Um recente movimento, que teve início em outubro de 2020, levantou denúncias envolvendo uma das mais importantes entidades do setor de vinhos do mundo, a Court of Master Sommeliers dos Estados Unidos.
A mobilização, que podemos chamar de #winetoo, nasceu para denunciar casos de assédio e sexismo a mulheres que trabalham como sommelière (responsável pelo serviço de apresentação e experimentação de vinhos, principalmente em restaurantes). Como o próprio nome da campanha sugere, ela se assemelha ao movimento #metoo, que nasceu para denunciar casos de assédio sexual no mundo do cinema.
O jornal The New York Times, que encabeçou o levante das acusações, apresentou 21 casos de mulheres que denunciaram a instituição por eventos de sexismo e assédio. A exposição levou à queda de toda a direção da entidade, responsável por organizar os concursos que conferem aos participantes o ambicionado título de Master Sommelier. Vale a pena dizer que, de 155 títulos já cedidos desde 1997, somente 24 foram concedidos a mulheres.
O colunista carioca de vinhos Marcelo Copello, diretor da revista Baco, após ter conhecimento do movimento norte-americano e suspeitou que no Brasil ocorresse o mesmo e deu início a uma enquete entre sommelières brasileiras e outras profissionais que também atuam no mercado de vinhos. “Achei que poderia existir problema semelhante, e que era preciso fazer algo a respeito”, diz Copello à Folha.
A pesquisa realizada entre 18 e 25 de janeiro, via internet, reuniu 500 profissionais de 18 estados brasileiros, sendo 43% são sommelières e 57% trabalhadoras com funções na indústria, comércio e divulgação de vinhos, como enólogas (responsável pelo plantio, vinificação e engarrafamento do vinho), vendedoras e jornalistas. 79,5% das entrevistadas afirmam que sim, o machismo prevalece no mundo do vinho.
Cerca de 20% das profissionais negaram que existem problemas, apontando que o cenário já foi pior e que hoje as mulheres são mais respeitadas. No entanto, não é o que o relato das outras mulheres apontou.
Muitas escreveram sobre os problemas já vividos, piadas humilhantes e sexistas que ouvem de clientes, falam dos salários que são menores que o dos homens para as mesmas funções, questionamentos que ouvem sobre sua competência por serem mulheres, oferta de compra de vinhos em troca de sexo e proposta de promoção no trabalho se aceitasse as cantadas dos superiores. Há até mesmo relatos de estupro.
Copello disse que espera que a pesquisa “inspire atitudes iguais em outros países e em outras indústrias fora do vinho.” Os resultados da pesquisa sobre o machismo no mundo dos vinhos serão divulgados em detalhes numa transmissão ao vivo nesta quinta-feira (11), no Instagram do colunitas @marcelocopello e no seu site marcelocopello.com.