“Fui estuprada pelo meu padrasto quando eu tinha 12 anos. Era sábado de manhã e minha mãe tinha saído para trabalhar. Eu estava saindo do meu quarto e indo para a cozinha lavar louça. Passei pela sala e ele me chamou. Falou: ‘Se eu te pedir uma coisa, você não pode contar a ninguém’. Em seguida, ele segurou meus braços com força e começou a me beijar. Quando eu consegui me soltar, ele levantou a coberta e eu vi que ele estava sem roupa. Naquele momento, soube o que ele ia fazer comigo.
Ele tirou minha roupa e tentou me penetrar na vagina e no ânus, porém não conseguiu. Doía muito e eu gritava cada vez mais alto. Ele parou de tentar e pediu para eu fazer sexo oral nele enquanto ele me tocava.
A minha irmã menor viu tudo. Hoje tenho 19 anos e ainda me sinto culpada por ter deixado minha irmã assistir aquilo mesmo não entendendo nada, já que ela era um bebê.
Na segunda vez que ele abusou de mim, estávamos a dois dias do meu aniversário. Minha mãe tinha saído e estávamos na sala. Ele me olhou e eu soube que tudo aconteceria de novo. Corri para a cozinha, peguei uma faca e me escondi atrás da geladeira, mas ele me achou, me arrastou para o quarto, abaixou as calças e disse: ‘Você já sabe o que fazer’.
Quando acabei o sexo oral nele, saí correndo e chorando. Ele veio atrás e me pediu desculpas. Mas era tudo falso. Ele me ameaçava muito. Se eu contasse, ele mataria a minha mãe. E eu acreditava, porque ele batia muito nela e em mim também. A violência doméstica era recorrente.
No final daquele ano, ele foi internado numa clínica de reabilitação, porque era usuário de drogas. O médico ligou para minha casa e disse que tínhamos que falar tudo de ruim que ele tinha feito para nós. Era parte do processo. Eu contei para minha mãe e para o médico. Achei que ela não fosse acreditar em mim, mas ela foi muito compreensiva. Ela se separou dele imediatamente. No dia seguinte fomos à delegacia e fizemos o boletim de ocorrência. Na mesma semana ele foi preso. Não ficou muito tempo na cadeia, porque os pais dele pagaram para ele sair.
A minha irmã tem 9 anos e frequenta a casa dos pais dele por determinação judicial. E ele mora com os pais, então ela encontra com ele. Nunca contamos para ela toda essa história. Minha irmã é uma criança bastante reservada. Já falei de reduzir as visitas, mas a avó da minha irmã chora muito e elas têm dó.
Já se passaram 7 anos, mas ainda é muito difícil aguentar essa dor, que parece que nunca vai passar. Eu fiz vários tratamentos psicológicos e ainda tomo remédio para controlar a ansiedade e as crises de pânico. Eu sinto vergonha do meu corpo, de mim, me sinto suja. Carrego no peito algo que não tem cura, que não pode ser esquecido.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem