Após curso de doula, fotógrafa se dedica a registrar com delicadeza partos naturais
Mãe de três, Ariane Chiebao usa a própria experiência como ferramenta para oferecer suporte a mães e registrar o nascimento de forma emocionante
Fotografia de parto não é uma novidade. A indústria do nascimento já comercializa pacotes de fotografia em maternidades há anos. Mas esqueça da ideia de muitas câmeras, luzes e poses que precedem um parto por cesariana em hospital. Na fotografia do parto humanizado, o foco está na família e na beleza do nascimento em si.
Um bom fotógrafo de partos humanizado deve passar despercebido pela gestante e pela família. “Muitas mulheres me disseram depois que nem me viram durante o parto”, afirmou a fotógrafa Ariane Chiebao, de 26 anos. É um trabalho silencioso, que respeita o momento da família. A proposta do trabalho é captar o clima de maneira sutil, equilibrando as emoções do momento. “Meu trabalho parte muito da observação. É um momento de muita emoção para a mulher que está parindo, para o pai e também para a equipe”, explicou a profissional, que também atua como doula.
Interferências no processo não são bem-vindas e mais do que afinação do olhar é preciso sutileza e discrição. “Dentro desse processo de fotografar partos eu estudei as questões do conceito de Comunicação Não Violenta do Marshall Rosenberg. A ideia de trabalhar o presente e registrar sem julgamento. A empolgação do fotógrafo não pode transpassar no registro do parto. Se existe algum momento em que a gestante precise de um conselho, eu o dou, mas como doula. Nas imagens eu passo neutralidade”, garantiu.
A procura por esse tipo de profissional (com dupla formação) só tem crescido. Isto porque cada vez mais o tabu envolvendo a exposição das cenas do parto vem sendo quebrado. As mulheres descobriram que existe beleza neste momento tão intenso. “A gestação é um grande processo de transformação da mulher, física e emocionalmente. Eu diria até que é um momento de cura, pois você acaba tendo muitos insights da infância, da sua relação com a sua mãe. Cada vez mais as pessoas estão conseguindo observar esse momento como uma ligação da gestante com a própria família e com a criança. E neste contexto, as fotos servem como forma de materializar o ápice desse processo”, afirmou Ariane.
Formada em publicidade, ela fez seu primeiro curso de doula em 2013. “Minha intenção era ajudar outras mulheres, não só com informação, mas com a minha experiência e conhecimentos técnicos”, contou. A ideia de fotografar partos surgiu logo na primeira aula. “Eu levei meu equipamento e quando percebi já estava fotografando as cenas de parto. O resultado foi muito bacana. Apesar de não ser uma cena real, eu consegui captar boas expressões, recortes. E vi aí uma oportunidade”, explicou a fotógrafa.
Mãe de Giácomo, 5, Pietro, 3 anos, e Giuseppe, de um mês, Ariane passou por diferentes experiências: um cesariana, um parto natural em ambiente hospitalar e mais recentemente um parto natural em ambiente domiciliar. “Entre os três nascimentos, a maior diferença que consigo observar é a questão da informação. Na primeira gestação eu não tinha estudado muito sobre as minhas opções. Estava passando com o obstetra do convênio e queria muito o parto normal. Entrei em trabalho de parto e cheguei a 10 centímetros de dilação em poucas horas, mas o obstetra estimulou a cesariana porque disse que havia a chamada circular de cordão. O Giuseppe também teve, mas não foi um impedimento para o parto normal”.
Os cursos de gestante oferecidos pelos hospitais e planos de saúde servem como um primeiro passo para as mães de primeira viagem, mas não deve ser a única fonte de informação. Afinal, o conhecimento das alternativas é uma chave essencial a tomada consciente e não influenciável de decisão. “Os cursos de gestante normalmente dão noções sobre amamentação e cuidados com o bebê. São informações positivas, mas insuficientes. Está na hora de ir além. Vamos falar sobre parto?”, convidou a profissional.
Essa é a principal função da doula, cujo trabalho começa muito antes do parto. Trata-se da criação de um vínculo de confiança, quando a profissional conhece a mulher, sua história e sua situação emocional. “Ao ter mais informações sobre o parto, a mulher chega neste momento muito mais empoderada, certa do que ela consegue fazer e com muito mais segurança”, afirmou.
Buscando partos humanizados, muitas mulheres pensam que a presença da doula dispensa uma equipe médica. No entanto, é importante ressaltar que um dos pilares da humanização do nascimento é a presença de uma equipe multidisciplinar, composta por um médico obstetra, enfermeiras obstétricas, pediatra e doulas.
“O papel da doula é oferecer suporte e explicar à mulher as opções que ela tem. Ela não tem capacidade técnica para realizar o parto. Claro que esta decisão é particular de cada mulher. Não podemos forçá-la a ter uma equipe humanizada, que na maioria das vezes é particular, mas a ética das doulas não encoraja o parto desassistido”, afirmou Ariane.