Dizem que a cada espaguete quebrado antes de ir à panela “morre um italiano”. Imagine então se afirmarmos que o carbonara não nasceu na Itália? Ou mais, que as pizzarias são uma invenção americana e que o verdadeiro queijo parmesão só existe nos Estados Unidos, mais precisamente em Wisconsin?
O que parece heresia, na verdade, é fruto de uma longa pesquisa feita pelo historiador Alberto Grandi, italiano nascido em Mântua. Esse estudo provocativo, mas também bastante bem-humorado, sobre as invenções, mentiras, histórias e verdades responsáveis por criar uma tradição culinária, são apresentados pelo autor em As Mentiras da Nonna – Como o marketing inventou a cozinha italiana (R$ 79,90), obra recém-lançada no Brasil pela Editora Todavia.
Polêmico, o livro causou alvoroço entre os italianos e os apegados às tradições gastronômicas do país – Grandi chegou a ser chamado de “traidor” nas redes sociais. Entretanto, basta a leitura de algumas páginas para ser tomado por uma curiosidade latente e pelo desejo de embarcar em sua análise.
Para provar seu ponto, o autor mergulha em dados sobre a imigração italiana – mais precisamente no Brasil, Argentina e Estados Unidos – e defende que “a cozinha italiana nasceu na América tanto quanto na Itália”.
Segundo ele, na maioria dos casos, as histórias dos produtos típicos são resultado de transformações muito mais recentes, e quase todos foram “inventados” entre os anos 1970 e 1990.
Jackie Hatys e o convite para a ilustração de capa
Além da corajosa proposta, outro ponto de destaque é a ilustração de capa da publicação nacional. Concebida pela paulistana Jackie Hatys, a imagem representa uma característica muito presente em suas obras: os alimentos.
“Gosto muito de ilustrar não apenas a comida, mas os momentos que ela proporciona, como jantares entre amigos, café da manhã com os filhos”, diz. O convite para ilustrar a obra de Grandi foi aceito com satisfação, já que a paixão pelo disruptivo fez a artista criar afeição pela pesquisa do autor.
“Admiro a maneira como ele propôs sua pesquisa meticulosa e impecável, desvendando mitos e sendo informativo, mas com história e humor.”
Para a confecção da capa, Jackie trabalhou em conjunto com Violaine Cadinot, responsável pelo design gráfico, resultando numa ilustração mais direta. Por fim, fica aqui o questionamento: será que toda “receita da nonna” seria uma grande invenção do marketing?
Como a vida seria muito deprimente a partir dessa realidade, vamos nos dar ao direito de concordar com Jackie Hatys: “Como boa defensora da liberdade poética, convido a quem não quer acreditar que a Nutella seja mais italiana que o carbonara, a continuar romantizando o que antes acreditávamos como certo. Julgo que a memória afetiva do que minha avó contou também há de ser respeitada”.
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