Você pode até não gostar deles, mas não dá para negar o impacto do Crocs na moda. Completando 20 anos desde seu lançamento, o famoso “tamanco de borracha” chegou às passarelas de meio mundo e tem calçado celebridades diversas, de Justin Bieber a Nicki Minaj. E, mesmo no hype do mercado de luxo e dos famosos, esse sapato continua popular, no sentido mais amplo da palavra: este ano, ele foi o item mais vendido na categoria de roupas, sapatos e joias da Amazon. O que explica tanto êxito para um acessório, digamos, polêmico? “A moda está com peças mais amplas, mais despojadas e coloridas. Tudo isso combina com Crocs”, explica a consultora de moda e estilo Camile Stefano a CLAUDIA. Segundo ela, a tendência dopamine dressing, que veio com tudo no pós-pandemia, tem tudo a ver com eles. “A dopamina é a responsável por nos trazer a sensação de felicidade, algo que, de acordo com diversos estudos, tem a ver com o poder das cores. Além de ter diversas opções de tons, os Crocs trazem a possibilidade de acrescentar pins variados, o que deixa a peça ainda mais lúdica e alegre”, acrescenta.
Com o slogan “conforto que traz felicidade”, os Crocs foram criados em 2002 como um sapato para ser usado em embarcações. Já naquela época, o modelo atrai um público muito mais amplo do que o inicial e esgotou nas lojas. Isso fez com que os desenvolvedores percebem que o croslite, um tipo inovador de espuma de EVA moldada por injeção, que se ajusta ao formato do pé do usuário, trazendo, inclusive, benefícios médicos, tinha mais potencial do que eles imaginavam. Esse material prático e confortável garantiu o sucesso e a versatilidade do tamanco que hoje é tendência.
“Eles inovaram ao mudar o conceito de conforto. Além dos inegáveis benefícios anatômicos, é um sapato divertido que pode ser personalizado com diferentes acessórios, tornando cada par único. Não há regra para usá-los. É possível colocar pingentes que te representam e que façam sentido com o seu estilo de vida”, comenta Camile. É claro que esse sucesso não é unânime e há quem ainda o considere simplesmente um sapato feio. Isso não impediu, no entanto, que os Crocs chegassem às passarelas de alta costura, o que começou em 2016, com Christopher Kane, na Semana de Moda de Londres. Na sua coleção de primavera, o designer combinou tecidos delicados, como renda e seda, com pares de Crocs cheios de pins. A Balenciaga somou-se à tendência no ano seguinte, com uma versão plataforma desses sapatos.
“Normalmente, as tendências aparecem de forma exagerada nas passarelas, até mesmo como forma de trazer atenção para algum item. A presença dos Crocs nas semanas de moda fez aumentar o desejo de consumo por sapatos que, inicialmente, o grande público não queria usar. É mais um exemplo de como as marcas ainda exercem um grande poder de influência”, diz Camile. Ela não descarta, no entanto, que o modelo volte a figurar em breve no rol dos ugly shoes (como aconteceu com as botas Ugg, rainhas dos sapatos feios dos anos 2000). “Apesar da busca ter aumentado, ainda existe muita resistência. Então, se você quiser usar, acho que vale investir nos modelos mais simples, de menor valor”, aconselha.
Para quem quer criar looks mais sérios, para o trabalho, por exemplo, Camile indica Crocs em cores sóbrias, como preto, branco e off-white. Ao combinar com peças formais em couro ou alfaiataria, eles também podem ser uma ótima opção de look high-low para um cinema ou um barzinho à noite. “Eu realmente recomendo deixá-lo para os momentos de lazer e pensar em opções mais adequadas para ambientes profissionais”, finaliza a consultora. E aí, você topa sustentar essa estética?