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“A sociedade está preparada para o sucesso da mulher até certo ponto”, disse Anna Muylaert no Prêmio CLAUDIA Talks

No Rio de Janeiro, seis finalistas do Prêmio CLAUDIA debateram sobre as barreiras da mulher no ambiente de trabalho, representatividade negra e a necessidade das mulheres participarem da política nacional durante o Prêmio CLAUDIA Talks.

Por Giuliana Bergamo (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 16h36 - Publicado em 14 set 2016, 18h08
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  • A cineasta Anna Muylaert está cansada. Há pouco mais de um ano, desde que seu filme, Que Horas Ela Volta? estourou no Brasil e no mundo, ela não consegue parar quieta. Voa de um lado para o outro, é chamada – e quase nunca consegue negar o convite – para participar de eventos, concorrer a prêmios, conceder entrevistas e palestras. O corpo pede pausa, mas a agenda não deixa. Na noite da última segunda-feira (12), quando chegou ao Rio de Janeiro, o Prêmio CLAUDIA Talks do qual participaria na manhã seguinte era mais um desses compromissos. Pior: era mais uma dessas tarefas que contraria seu bioritmo e a faz sair da cama cedo demais.  

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    A empresária Cris Junqueira, candidata pela categoria Negócios, também não anda tendo muito descanso. No domingo (11), esteve no Rio, na segunda voltou a São Paulo para o lançamento do programa de pontos do Nubank, o cartão de crédito que ela ajudou a fundar, e, na terça (13), acordou antes das 5h para pegar um voo até a capital fluminense. Afinal de contas, também participaria da última rodada de palestras das finalistas antes da noite em que serão revelados os nomes das vencedoras da maior premiação feminina da América Latina, em 4 de outubro. 

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    Nill Santos, finalista pela categoria especial Consultora Natura Inspiradora, é outra que pulou da cama cedo. Mas não para voar. Ela foi de táxi, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ao Espaço Laje, na Gávea, onde ocorreu o evento. Chegou animada para falar de um assunto duro, mas que nunca a cansa: violência doméstica, um mal que (ela faz questão de lembrar) atinge mulheres de todas as camadas da população brasileira. 

    Já as candidatas Paula Jonhs (Políticas Públicas), Alessandra Orofino (Revelação) e Mariana Madureira (Negócios), todas vizinhas do local do evento, não enfrentaram muitos obstáculos para chegar lá. Mas, no início da manhã, ainda não estavam exatamente à vontade. Paula e Alessandra pediram alguns ajustes na apresentação que acompanharia suas falas e tiraram dúvidas sobre o formato da minipalestra. E Mariana tentou se entrosar com as colegas – sim, porque, no Prêmio CLAUDIA, as concorrentes viram colegas. 

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    O ar condicionado gelado não colaborou para acomodar os humores. Mas, aos poucos, o público foi chegando e enchendo o auditório. Até que não havia mais lugar para quem quisesse se sentar. A plateia, formada principalmente por mulheres, precisou se acomodar nos cantos e até disputar espaço para as cabeças que se esgueiravam pela porta. Ora, se havia tanta gente reunida para ouvir aquelas mulheres falar, era a hora de começar. 

    Contrariando expectativas, subi ao palco para abrir o evento sem nenhum tropeço. Mas não consegui segurar a gagueira ou a falta de memória para me apresentar antes de qualquer coisa. Fui salva por uma senhora que, da plateia perguntou: “Mas quem é você, afinal?” Depois de rapidamente contar a todas e a todos como estava feliz com a possibilidade de realizar aquele encontro, chamei ao palco Maria Paula Fonseca, diretora da divisão de cosméticos da Natura, marca que apoia o Prêmio CLAUDIA há sete anos. Em seguida, foi a vez das palestrantes subirem ao palco, em ordem alfabética. E fez-se a mágica – ou seria magia? – daquela manhã. Como se tivessem ensaiado por dias, as finalistas subiram ao palco encadeando seus depoimentos um no outro.

