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As argentinas que estão mudando o turismo em Buenos Aires

Graças às ideias inovadoras delas e a muito esforço para conquistar espaço, os roteiros portenhos são ricos

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 set 2019, 17h23 - Publicado em 21 set 2019, 14h06
Marina von der Heyde, gerente institucional e de operações do Museu de Arte Moderna. (Lucas Landau/CLAUDIA)
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Foi-se o tempo em que Buenos Aires era reconhecida pelo tango e pela parrilla. Hoje, curiosamente, o ritmo que mais se escuta pelas ruas da capital argentina é o funk brasileiro – até no tradicional Caminito, região extremamente turística, ouvem-se as batidas.

Não é de estranhar, já que somos os visitantes número 1 da cidade. Só em 2018 foram mais de 700 mil pessoas, resultado da combinação dos encantos oferecidos pelo lugar com a proximidade e a alta do dólar e do euro. E a maioria não viajava ao destino pela primeira vez. Para quem recorre tanto ao vizinho em época de férias, cair sempre no clichê cansa.

Buscando agradar a seus maiores fãs, Buenos Aires precisou se diversificar. Não foi difícil. A cultura local tem muito a oferecer. Além disso, há um grupo de mulheres habilidosas à frente de empreendimentos turísticos, criando possibilidades variadas de experiências.

Graças às ideias inovadoras delas e a muito esforço para conquistar espaço, os roteiros portenhos são ricos, com atividades para curtir longos dias batendo perna.

Vá se esbaldar

Quer comer bem e é vegetariano (caso do Lucas, fotógrafo desta matéria)? Novos restaurantes garantem um banquete – com a vantagem de carregar valores sustentáveis e ecológicos. É o caso do Narda Comedor, comandado pela genial Narda Lepes, eleito um dos 50 melhores da América Latina.

Oferece até carne, mas ela está longe de ser a protagonista. Os vegetais temperados farão com que você esqueça qualquer churrasco. No ambiente, a cozinha exposta é o destaque. Da mesa, veem-se cozinheiras comandando a chapa com destreza. Uma venezuelana, que começou servindo e hoje cuida da finalização das receitas, posiciona ervas e temperos delicadamente sobre os pratos.

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Da cozinha da chef Narda Lepes saem pratos como o purê com caldo de carne e a alface temperada com flores (Lucas Landau/CLAUDIA)

Narda já teve outros restaurantes, mas é conhecida pelos programas de TV. Em um deles, viajava o mundo para cozinhar com outros chefs e mostrava aos argentinos produtos locais.

A preocupação com toda a cadeia de produção pode ter surgido nessa época. Hoje, ela sabe até quem é o homem que faz as panelas usadas no Comedor. “Vou conhecer quem cuida das cabras que dão o leite para a fabricação dos queijos, quem planta as hortaliças… Asseguro que o processo seja respeitoso com o meio ambiente e a comunidade”, diz.

Perto dali fica o Orilla, restaurante moderno com cardápio enxuto, entregue com perfeição. Entretanto, a estrela é a carta de bebidas. Troque os vinhos pelos drinques de Inés De Los Santos, especialista em combinar sabores inovadores.

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A trajetória dela foi cheia de percalços. Já ouviu de muitos homens questionamentos sobre sua profissão. “Eles perguntavam: ‘Você sabe mesmo fazer esse drinque?’. E, depois de terem tomado, comentavam: ‘E não é que ficou bom?’ ”, lembra. Nunca deu ouvidos, continuou praticando.

Ela acredita que você só é bartender depois de preparar, pelo menos, o milésimo mojito. “Antes é amador”, garante. Inés atuou na área mesmo durante as grandes crises econômicas argentinas.

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Inés De Los Santos, bartender e especialista em fazer drinks (Lucas Landau/CLAUDIA)

Precisou descobrir sozinha caminhos de importação de matéria-prima. “Quando achávamos bebida boa, saíamos correndo e comprávamos todo o estoque. Ao mesmo tempo, isso me estimulou a trabalhar com itens que estavam à nossa disposição, como o vinho. Fiz muitos coquetéis com nossos produtos locais”, conta. Não dá para perder as releituras do Spritz, que leva suco de pepino, e do Old Fashioned, com bitter de chocolate.

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De encher os olhos

O Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) é unanimidade entre os turistas. A casa do Abaporu, de Tarsila do Amaral, entra em qualquer roteiro. O que poucos sabem, contudo, é que a capital tem acervo de arte extenso, inclusive com outras instituições renomadas.

Espalhar essa informação e atrair mais visitantes é responsabilidade de Marina von der Heyde, gerente institucional e de operações do Museu de Arte Moderna.

Localizado em San Telmo, onde acontece a feira de antiguidades e artesanato aos domingos, o museu oferece visitas guiadas em português, tem parcerias com ônibus de turismo para ser ponto de parada e distribui um mapa do bairro para quem passa por ali e não conhece a instituição.

Mas, para estimular a arte de maneira mais profunda na sociedade, uniu-se aos times de futebol, em uma aliança com as equipes de base. “Já temos o Boca Juniors, San Lorenzo… As crianças vêm aqui, passeiam. A ideia é que incorporem esse hábito desde jovens e passem isso adiante”, explica Marina. Com tantas iniciativas, a meta é atingir 300 mil visitantes neste ano.

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Marina von der Heyde, gerente institucional e de operações do Museu de Arte Moderna. (Lucas Landau/CLAUDIA)

Não é só nas artes plásticas que se concentram as descobertas culturais. Experimente trocar o show de tango pela nova mania entre os portenhos, as peças de 15 minutos em cafés ou bares pelos bairros hipsters, como Palermo Soho. Quem dá a dica é a atriz e produtora Martina Gusmán, conhecida internacionalmente pela participação em O Marginal, série da Netflix.

Nos últimos meses, quando não está gravando, gosta de prestigiar os amigos no que ela chama de microteatro. O formato foi importado da Espanha e permite que várias histórias sejam apresentadas em uma única noite. “Como exige pouco tempo dos atores, tem atraído até grandes nomes da área”, explica. E, para o turista que não fala espanhol, a ideia é maravilhosa. Facilita o entendimento e a probabilidade de ficar perdido é menor.

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Martina Gusmán, atriz e produtora (Lucas Landau/CLAUDIA)
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Andar por Palermo Soho é, aliás, obrigatório. Há grafites e murais coloridos espalhados pelo bairro – tudo muito instagramável. Além dos cafés e restaurantes, encontram-se pequenas e charmosas livrarias. É na mesma região descolada que fica o ateliê de Mariana Dappiano.

Ela se formou na primeira turma de desenho de moda da faculdade de Buenos Aires e desfila desde a primeira semana de moda da Argentina. Agora, prepara-se para desembarcar nos Estados Unidos com loja própria.

Os brasileiros procuram muito a marca atrás das roupas coloridas e fluidas. “A proposta é diferente. Quem vem aqui quer peças exclusivas, com cortes e estampas do momento”, descreve. “Busca outro tipo de consumo. Foge dos shoppings e torna o processo mais pessoal”, completa.

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Fashion Designer Mariana Drappiano (Lucas Landau/CLAUDIA)

Buenos Aires continua sendo um destino queridinho, mas cresceu, se desenvolveu e, sem perder a personalidade, mostra novas facetas aos visitantes. Agrada tanto aos que chegam ali pela primeira vez quanto aos que retornam para experimentar mais e mais. Uma coisa, porém, não mudou. E que bom! Na cidade, ainda se consomem 3 milhões de deliciosos alfajores por dia. Agora ficou irresistível, né?

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