Existe vida sem celular pós século XXI? Filas quilométricas, engarrafamento de horas e emoções negativas são problemas rapidamente esquecidos com a chegada dos smartphones. O uso excessivo da internet, no entanto, tem impactos já conhecidos pela ciência, que alcançam desde a saúde mental até o convívio em sociedade. É nesse contexto que surge o minimalismo digital, um movimento que prega pelo uso dos celulares e da internet de maneira consciente.
A dependência da internet é caracterizada pela falta de prazer em realizar atividades que não a requerem. Ela conduz os usuários a uma sensação constante de pressa, imediatismo e, em alguns casos, favorece a ansiedade e depressão, por conta das demandas urgentes e numerosas, de acordo com a psicóloga Izabella Arantes.
As consequências se diferem de acordo com os grupos da sociedade. Na primeira infância, por exemplo, o desenvolvimento cognitivo e as habilidades psicomotoras sofrem impactos negativos. Por outro lado, 26% dos adolescentes do sexo feminino que usam redes de três a cinco horas preenchem critérios de depressão, segundo estudo publicado pela EClinicalMedicine. Neste último caso, as vias potenciais, de acordo com a pesquisa, são o sono insatisfatório e a exposição ao assédio online. Entre as garotas, há maior propensão à baixa autoestima, insatisfação com o peso corporal e infelicidade com a aparência.
Embora corpos correspondentes ao padrão de beleza, viagens internacionais e passeios caros fujam da realidade da maioria dos brasileiros, são constantemente apresentados nas redes sociais, o que causa danos à saúde mental de parcela dos usuários. “Há pessoas que se sentem motivadas quando se percebem em algum tipo de competição. No entanto, para muitas outras, a comparação é bastante nociva porque desperta sentimentos de inferioridade e desvalorização”, sugere a especialista.
A avaliação individual sobre a comparação gerar ou não uma espiral de competição, ansiedade e rivalidade é necessária, de acordo com ela, para acender o alerta e controlar esse tipo de consumo de informação. “Mas se você fica motivado a praticar atividade física ao observar, por exemplo, atletas divulgando seus treinos nas redes sociais, sem autodepreciação ou desqualificação, talvez seja estimulante”. O importante é se avaliar, segundo Izabella.
Minimalismo digital: uma saída
Na busca pela solução do problema, um movimento voltado para consumo suficiente e consciente do uso de tecnologia surgiu. O minimalismo digital, termo cunhado por um professor da Universidade de Georgetown, não pretende dar fim à internet. Na verdade, compreende sua importância e capacidade de facilitar afazeres do dia a dia, mas deseja acabar com o uso exagerado.
“A diminuição do uso da internet pode ser benéfica por incentivar a buscar outras atividades que estimulem sua atenção, concentração, movimentação e interação social”, afirma Izabella, que exemplifica como tornar isso possível: substituir o consumo de apenas um post resumido sobre um livro pela leitura de um exemplar; ir encontrar amigos ao invés de se ater somente às redes.
O abandono do uso insistente, entretanto, não dá respostas positivas suficientes quando o indivíduo não usa o tempo excedente para outras atividades. “O descanso é essencial para o cérebro humano, mas não se pode confundir a completa inatividade com ele.”
E completa: “o cérebro precisa de estímulos. A diminuição do uso da internet traz benefícios reais se vier acompanhada da adição de atividades para o seu cotidiano, por exemplo: leitura, aprendizado de algo novo, lazer e prática de exercícios físicos.”
Como diminuir uso
Tarefas simples adotadas no cotidiano são capazes de reduzir drasticamente a quantidade de tempo que você passa no celular. Algumas dicas são: proibir smartphones na cama; limitar as notificações do celular para somente o necessário; baixar aplicativos que bloqueiam uso de determinados aplicativos depois de certo período; limpar a caixa de entrada de e-mails; reservar um horário para verificar e responder e-mails. Essas medidas podem ser o início de uma vida mais equilibrada e saudável.
Se as redes sociais são o problema, vale usar as ferramentas internas que te mostram quanto tempo você está passando dentro delas, e ligar alertas ou ativar apps de bloqueio das mesmas em períodos determinados.