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    Alessandra Orofino, abriu a sequência com sua defesa sobre a importância de se trabalhar junto. Para isso, usou como exemplo o Mapa do Acolhimento, um site onde terapeutas podem se inscrever para oferecer atendimento gratuito para vítimas de violência sexual. 

    Em seguida, Anna Muylaert subiu ao palco para contar de onde surgiu sua motivação para fazer Que Horas Ela Volta?. Quando tornou-se mãe, há vinte anos, sentiu uma cobrança do seu círculo social para ter babá, o que a incomodou profundamente. Duas décadas depois, quando a história finalmente ficou pronta, ganhou os cinemas brasileiros, mas Anna passou a viver na pele um outro problema brasileiro, o machismo. “A partir do momento em que o filme passou a fazer sucesso, eu sofri muito ataque machista”, disse à plateia. “A sociedade está preparada para o sucesso da mulher até um certo ponto apenas”. 

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    Cris Junqueira estava preparada para falar exatamente sobre este tema. Mãe de uma garotinha de 2 anos, a empresária contou se preocupar com o mercado de trabalho que sua filha vai encontrar. “Muito pouco mudou para a mulher no mercado de trabalho. Metade da população não tem direito de chegar ao máximo do seu potencial. Como disse a Anna, você pode até ser diretora, mas presidente, não.” Sua expectativa para o futuro, no entanto, é de que Alice, sua caçula, já comece sua carreira em um mundo onde mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades e recebam os mesmos tratamentos e salários. 

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    Mariana Madureira e Paula Johns fizeram questão de contar o quanto ter nascido em famílias de classe média, ter tido acesso à educação e oportunidades fez a diferença na formação que tiveram. Mariana contou um pouco sobre o conceito de negócio social e o empreendedorismo como uma alternativa para incluir não só comunidades menos privilegiadas, como mulheres que, por se tornarem mães, têm dificuldade de continuar exercendo empregos formais. 

    Logo depois dela, foi a vez de Nill Santos deixar a plateia com o coração na mão ao contar sobre as primeiras vezes em que apanhou do marido, quando amamentava seu bebê. “A gente fala muito sobre a cultura do estupro, mas ela acontece todos os dias nos lares”, disse. E contou ainda que, enquanto ela falava, três mulheres estavam sendo violentadas e uma provavelmente morreu. “O futuro extraordinário precisa de acolhimento”, lembrou ela, que foi ovacionada pela plateia.

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    Paula Johns fechou a série de palestras contando a trajetória que a levou a enfrentar a poderosa indústria do tabaco ao batalhar para a instauração da lei antifumo em São Paulo e, em seguida, no Brasil todo. Um de seus primeiros empregos foi em uma ONG feminista. Depois, ao estudar fora do país, conseguiu enxergar o machismo e o racismo impregnados em sua educação. Resolveu voltar para, aqui, usar seus privilégios para mudar a sociedade em que vive. 

    As palestras foram seguidas por um debate que, não fosse o limite de tempo para o evento, duraria horas. O público não queria parar de perguntar e as finalistas continuaram dispostas para responder e discutir as questões levantadas, como: as barreiras que a mulher se auto-impõe para não conquistar sucesso; a falta de representantes negras no cinema e na televisão; a necessidade de participar ativamente da política nacional, entre outros. 

    Por volta das 12h30, a plateia foi-se embora. Já as finalistas enfiaram o cansaço na bolsa e seguiram, animadas, para o almoço. Como amigas de longa data, papearam sobre feminismo, igualdade de gênero e outros temas que não saem da cabeça dessas mulheres extraordinárias. A caminho do aeroporto Santos Dumont, onde pegaríamos um voo de volta para São Paulo, Cris disse a mim e a Anna: “Foi lindo ver as inspirações se multiplicarem entre nós e a plateia”. A cineasta concordou. E eu também. 

    Você também faz parte do júri que irá eleger as vencedoras de cada categoria. Para votar, aperte o coração ao lado da foto da finalista. Leia as histórias, avalie os trabalho e escolha as suas candidatas.

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