Após 40 anos, Iranianas conquistam autorização para ver jogo de futebol
4.600 ingressos destinados ao público feminino foram vendidos para a partida entre Irã e Camboja
A partida de futebol entre Irã e Camboja realizada nesta quinta-feira (10) entrará para a história. Não pela goleada de 14 a 0 contra a seleção cambojana, mas por uma vitória muito mais importante. Pela primeira vez em 40 anos, as mulheres iranianas puderam entrar em um estádio de futebol para ver a partida.
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Apesar de nunca ter sido formalizado como lei, o banimento feminino de estádios esportivos passou a ocorrer pouco após a Revolução Islâmica de 1979. Apenas com a recente pressão pública de grupos de direitos humanos e da FIFA, o governo iraniano concordou com a presença feminina nos jogos.
Os 3.500 ingressos disponibilizados para as fãs se esgotaram rapidamente, fazendo com que mais 1.100 entradas fossem postas à venda para esse mesmo jogo classificatório para a Copa do Mundo. “Este é um passo adiante muito positivo, um passo pelo qual a FIFA e especialmente as mulheres e meninas iranianas esperavam ansiosamente”, declarou o presidente da FIFA, Gianni Infantino.
“A paixão, alegria e entusiamos que elas mostraram hoje foram notáveis para nos mostrar e nos encorajar ainda mais a continuar o caminho que começamos. A história nos ensina que progresso vem em etapas e isso é apenas o começo da jornada. Consequentemente, a FIFA agora anseia mais do que nunca por um futuro onde todas as garotas e mulheres que desejarem ir a uma partida de futebol no Irã poderão fazer isso livremente e em um ambiente seguro. Não pode haver interrupção ou retrocesso de agora em diante”, completou.
A quantidade de ingressos porém não agradou a ONG Human Rights Watch, que alegou que o limite de 4.600 fãs foi “discriminatório, enganoso e perigoso”. “A cota de 5% dos assentos contradiz a constituição da FIFA, estatutos e políticas de direitos humanos. O Artigo 4 do estatuto determina que descriminação contra mulheres é estritamente proibido e punível com suspensão ou expulsão do membro da FIFA”, disse a organização.
À CNN, a FIFA alegou que sua postura em relação à presença feminina é “firme e clara: mulheres têm que ter acesso aos estádios de futebol no Irã. Para todas as partidas […] Reafirmamos que o número de mulheres no estádio precisa ser determinado pela demanda dos ingressos, sem qualquer limitação arbitrária sendo imposta”.
A pressão da FIFA sobre o Irã cresceu após a morte de Sahar Khodayari. Conhecida nas redes sociais como Blue Girl por causa das cores do Esteghlal, seu time favorito, Khodayari foi acusada de “cometer um ato pecaminoso abertamente” por “aparecer em público sem hijab”, quando tentou entrar em um estádio “vestida como um homem” em março, segundo informações da Anistia Internacional.
Ela foi levada à corte em Teerã no mês passado e, após o encerramento do caso, derramou gasolina e ateou fogo em si mesma. Ela morreu no dia 9 de setembro.
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