Poesia e intervenção artística. É com essas ferramentas que Angel Aguiar, escritora e multiartista de 23 anos, luta pelos direitos das travestis e mulheres pretas do Brasil
Exemplo disso é o livro Dama de Paus, primeira e única obra literária da escritora, lançada em maio de 2023 pelo selo Aula Viva.
“Comecei a trabalhar nesse projeto há sete anos, quando decidi contar histórias sobre a minha travestilidade [termo de origem francesa que simboliza o processo de construção do feminino]”, comentou a escritora nascida no bairro do Jardim Ângela, extremo sul de São Paulo.
“Essas vivências retratam um período em que eu estava definindo limites e dizendo para as pessoas: ‘Olha, eu sou uma travesti, e eu quero que você respeite a minha mulheridade [reprodução de comportamentos tidos como femininos, de acordo com a comunidade queer]’”, diz.
O resultado é um compilado de “poesias que tocam em assuntos como autocuidado, manutenção de acolhimento e afeto, decolonização mental e povos originários e traficados”, descreve.
Em paralelo à escrita transformadora de Angel, está o projeto “De Marias Por Marias”. Nele, a artista ocupa espaços públicos e ONGs recitando suas poesias e provocando reflexões acerca das estruturas socioculturais que marginalizam as minorias.
“As pessoas me perguntam: ‘Quem são essas Marias?’. Essas Marias são as mães pretas, as mães solo abandonadas pelos maridos dentro das comunidades, mas também as figuras relacionadas à minha religiosidade”, afirma.
Aqui, a poeta diz estar se referindo às pombagiras, guias espirituais de religiões afro-brasileiras. Inclusive, em Ebó de Trava, poesia presente em seu livro de estreia, Angel homenageia Maria Mulambo, entidade que rege a sua vida.
“Olha essa trava é feiticeira, ela vai te enfeitiçar!
Olha essa trava é sorrateira, ela vai te superar!
E se não vai cuidar da trava, Maria Mulambo vai cuidar!”.
Nesse trecho, Angel se refere às pessoas que não se importam em machucá-la diariamente. “Maria Mulambo me auxilia a colocar o lixo para fora. Ela trabalha no âmbito da cura dos sentimentos”, explica.
O propósito de expor todas essas experiências, segundo Angel, é honrar tanto a sua ancestralidade quanto abrir caminhos: “Quero fazer com que você sinta um pouco do meu sofrimento não para lhe causar dor, mas sim, te instigar a ser um aliado nessa luta”.
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