A tocante história da mulher que escolheu ficar cega pela filha
Neste Dia das Mães, Carla ganhou uma surpresa muito especial
Desde os 6 anos de idade, Carla Andressa Framthi Neves sofre com a diabetes. Ela conta que nunca se preocupou em se prevenir para evitar problemas futuros até começar a ficar cega, aos 25 anos. Para tentar impedir que a doença roubasse sua visão, ela, que na época trabalhava como técnica de enfermagem, imediatamente deu início ao tratamento que poderia interromper o avanço da cegueira.
Casada, Carla dividia com o marido o sonho de ter filhos, mas sabia que, ao menos naquele momento, precisava deixar esse desejo em espera, pois tratamento e gravidez eram incompatíveis já que o laser usado no procedimento afetaria o feto.
Assim, não foi fácil para ela se descobrir grávida bem no meio do processo de cura. Especialmente ao ouvir do médico que ela tinha “uma escolha a fazer: ou a gravidez ou a sua visão”.
“Pra mim foi muito difícil a escolha que eu tive que fazer. Ia mudar tudo, a rotina… o recomeço é difícil – é começar tudo de novo, só que de outra forma. É tentar esquecer aquela Carla que enxergava e viver a Carla que não enxerga hoje”, contou ela ao G1.
Aos seis meses de gestação, sua visão rapidamente começou a se deteriorar, transformando por inteiro a rotina da jovem. Mas, ao pegar a filha nos braços e ouvi-la, ela soube que havia feito a escolha certa.
“Só eu mesma [pra saber]. É o toque né… eu acho que só o amor que eu dou pra ela vale mais do que ver. Tem muita gente que fala que no meu lugar não teria coragem… Mas é por outra vida, e uma que eu gerei. É um ato de amor”, diz.
Ela ainda chegou a fazer uma cirurgia para corrigir o descolamento da retina, mas conseguiu manter apenas 5% da visão do olho direito.
Na ponta dos dedos
Hoje, cinco anos depois, Carla participa da ONG Avistar, em Piracicaba. E foi lá que ela viveu um dos momentos mais emocionantes da nova fase. Graças a ideia de Mariana Turrioni, uma das professoras de braile da organização, Carla foi presenteada com uma foto 3D dela e da filha juntas.
“A Carla sempre perguntou como a filha era, os olhos, se era puxado, tamanho do olho, o cabelo, o perfil da menina. Aí quando a empresa falou da impressora, na hora surgiu essa ideia, pra trabalhar essa noção de espaço, detalhes do rosto, até coordenação motora para identificação e reconhecimento da foto. Aí como ia ser o Dia das Mães, a gente pensou de fazer a surpresa”, conta Mariana.
Feita por uma empresa especializada neste tipo de serviço, a foto escolhida foi tirada do Facebook de Carla. “A partir da fotografia dela com a filha, fizemos a conversão para 3D e imprimimos o modelo. Foi o primeiro que fizemos para essa finalidade, por isso, não sabíamos se funcionaria”, explica Mateus de Souza Rocha, dono da empresa.
Funcionou perfeitamente. Ao receber o presente, Carla usou as mãos para fazer o reconhecimento da imagem, podendo imaginar e recordar o que já tinha gravado em memória. E foi ao tocar o rosto da filha no papel o momento que mais a sensibilizou. “Quando eu passei a mão pra ‘ver’ a foto e eu senti o rostinho dela, eu me emocionei muito. Foi a primeira vez que eu passei a mão nela e também em mim, então eu fiquei muito emocionada”.
A pequena Vitória, filha de Carla, a acompanhava no momento e, a princípio, não entendeu porque a mãe estava chorando. “Eu falei: eu estou vendo você na foto. E ela falou: nossa mãe, que bonito né, que diferente, eu e você. Ela disse: nossa mãe, você está com a bengala na mão, olha que legal”.
Sendo a única da ONG que perdeu a visão antes de ver o filho, para ela a fotografia foi um presente e tanto de Dia das Mães.
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