A alta-costura, ou haute couture, em francês, é a denominação da indústria da moda para peças artesanais e de altíssima qualidade. Podemos dizer que é o auge de qualquer coleção e extremamente único. É tão exclusivo que sequer existe no Brasil, só é possível encontrar os itens exclusivos na França, com encomendas sob medida. Não à toa que a Semana de Alta-Costura acontece apenas em Paris.
A origem vem da Maison Worth, fundada por Charles Frederick Worth em 1858, explica Carol Garcia, pesquisadora e consultora de moda do Bureau de Estilo. “Worth foi o primeiro estilista a ganhar reconhecimento internacional, ser considerado um verdadeiro ‘criador de moda’ e a assinar suas roupas.”
O designer revolucionou o mercado: ele criou parte dos conceitos de moda que temos até hoje, como a apresentação das coleções duas vezes ao ano, de primavera/verão e outono/inverno, e a utilizava modelos vivos para mostrar as criações.
“Antes do Worth, as roupas da aristocracia já eram feitas sob medida, tinham máxima qualidade e eram feitas artesanalmente, ou seja, de certa maneira, já eram roupas de Alta-Costura. O que realmente mudou foram as novidades propostas por Worth, em especial, a sazonalidade e a roupa assinada”, completa Carol Garcia.
Charles Frederick Worth abriu as portas para que outras maisons surgissem em Paris, usando sua visão de mercado. “O termo ‘alta-costura’ começou a ser usado para descrever os estilistas e suas criações exclusivas. Em 1868, a Chambre Syndicale de la Haute Couture Parisienne (hoje intitulada Fédération de la Haute Couture et de la Mode), órgão regulador da alta-costura, foi fundada para proteger e promover os interesses dessas casas de moda – e da França”, explica a especialista.
Mas, afinal, o que é alta-costura?
Peças de alta-costura são artesanais, exclusivas e com materiais de altíssima qualidade. Existem grifes que criam e produzem itens que se adequam a essa descrição, mas roupas de luxo não são necessariamente a mesma coisa.
“Existe uma confusão entre marca de alto luxo e alta-costura. Para uma marca de moda ser considerada como tal, ela precisa seguir diretrizes rigorosas estabelecidas pela Chambre Syndicale de la Haute Couture Parisienne“, explica Carol Garcia. Pouca coisa mudou desde a criação do órgão regulador, citado anteriormente.
Entre os critérios que precisam ser seguidos, tanto para usar o termo como também para ser considerada uma maison, temos: design personalizado e produção sob medida. “As peças de alta-costura devem ser feitas para cada cliente individualmente, com ajustes e detalhes precisos que se adequem perfeitamente ao corpo de quem encomendou”, pontua a consultora e pesquisadora.
A marca também precisa ter um ateliê em Paris para a criação e produção de tais peças. “A cidade é considerada o centro da alta-costura porque é onde a tradição e a excelência da moda de luxo estão concentradas”, aponta ela, que ainda reforça: “apresentar um número mínimo de peças em cada coleção, tanto de dia quanto de noite”, continua. Essa quantidade pode variar de acordo com cada temporada.
“As maisons devem ter uma equipe altamente qualificada, incluindo costureiros, bordadeiros, modelistas e outros artesãos especializados, capazes de manufaturar as peças de alta qualidade com habilidades excepcionais.” As casas de moda também devem apresentar pelo menos duas coleções por ano, seguindo o calendário do órgão regulador da indústria.
Acha pouco? Pois ainda tem mais. Existe o atendimento a critérios específicos e adicionais, como empregar um número mínimo de funcionários e ter uma carta de clientes internacionais.
Porque a ligação com a França?
Paris é o epicentro da moda – e há bons motivos para isso. Carol Garcia explica que foi tudo uma grande estratégia de sucesso. “A França usou a produção de vinho, queijos e a alta-costura como forma de criar uma identidade nacional forte. Essa abordagem tem como objetivo promover a reputação e a excelência dos produtos franceses, além de impulsionar a economia e o turismo do país. Do mesmo jeito que uma marca não pode ser considerada de alta-costura se não for sediada em Paris, um vinho espumante só é uma champanhe se tiver sido fabricado na província de Champanhe, na França”, exemplifica.
Apesar disso, nem todas as maisons são francesas. Como citamos acima, é possível uma grife que não tenha nascido na França fazer parte deste seleto grupo. Versace, Fendi, Armani, Valentino e Schiaparelli são exemplos de casas de moda italianas que possuem ateliês em Paris. Temos exemplos de outros países também, como a marca de Zuhair Murad e Elie Saab, ambas do Líbano.
Vamos à lista para não confundir? Então vamos: Chanel, Dior, Schiaparelli, Maison Margiela, Valentino, Givenchy, Atelier Versace, Elie Saab, Bouchra Jarrar, Jean Paul Gaultier, Fendi, Giorgio Armani Privé, Alexis Mabille, Alexandre Vauthier, Giambattista Valli, Ralph & Russo, Franck Sorbier, Iris Van Herpen, Zuhair Murad e mais.
Qual o preço de um item de alta-costura?
Considerando todos os fatores comentados acima, é de se imaginar que o investimento para adquirir algo tão exclusivo seja bem significativo. “Estima-se que cerca de quatro mil pessoas tenham acesso e consomem esse tipo de moda. Isso significa que a alta-costura não é lucrativa para as maisons“, conta Carol.
“Um vestido de alta-costura não custa menos que 100.000 dólares, mas o preço já atingiu 800 mil dólares, como os black-tie de Yves Saint Laurent ou as peças da coleção Madame Butterfly, do estilista John Galliano para a Dior, em 2007″, completa.
A alta-costura desempenha um papel ilustre quando falamos de criação e sustentação da imagem de uma maison. As coleções são apresentadas em desfiles primorosos, recheados de famosos, o que resulta em muita exposição. Isso gera um interesse em outras segmentações “mais acessíveis” das grifes: perfumes, maquiagens, acessórios e as coleções em prêt-à-porter. Afinal, é tudo sobre prestígio, o que contribui para a rentabilidade das grifes.