rastejar por um circuito encharcado de slime, para então, acionar um dispositivo e garantir a permanência na competição.

Segundo Giovanna, ao analisar a prova, fica claro que a emissora falhou no quesito acessibilidade: “Eles deveriam ter contratado um consultor de acessibilidade. Não para facilitar, mas sim, trazer equidade à prova. Ficou nítido que o Vinícius precisou realizar um esforço muito maior que os outros, precisando pensar em como se adaptar ao game”, afirma.

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Tadeu Schmidt chegou a conversar com Vinícius sobre o ocorrido no confessionário, mas para a influenciadora, era necessário que o apresentador falasse também com Maycon e o restante da casa: “O Vini não precisa estar nesse lugar de educar eles o tempo todo, é cansativo.”

Situação, apesar de incômoda, é importante

Por fim, Giovanna afirma que o ocorrido é apenas um reflexo do que acontece com pessoas PCD diariamente. “Essa situação, exibida em rede nacional, pode fazer muitos compreenderem o quanto o capacitismo é problemático. Talvez isso ensine uma parcela da população a tratar pessoas com deficiência de forma mais natural. Só agora tivemos um segundo participante PCD na casa, mas isso já garante uma visibilidade imensa para a causa”, diz.

O atleta paralímpico Vinicius Rodrigues

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Vinicius sofreu um acidente de trânsito na cidade de Maringá, no Paraná, aos 19 anos. Consequentemente, precisou amputar parte da perna esquerda. Durante a sua estadia no hospital, recebeu uma visita da atleta paralímpica Terezinha Guilhermina, que o apresentou ao atletismo. Desde lá, conquistou inúmeros feitos históricos, incluindo o recorde mundial dos 100m rasos da classe T63, corrida para amputados de perna acima do joelho, com o tempo de 11s95.

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