Quem gosta de moda certamente acompanhava o Victoria ‘s Secret Fashion Show. Era praticamente o Super Bowl do mundo fashion ou, no caso, falando de território nacional, a final do Campeonato Brasileiro de futebol. No entanto, com o passar dos anos, foi ficando claro o quão problemático era aquele desfile de mulheres magérrimas em lingeries caríssimas. Marcas mais inclusivas ganharam espaço (alô, Savage X Fenty) e a apresentação anual foi deixada de lado.
O desfile, que contava com artistas mundialmente famosos cantando enquanto as modelos desfilavam lingeries maravilhosas, foi um dos eventos mais aguardados da indústria da moda por várias décadas. O primeiro aconteceu em 1995 e tinha como principal objetivo promover Victoria’s Secret e suas coleções, e só terminou em 2019, quando a marca passou a ser cobrada pela falta de diversidade de suas Angels.
Neste ano, no entanto, o famoso fashion show está de volta com o título Victoria’s Secret The Tour 23 e a promessa de reinvenção. Mas, afinal, o que podemos esperar? Conversamos com Miguel Crispim, agente de modelos, e a modelo internacional Louyse, que contam o que deve ser diferente.
O rebranding da VS
O novo formato do desfile contará com 20 mulheres de diferentes partes do mundo. De acordo com a sinopse divulgada pela Prime Video, vamos acompanhar “uma experiência visual incomparável que celebra a missão da Victoria’s Secret – elevar e defender as mulheres – em escala global. Tour é uma celebração de mulheres e mentes criativas globais, olhando para a moda e a arte através de lentes cinematográficas”.
Miguel pontua que antes de toda a polêmica sobre falta de diversidade na Victoria’s Secret, a marca já havia feito alguns esforços para incluir diferentes tipos de modelos. Isso incluiu a presença de uma modelo grávida na passarela, a contratação de Barbara Palvin, que não se encaixava nos padrões tradicionais na época, e a inclusão de modelos de diferentes etnias. Não era, no entanto, o bastante.
Louyse, que já trabalhou para a marca, também defende que os últimos anos trouxeram mudanças. “A campanha que eu fiz parte já trouxe uma nova identidade para a marca neste sentido, dividi o set com a Paloma Elsesser, modelo plus size que trabalha com grandes nomes da moda internacional, e a Valentina Sampaio, a primeira modelo trans a compor o casting da Victoria’s Secret”, recorda.
A modelo compartilha que seu trabalho com a Victoria’s Secret foi uma experiência verdadeiramente gratificante. Ela estava lá representando a beleza das mulheres negras do seu país para uma marca de renome internacional com conexões de alto nível, como Naomi e Gisele. Isso marcou um momento significativo em sua carreira. “Além disso, percebe-se uma maior inclusão no seu casting, desde seu e-commerce até as últimas campanhas e, ao que tudo indica, no próprio desfile”, completa. Isso, no entanto, não é o bastante nos dias de hoje. “Por mais que existam avanços, ainda há mais coisas que podem, precisam e devem ser melhoradas. Estando diretamente inserida no mercado, sei bem todos os obstáculos que enfrentamos para que ele avance, quebrando certos paradigmas que não cabem mais nos dias de hoje.”
O retorno de grandes nomes do mundo da moda
Junto ao anúncio do desfile foi lançada a campanha Icon, que traz em seu casting memoráveis supermodelos. Teremos o comeback de grandes nomes da indústria: Gisele Bündchen, Adriana Lima, Naomi Campbell e Candice Swanepoel. “A volta da Gisele pode representar muito para a moda, que desde o final da pandemia teve uma mudança confusa. A diversidade é algo que já faz parte da indústria, mas algumas marcas deixaram de lado a qualidade ao selecionar modelos para reduzir custos nas produções de suas campanhas publicitárias”, acrescenta Miguel.
A diversidade para além dos corpos
Encontrar um equilíbrio entre a tradição da marca e a demanda por maior inclusão pode ser o caminho para o renascimento da Victoria’s Secret. A marca parece estar atenta às críticas sobre falta de inclusão e é notável que está buscando representar uma variedade mais ampla de modelos, o que pode envolver a representação de uma variedade mais ampla de tipos de corpo e rostos, além de maior espaço à mulheres de diferentes idades.
“A Gisele tem um corpo com medidas que são sim exigidas para a alta moda e isso é algo que não irá mudar, mesmo havendo a inclusão de diferentes corpos. Mas é importante lembrar que quando falamos de inclusão também falamos de uma mulher de 40 anos, e isso é uma grande quebra do ‘padrão‘”, opina Miguel.
Louyse toca no mesmo ponto, mas a partir de sua visão de modelo. “O retorno dos desfiles da VS associados a esses grandes nomes da moda é extremamente significativo. Principalmente para as mulheres que já passaram dos 40 anos. Antes, era praticamente impossível que a carreira de uma modelo durasse depois dos 30”, ressalta. .
As expectativas estão altas para o Victoria’s Secret The Tour 2023, que vai ao ar dia 26 de setembro no Prime Video. Só nos resta assistir para comprovar as mudanças.