Premiada pela Nasa, jovem quer ajudar a humanidade a entender o universo
Inspirada por Stephen Hawking, Katarine, com apenas 19 anos, é apaixonada por astronomia e quer desenvolver um projeto aeroespacial para o Brasil
No começo do ano, Katarine Emanuela Klitzke realizou um de seus sonhos: foi premiada pela Nasa ao criar um projeto de missão aeroespacial para Marte. As ideias e tecnologias pensadas por ela e por sua equipe agradaram tanto a agência norte-americana que serão, de fato, aplicadas em uma missão para a Lua, em 2024.
Quem lê, pensa que estamos falando de uma profissional já experiente. Trata-se, na realidade, de uma jovem de 19 anos que está prestes a iniciar o seu segundo ano de suas três graduações – Engenharia da Computação, Astrofísica e Inteligência Artificial – na Georgia Institute of Technology, nos Estados Unidos. O seu projeto, premiado pela Nasa, foi um trabalho feito em conjunto com mais seis colegas da faculdade. E ela está apenas começando.
Katarine nasceu em Timbó, uma cidade pequena do interior de Santa Catarina. Sua paixão por astronomia começou muito cedo, ainda no segundo ano do ensino fundamental. Durante uma festa do pijama no colégio, tradição anual, um professor levou um telescópio e ela pode, pela primeira vez, ver as estrelas “de perto”. Para sua surpresa, elas não eram brancas, como vemos à olho nu. Elas tinham várias cores, como azul, vermelho e amarelo.
Alguns anos depois, como escoteira, sentou-se ao redor de uma fogueira durante um acampamento e olhou para o céu. Ou melhor, o céu olhou para ela, como contou durante videochamada com CLAUDIA. E assim, tomou uma decisão: ela trabalharia para a Nasa quando crescesse.
“Sempre que eu olho para o céu, eu lembro de algum bom momento que eu tive como escoteira ou com a minha família, então foram coisas muito importantes para eu decidir que eu queria trabalhar com o espaço”, revela.
A jovem das olimpíadas científicas
Seu interesse pelo espaço se aperfeiçoou com as olimpíadas científicas, das quais começou a participar ainda no ensino fundamental, cursado em uma escola pública de sua região. No 6º ano, participou da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). “Lá, eu tive muitas oportunidades de enxergar um mundo diferente, conhecer pessoas com outros olhares, outras perspectivas e isso nos modela”, conta.
No final do ensino fundamental, um pouco antes de entrar no Ensino Médio, considerou cursar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), se formar como militar e depois trabalhar com o desenvolvimento aeroespacial brasileiro. Quando avançou de grau, participou de mais algumas olimpíadas, como a de astronomia, física, química e de matemática. E foi através de um olheiro que Katarine foi convidada para estudar, com uma bolsa integral, em um colégio particular em Fortaleza. Aos 15 anos, precisou largar tudo o que conhecia para começar a trilhar seu caminho.
“Em um mês, eu tive que dizer ‘tchau’ para tudo o que eu construí naquele lugar, toda minha família, todos meus amigos. Foi uma decisão muito difícil, mas que eu tive que tomar por sempre buscar a excelência, buscar estar entre os melhores, ter as melhores oportunidades, e ir atrás do que eu quero”, conta, decidida e orgulhosa.
Trilhando o caminho fora do Brasil – Projeto Líderes Estudar
Durante o Ensino Médio em Fortaleza, Katarine teve sua primeira oportunidade fora do Brasil. Participou da Olimpíada Internacional de Astronomia e Astronáutica, no Paraguai, de onde saiu medalhista de ouro. E, assim, começou a repensar seu futuro.
“Meu foco era o ITA por muitos anos, mas depois eu pensei: ‘por que não estar entre os melhores no Brasil, mas também internacionalmente?’ E foi aí que eu pensei em estudar nas melhores universidades do mundo”, relembra.
Katarine foi, após participar de um longo processo seletivo, selecionada como uma das bolsistas do Projeto Líderes Estudar da Fundação Estudar e conseguiu uma vaga para estudar na Georgia Tech, além de receber mentoria e treinamento de liderança. “Nós queremos formar uma futura geração de líderes mais competentes, éticos e comprometidos com o Brasil”, explica Anamaíra Spaggiari, diretora-executiva da Fundação Estudar, que seleciona e capacita jovens com talentos excepcionais no Brasil há 29 anos.
“Todos os nossos projetos trabalham para identificar talentos e potencializá-los referente a valores e competências que acreditamos ser importantes para liderança. E quando falamos isso, trata-se de uma liderança transformadora, que quer de fato contribuir positivamente para o Brasil, não importa em que carreira cada um vai seguir”, complementa Anamaíra. Uma dessas formas é justamente apoiando os estudantes que querem estudar fora do Braisl, como é o caso de Katarine.
“Queremos formar líderes a partir da educação. Nesse sentido, vemos que as melhores universidades do mundo estão fora do Brasil e nós incentivamos e mostramos para o brasileiro que é possível traçar esse conhecimento de ponta, mas que é muito importante ter uma relação e voltar para o Brasil e aplicar isso na prática”, finaliza.
E é justamente o que Katarine quer fazer. “Quero desenvolver meus projetos, adquirir conhecimentos e fazer descobertas para a humanidade nos próximos anos. Depois disso, eu vou voltar para o Brasil para melhorar nosso sistema aeroespacial brasileiro”, conta a jovem. “Nós temos uma localização muito privilegiada no Brasil, muitos recursos. Então, podemos melhorar e gerar oportunidades para jovens e cientistas no Brasil.”
Missão na Terra
Katarine acredita que tem uma missão na Terra. “Eu vim ajudar a humanidade a compreender melhor o universo”, afirma com convicção e brilho nos olhos. “O conhecimento que temos do universo é muito pequeno, quase nada. Então, imagina quantas coisas há por aí que não sabemos e que fazem parte da nossa vida?”, questiona.
Para cumprir com sua missão, a jovem tem seu caminho planejado. Depois da formação acadêmica, pretende continuar estudando até conseguir seu doutorado e entrar em uma agência espacial, como a Nasa. E ela já está começando sua primeira pesquisa própria em cosmologia computacional, estudando a segunda geração de buracos negros, inspirada no trabalho de Stephen Hawking, um de seus ídolos.
“Quando ele [Hawking] morreu, eu fiquei sem chão. Pensei ‘E agora? Quem é que vai dar continuidade ao trabalho e pesquisa do universo e dos buracos negros? E eu pensei ‘Por que não eu?’. Por que sempre pensamos em quem será o próximo cientista, mas não tomamos a atitude de sermos protagonistas e fazer a diferença?”, declara.
E, no protagonismo, ela inclui mulheres e jovens cientistas. “De uns anos para cá, tivemos muito mais a inserção de mulheres na ciência, pessoas que realmente fazem a diferença”, considera. “Eu acho isso muito bacana, porque quanto mais mulheres nós temos, mais meninas pensam ‘poxa, existe uma mulher que conseguiu, porque eu não consigo?’. É uma corrente”, finaliza.