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Love Noronha: conheça o festival que une cultura LGBTQ+ e sustentabilidade

Filiado ao International Gay and Lesbian Travel Association, o festival vem reinventando (e fortalecendo) o turismo LGBTQIA+ em território nacional

Por Kalel Adolfo
12 ago 2023, 08h04
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  • Celebração da cultura LGBTQIA+, turismo sustentável, gastronomia e muita música eletrônica: essa é a proposta do “Love Noronha”, festival criado em 2012 que vem se tornando um dos eventos mais queridos pela população queer do país. E não é para menos: a combinação entre prazer e conscientização social promovida pela festa é extremamente orgânica e inovadora.

    Inclusive, quem está por trás deste conceito é a psicóloga e produtora cultural Maria do Céu, pernambucana que, há mais de duas décadas, atua como empreendedora e ativista LGBT (chegando a fundar, em 2009, o Instituto Boa Vista, ONG que desenvolve projetos de cidadania para a comunidade homo e trans).

    Em entrevista à CLAUDIA, Maria detalha o surgimento do ‘Love Noronha’, além de explicar os impactos positivos que o evento vem proporcionando e o que o público pode esperar da próxima edição. Confira:

    A criação do Love Noronha

    Durante o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia [17 de maio], Maria do Céu recepcionava um evento do consulado americano em sua casa noturna localizada em Recife [a ‘Metrópole’, referência entre a comunidade LGBT nordestina]. Lá, a produtora conta que, durante uma conversa casual, acabou ouvindo uma sugestão inusitada da jornalista Ana Clara Marinho. “No meio de um coquetel, ela disse: ‘Por que você não organiza um evento em Fernando de Noronha?’. Eu já havia percebido a existência de um público flutuante na ilha, que adoraria curtir as praias durante o dia e se jogar numa boa balada à noite. E como eu amo esse local — o considero um santuário que merece ser visitado, conhecido, cuidado e amado por todos —, decidi levar a ideia adiante”, relembra.

    Então, em 2012, surgiu o primeiro esboço do que viria a se tornar o ‘Love’. “Fiz uma parceria com a agência ‘Tuca Noronha’ nessa primeira edição, e nós começamos a montar os pacotes. Mas como estávamos no nordeste, eu sabia que não teríamos o mesmo poder de mídia presente no sul e centro-oeste. Simplesmente não temos esse acesso”, explica.

    Porém, contrariando todas as expectativas, turistas das mais diferentes regiões do Brasil compareceram para a edição de estreia. “Fiquei tão feliz! Naquele momento, conseguimos ter um ótimo indicativo do impacto que estávamos prestes a causar”, conta.

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    No ano seguinte, ao retornar à Noronha, Maria do Céu foi surpreendida no momento em que desceu as escadas do avião: “De repente, o rapaz que fica na pista do aeroporto me perguntou quando eu daria outra festa daquela. E no mesmo dia, um taxista também realizou esse questionamento. As pessoas passaram a cobrar.”

    Consciente do enorme sucesso que tinha em suas mãos, a empreendedora logo procurou a secretaria de turismo do Estado para identificar maneiras de promover o projeto: “Passamos a chamar jornalistas, veículos de comunicação e por aí vai. Foi quando realmente comecei a produzir o ‘Love Noronha’ e, até hoje, tenho um enorme carinho e gratidão pela ilha e pelas parcerias que concretizamos.”

    Sustentabilidade no Love Noronha

    Uma das colaborações mais importantes do ‘Love’ ocorre com o Instituto Chico Mendes, órgão responsável pela preservação da biodiversidade. Além disso, a usina de reciclagem da ilha também é um parceiro fixo do evento, reaproveitando todos os descartes dos quatro dias de agito. Aliás, vale lembrar que, em 2022, o festival, em parceria com o ICMBio, realizou a limpeza do lixo oceânico na praia da Atalaia.

