“Ele era da mesma turma de amigos que eu e sempre se mostrou tão gentil. Aquele cavalheirismo foi me conquistando. Eu vinha de um casamento complicado, desfeito, e tinha uma filha de 5 anos. Foi inevitável eu me apaixonar por aquele homem. Ele sabia ser encantador quando era necessário e sei que me amou. Eu era uma mulher forte, independente, mais do que resolvida e isso era fascinante pra um homem como ele.
Foi um grande romance e ele veio morar comigo e com minha filha. A primeira coisa que eu falei foi: ‘Aqui nós somos feliz e nunca vou permitir que ninguém tire isso de nós’. Por um tempo, ficou tudo bem. Depois, ele começou a tentar me fazer sair do meu emprego. Dizia que eu devia ficar tranquila, cuidar da minha filha. Mas eu sabia que era o primeiro passo para tentar tirar a minha independência. Não concordei.
Um dia, ele vendeu meu carro e alegou que era pra me dar um novo. O homem da minha vida, gentil, cavalheiro. Eu era vendedora externa. Sem carro, acabou o trabalho. Engravidei e ele deixou claro que não queria, mas eu respondi que iria embora e cuidaria sozinha. Ele ficou. E foi quando começou a romaria da família dele na minha casa me chamando de vagabunda, oportunista, golpista. Começaram as agressões da parte dele também.
Ele jogava tênis todos os sábados e as esposas acompanhavam. Numa dessas idas, rasgou minha roupa na frente de todos os presentes. Eu, enorme de grávida, com a roupa toda rasgada. Senti vergonha, mas ele não, nunca. Em casa, eu reagia. Quando ele vinha me bater, eu revidava.
Quando a bebê nasceu, ele se virou contra ela. Ela chorava e ele gritava com ela, apagava as luzes e a deixava no escuro, batia as portas com força. Ela chorava mais, assustada, com medo. Eu corria para pegá-la. Com ela no meu colo, ele começava a tentar bater nela. Eu desviava e apanhava. Ele batia em mim, virada de costas tentando proteger a bebê. Eu não tinha como me defender.
Apanhei muito sem ter para onde ir, com uma bebê e uma filha de 9 anos. Não tinha carro ou emprego. Meu leite secou e eu não podia amamentar. Ele bebia.
Um dia, quando tudo começou de novo, chamei a polícia. O policial o levou, mas logo o delegado me ligou ordenando para sair de casa porque não poderia mantê-lo preso. Saí de madrugada e até hoje ele nunca soube onde eu e as meninas dormimos.
Dei um basta, fui batalhar a felicidade do meu lar novamente. Ser mãe e amar e proteger filhos sempre foi minha maior vocação. Depois de mais de 30 anos, talvez ele ainda seja o homem que represente o grande amor da minha vida. Mas amor nenhum é maior do que o meu amor de mãe. Desde pequena sonhava em ser mãe. Nunca mais me casei, criei minhas filhas sem nunca bater. Esse é meu legado para o mundo, as minhas filhas. Nunca me arrependi da decisão. A luta foi dura mas vencemos. Portanto, mulheres, atenção aos sinais. Eles são sempre os mesmos. Acredite na sua intuição e proteja-se.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem