Quantas mulheres aparecem como protagonistas de um acontecimento histórico nos livros? A presença feminina nas narrativas notáveis, na maioria das vezes, são ignoradas ou sequer citadas nas aulas de História, Geografia ou Literatura. E quando são citadas, sempre possuem uma relação secundária quando comparadas aos heróis nacionais, que segundo o ensino convencional, fizeram história. Foi numa tentativa de reescrever as linhas já determinadas pelo tempo, que a professora do Centro de Ensino Médio I, no Distrito Federal, Maria Del Pilar, idealizou o projeto Heroínas Sem Estátua: o conhecimento a partir das mulheres.
“O Heroínas Sem Estátua nasceu a partir da inquietação que tivemos ao ver que as mulheres pouco figuravam nos espaços de ensino-aprendizagem como personalidades a serem estudadas. Suas contribuições foram sistematicamente apagadas dos currículos”, comentou Maria em seu artigo justificando a criação do museu virtual. Dandara dos Palmares, Olga Benário, Nísia Floresta e Bertha Luz são apenas alguns dos nomes que aparecem no site produzido colaborativamente em conjunto com os estudantes do curso.
Algumas iniciativas como o Currículo em Movimento da Educação Básica foram fundamentais para que a mentalidade dos docentes de que a história só pode ser feita ou contada por figuras masculinas fosse questionada, mas a professora ainda acredita que há um longo caminho pela frente para que passemos de um papel secundário para o principal na construção da sociedade como conhecemos hoje. “Os livros didáticos, mesmo com do Programa Nacional do Livro Didático (PNDL) 2013, continuam a reiterar cânones literários e do pensamento que são, em sua esmagadora (e opressora) maioria, homens brancos e de classes sociais privilegiadas”, comenta Maria.
O questionamento do porquê essas mulheres não se tornarem estátuas pela sua trajetória de luta, ao contrário do que ocorre com tantos homens célebres, foi um dos principais questionamentos direcionados aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio. Foi através da matéria Língua Portuguesa que os adolescentes tiveram contato com algumas obras necessárias para a fundamentação da análise, como o longa “Uma História de Amor e Fúria” e o livro “Meus heróis não viraram estátua”.
Debates, exercícios de análise crítica e atividades em grupo foram alguns dos métodos utilizados para explicar aos discentes o papel da desigualdade de gênero na construção histórica. E como encerramento do primeiro bimestre, foi solicitado que cada um trouxesse para a aula uma heroína que não foi reconhecida, tanto em nível nacional, quanto mundial. E respondessem sobre a sua figura quatro perguntas básicas sobre a personalidade escolhida: “Sobre Quem?”, “Por quê?”, “Para quê?” e “Como?” Depois da entrega desta primeira etapa, os trabalhos foram corrigidos e a professora sugeriu que alguns pontos fossem modificados com o objetivo de melhorar o resultado final.
Então, os estudantes passaram a focar em produzir versões digitais deste primeiro texto e buscar imagens para que a trajetória desta liderança feminina pudesse ser sintetizada em uma cartolina, slide, ou em qualquer outro meio e posteriormente publicada na plataforma virtual. Os resultados finais da sala foram compilados no blog que pode ser conferido neste link. “Esperamos que esse trabalho possa inspirar outras iniciativas que visem à igualdade”, arrematou a docente Maria.
Assista ao vídeo e conheça um pouquinho mais sobre o projeto: