O mundo vive uma crise geral – ambiental, econômica, política e de valores. E a moda vem respondendo a isso. Sai de cena o consumo pelo consumo para entrar em foco o consumo consciente. O que causa desejo agora, além do design, é o que está por trás das peças. Marcas que visam não só o lucro mas adotam processos de criação que se preocupam com o impacto que podem gerar na sociedade têm sido valorizadas. “Os millennials, de importante poder de compra hoje, exigem transparência e valores não materiais por trás daquilo que consomem. Com isso, o sistema começa a repensar o ciclo de vida do produto, da obtenção da matéria-prima e as condições de trabalho de quem o faz até a forma como ele será devolvido à natureza”, diz o empresário André Carvalhal, autor de Moda com Propósito (ed. Paralela, 416 págs.) e idealizador da recém-lançada Alhma, que aposta em criações biodegradáveis e feitas com algodão certificado, entre outros pontos. O crescente uso do upcycling, nome dado à técnica de criar baseando-se em materiais já existentes, é mais um indício de que essa corrente se fortalece e até um prêmio com ares de tapete vermelho foi criado para incentivar tais práticas: em setembro, aconteceu, na Itália, a primeira edição do Green Carpet Fashion Awards (Fendi, Valentino e Gucci estão entre os competidores). O melhor? Esse movimento não depende somente de as marcas se engajarem (veja mais algumas abaixo).
Roupas com causa
A estilista britânica Stella McCartney é uma conhecida porta-voz da causa, mas não a única. Nos Estados Unidos, marcas como Reformation, cujas fábricas usam energia eólica, e Edun, com roupas feitas em parceria com comunidades africanas para movimentar a economia local, despontam. No Brasil, nomes dessa corrente são Osklen, que utiliza matérias-primas sustentáveis, e À la Garçonne, que renova peças vintage e cria novas com reúso de tecidos. Fernanda Yamamoto e Fabiana Milazzo também se destacaram com o upcycling nas últimas coleções.
Em números
O mundo consome 400% mais roupas do que 20 anos atrás
*dado divulgado no documentário The True Cost (2015)
175 mil toneladas de tecido são descartadas por ano no Brasil.
85% desse descarte não é reaproveitado e vai parar em aterros sanitários.
*Dados divulgados pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e pela SindiTêxtil-SP em 2012.