São Paulo amanheceu cinza e chuviscando na terça-feira (13) e o desfile da Misci foi marcado pela identidade latino-americana e muitos guarda-chuvas. Airon Martin, diretor criativo e fundador da marca, apresentou a coleção Valor Latino, que traz em seu DNA a valorização da América Latina por meio de críticas.
Airon tece provocações com suas peças, usando de estamparias, texturas e tecidos nobres que remetem a nossa cultura de uma maneira muito bem pensada. Ele mesmo fala e reflete sobre como a moda tem peso social e político. Essa abordagem nos faz pensar em valor e que o dinheiro não é capaz de precificar tudo.
“A coleção da Misci começa falando de Brasil e expande a sua fala. Hoje a gente contextualiza o Brasil na América Latina e tem muito tem muito brasileiro que não se entende como latino-americano porque a gente tem uma referência muito mais forte da América do Norte, principalmente em relação ao consumo que é um problema, né? Como o brasileiro consome produto e moda é muito errado, também por culpa das influenciadoras que são culpadas de todo esse mercado. Enfim uma é bola de neve”, conta Airon à CLAUDIA.
Entre os tecidos, temos muito jacquard, seda, cetim, chiffon, algodão e o couro, que apesar de ser de origem animal possui rastreado e vem de práticas alinhadas com a proteção animal. As cores que predominam são pretos, tons de marrom, verde, azul e rosa.
“A ideia é mostrar com profundidade mesmo, a gente trabalha como um designer de carro. Eles fazem facelift no carro e não mudanças bruscas. Na coleção, você vê sempre uma evolução das anteriores”, conta o estilista.
As estampas trazem elementos típicos latino-americanos. Nas cores há também alerta, como o uso do jacquard em cor única, que representa as zonas de desmatamento no Brasil.
“O Brasil foi todo saqueado e isso acontece desde a exploração do pau-brasil que era para tingimento de tecido na Europa. Essa exploração começa sobre o signo da moda, que é o mais mais louco, olha como a moda tem uma importância social também”, explica o designer.
Entre os 44 looks apresentados, a Misci mostra seu status no mercado de luxo, para além dos tecidos nobres e identidade da marca. O carro-chefe da grife nesta coleção foram as alfaiatarias, sempre em tecidos nobres, com recortes, drapeados e transparência. Vestidos e camisas com toucas e acessórios statement também se destacaram. A direção criativa de Airon Martin explora peças estruturadas e fluídas, com shapes assimétricos e oversized.
“Eu recebo muitas crítica sobre o valor do meu produto que é caro, mas o que que é caro? Eu não estou falando sobre preço, mas sobre o valor latino, que não é sobre o preço é sobre o produto. Tem todo um treinamento absurdo de costureiras para que a gente consiga produzir e entregar itens que são equivalentes com qualquer outra marca gringa que custa 20% do valor. E mesmo assim o brasileiro não entende e não reconhece que o Brasil pode fazer luxo contemporâneo. É como se o Brasil fosse proibido de ser rico e de mostrar riqueza, sabe? Neste caminho, a cada dia vou fazendo coisas melhores, com valores maiores e processos ainda mais profundos”, finaliza Airon.
O desfile foi encerrado como um manifesto, como todos os modelos alinhados e notas de dinheiro caindo sobre eles. Frisando, da melhor forma possível, o valor latino-americano.