Muito se fala sobre inclusão social na moda. Nos últimos anos, vimos etnias, gêneros e tamanhos de corpos plurais tomarem as passarelas. Enquanto algumas continuam em voga, outras vão se diluindo. Mas, em geral, ainda há uma categoria que segue ausente de ensaios e desfiles: pessoas com deficiência, as PcD.
Na edição de verão da Casa de Criadores, enfim, foi apresentada uma coleção inteira dedicada às pessoas com deficiência. O evento trouxe essa inclusão em uma collab com a Moda Inclusiva, com um desfile com um casting de modelos PcD e uma intérprete de libras acompanhando a passarela.
“O conceito da marca é a liberdade de uma pessoa PcD poder se vestir sem ajuda de ninguém. Há peças com argolas, velcro também para possibilitar a abertura e fechamento”, conta Marília Barbosa, modelista, estilista e costureira do Moda Inclusiva. Há roupas para todos os tipos de deficiência. “É uma coisa que ninguém para pra pensar e é impressionante a quantidade de pessoas que eu conheço com deficiência. Elas fazem tudo dentro de casa, estou sempre cercada”.
Marília trabalha com Daniela Auler, idealizadora do projeto Moda Inclusiva, e tem 35 anos de experiência na moda, ressignificando o conceito do retalho. Ela compõe peças finas, muito bem acabadas com restos de tecidos. Com um foco dedicado nos acabamentos, conforto e acessibilidade, ela trabalha estreitamente com Daniela, que traz uma perspectiva fundamental para o design das peças.
“As roupas precisam ter facilidades e, no caso dessa, [conta mostrando seu look] é uma roupa bonita. Porque tem umas peças horrorosas e acham que só porque é deficiente vai ter que usar aquilo. Eu não acho certo”, ressalta a modelo Nilda Martins de Souza.
Os designs contemplam uma variedade de ocasiões, desde roupas para o dia a dia até peças para a praia, abrangendo todas as formas de deficiências e incorporando detalhes como bolsinhas de colostomia que combinam com vestidos e outras peças.
“Eu já desfilei outras vezes, mas dessa vez é diferente. É a primeira vez que eu estou usando um vestido que é todo aberto. Ele tem um detalhe importante, pois eu uso sonda e tem uma bolsinha combinando com o vestido, que dá liberdade pra outras pessoas com essa deficiência”, conta Cleusa Rodrigues, que também desfilou pela marca.
“Pode usar um vestido curto, porque eu mesma só usava os longo e calças pantalona para esconder a bolsinha de colostomia, e hoje eu vi que a gente não precisa esconder. Eu me libertei disso, vou usar mini saia agora com a bolsinha combinando com a minha roupa, eu amei”.
O projeto não é apenas uma coleção de roupas – representa, também, uma voz para a comunidade de pessoas com deficiência na indústria da moda. “Precisamos ter mais espaço para que possamos mostrar que também estamos na sociedade. Sempre que tiver eventos de moda, tem que colocar os PcD também. Nós PCDs, temos que vir mostrar que estamos aqui para quebrar o tabus. Tem uma frase muito bonita que eu ouvi que é: não falem de nós sem nós, nós temos que estar presentes”, pontua Ana Maria Noberto da Silva, também parte do casting do desfile.
A Casa de Criadores acontece no Centro Cultural de São Paulo até domingo, dia 10 de dezembro. Além de um espaço para moda, há também shows e oficinas abertas ao público.
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