    Sustentabilidade no Love Noronha.
    Ação do Love Noronha em parceria com o ICMBio para a limpeza do lixo oceânico na Praia da Atalaia. (Alan Rodrigues/Divulgação)
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    A importância da educação ambiental no arquipélago é levada bastante a sério — na edição de 2023, que começa em 24/08, algumas palestras irão anteceder a diversão. “Contaremos com a presença do José Martins, coordenador do Projeto Golfinho Rotador. Ele irá falar sobre a sexualidade destes animais e, aproveitando que estaremos na semana do golfinhos rotadores, também abordará o turismo sustentável”, revela.

    Outros palestrantes que estarão presentes incluem Toni Reis, diretor-presidente da organização brasileira LGBTQIA+ Aliança Nacional, que trará o tema ‘Turismo LGBT também é um direito’. Dani Aguiar, da Secretaria de Turismo de Pernambuco, falará sobre destinos alternativos à Noronha, a fim de ampliar o turismo na região. Aliás, os participantes do festival serão recepcionados no aeroporto com materiais de educação ecológica e regras da ilha.

    Gastronomia

    E para além das causas sociais e ambientais, Maria se orgulha bastante dos aspectos gastronômicos do evento: “O Zé Maria, da Pousada Zé Maria, é um apoiador até hoje. Criamos um circuito gastronômico fenomenal. Você come da tapioquinha aos cardápios de grandes chefs”, pontua.

    Edição de 2023

    Se em edições anteriores o Love Noronha contou com a presença de artistas como Pabllo Vittar e Romero Ferro, este ano a atração principal é a DJ tribal Anne Louise, que tocará no Forte dos Remédios. “Gosto de surpreender as pessoas que vão. Selecionamos os artistas de acordo com a temática de cada ano. Mas eu garanto: a festa é tão boa, que mesmo não gostando de um gênero específico, você será envolvido. Tudo está relacionado ao clima e a magia. DJ é aquela pessoa que nos faz sentir que temos um coração. É uma experiência completa. A única reclamação que recebo é o ‘Love’ não durar mais dias”, brinca.

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    E, falando em experiência, a produtora garante que a conexão com a natureza está entre os destaques da ocasião: “A noite nós deitamos na areia da praia, observamos aquele céu estrelado. Durante o dia, mergulhamos com tartarugas, avistamos golfinhos. Tudo é pensado para tirar o visitante daquele estado de ansiedade.”

    Paisagem de Fernando de Noronha.
    A beleza de Fernando de Noronha é a grande protagonista do festival queer. (Alan Rodrigues/Divulgação)

    Festival é um ato de resistência

    Especialmente por ser psicóloga e sexóloga, Maria do Céu afirma que presenciou muitas pessoas LGBT sentindo culpa e vergonha de serem quem são: “Já tive conhecidos com pensamentos suicidas por não serem aceitos em casa. Por isso, este evento também é um porto seguro. Começamos a fazer esse movimento, e hoje, estamos imensos no Brasil – inclusive em Noronha. E o que considero mais importante: a ilha vem recebendo muitos casais queer, pois estamos de braços abertos para a comunidade. ‘Love Noronha’ é sobre estar de mãos dadas, beijando e expressando o amor de quaisquer maneiras”, declara.

    Ela conclui dizendo que, sem sombra de dúvidas, o festival ajudou a inserir muitas mulheres trans no mercado local: “Hoje elas estão realizando casamentos coletivos, trabalhando em pousadas, onde quiserem. Não víamos isso antes, e hoje, vemos bastante. Esse é o resultado de uma longa construção e me dá muito orgulho.”

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    Ingressos Love Noronha

    Para conferir a programação completa do festival, que acontece entre 24 e 27/8 em Fernando de Noronha, basta acessar o site oficial. Os últimos ingressos estão disponíveis a partir de R$ 750,00 — veja os preços:

    Atrações principais

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