A Semana de Alta-Costura de Paris chegou ao fim na última quinta-feira (25). Mais de 20 grifes se apresentaram na capital francesa desde o dia 22 de janeiro, com desfiles capazes de arrebatar os corações daqueles que amam moda. De Schiaparelli, Chanel, Dior, até Jean Paul Gaultier, não faltou talento nas passarelas. Confira os destaques!
À la Schiaparelli
Schiaparelli deu play no evento com uma coleção marcada pelo passado e futuro. Tudo porque Daniel Roseberry decidiu questionar a nossa relação com a tecnologia ‒ e criar esse ponto de reflexão por meio de instrumentos tecnológicos na composição das peças foi uma escolha certeira.
Está aí para comprovar um vestido que viralizou nas redes sociais: celulares de 2007, placas-mãe e outras parafernálias tecnológicas foram usados para adornar a obra. Também não passou despercebido uma espécie de bebê composto pelos mesmos elementos. É a mais pura essência da marca, criada para romper paradigmas.
Jaquetas com franjas, couro, botas e fivelas, outrora impensáveis na alta-costura, deram as caras, em referência ao sangue texano de Roseberry. A consequência foi um debate sobre a haute couture nos dias atuais, que, ao que tudo indica, pode ser mais real.
Simone Rocha é o novo nome da moda
Desde a aposentadoria de Jean-Paul Gaultier, a grife passou a comandar as passarelas de haute couture por meio da colaboração com novos nomes da moda, ampliando o alcance de jovens talentos. Chitose Abe, Glenn Martens, Olivier Rousteing e Haider Ackermann estiveram à frente da marca nas edições anteriores. Agora, chegou a vez da irlandesa Simone Rocha.
Basta um breve raio-x na designer para descobrir seus códigos ultrafemininos. À primeira vista, a proposta parece muito distante do legado de Gaultier. Um olhar mais atento, porém, esclarece a possibilidade de Simone ser tão enfant terrible quanto o estilista ‒ o que é justificativa suficiente para o convite.
A coleção é um passeio entre o ontem e o amanhã da maison. O ponto de partida é a série de colaborações com a coreógrafa francesa Régine Chopinot, com a Le Défilé, em 1985. Saias de tule, modelagens em vestidos sacos e o contraste de cores preto-branco-vermelho não podiam faltar, tudo na melhor versão romântica e subversiva.
Laços, pérolas, estética de marinheiro e o icônico cone bra ‒ o sutiã de cone eternizado por Madonna ‒ são centrais. O resultado é uma passarela repleta de conceito, técnica e união do mais interessante entre duas visões criativas, sem sobrepor uma à outra.
O jeito Chanel de fazer
Diretamente do Grand Palais Éphémère, a Chanel apostou na estética do balé para trazer o misto de delicadeza, fluidez e frescor ao centro de seu trabalho. A meia-calça branca foi a protagonista, e a paleta de cores flertava com tons de rosa do início ao fim. O tule apareceu nas peças, mas não só nelas: as paredes da locação ganharam um toque a mais de estilo através do tecido.
“Eu penso muitas vezes em dança, é um tema importante na Chanel. Tentei reunir o poder e a delicadeza dos corpos e roupas numa coleção muito etérea, composta por tule, ruffles, pregas e rendas”, disse a diretora criativa Virginie Viard.
Chamaram atenção bodies, rendas, babados, pregas e até mesmo aviamentos. Estes últimos ganham uma cara nova, quase como joias da coleção. Os conjuntinhos, macacões e vestidos, além das calças cigarettes, dominaram o desfile, numa representação pura de encantamento.
Uma Dior pé no chão
Maria Grazia Chiuri retomou as formas arquitetônicas no verão 2024 da Dior. Ao longo das últimas coleções, a diretora tem dedicado uma parcela significativa das apresentações aos looks do dia a dia, como resultado do crescente interesse comercial por essas criações.
A alfaiataria em tonalidade bege deu start no desfile, e o monocromático permaneceu até a metade da coleção em saias e camisas. À medida que os primeiros trajes noturnos surgiram, aparece o moiré, um tecido originário da Ásia Central conhecido pelo brilho resultante de um meticuloso processo de polimento em pedra.
Em 1952, Christian Dior apresentou ao mundo o icônico vestido La Cigale, também confeccionado em moiré, resgatado. “A alta-costura é algo que vem de um trabalho contínuo e extremamente pessoal”, disse Maria Grazia. Com estas apresentações, nos resta concordar.