“Eu tinha 6 anos quando meu tio abusou de mim pela primeira vez. Eu achei que era uma brincadeira, um carinho. Afinal, ele era legal e sempre estava brincando com a gente. Anos se passaram e eu nem lembrava mais disso. Quando eu tinha 9 anos, mudamos para próximo dele e da minha avó. Começou tudo de novo e foi então que eu lembrei.
Da primeira vez, enquanto eu dormia, ele foi até a minha cama e me molestou. Fiquei paralisada. Acordei, mas não conseguia abrir os olhos. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Por que ele estava fazendo aquilo comigo? Os abusos duraram três anos. Só pararam quando eu e minha mãe nos mudamos para outro estado.
Guardei isso comigo mais de dez anos, me sentindo culpada e com vergonha. Aos 20, conheci meu atual companheiro e ele foi a primeira pessoa a notar que havia algo de errado. Ele me questionou e me deu todo o apoio quando contei. Estava começando a dividir esse peso que eu carreguei sozinha por tanto tempo.
Há mais ou menos sete meses comecei a fazer terapia e iniciei meu processo de cura. Compartilhar isso com as pessoas que eu amo e confio foi a forma que encontrei para diminuir as dores que carrego. Sei que vou carregar essas feridas para sempre, mas com apoio e empatia elas não me machucarão mais.
Ainda não tive coragem de contar para a minha família. Estou no processo de perder o medo de ser julgada ou achar que não vão acreditar em mim. Me senti culpada por muito tempo e receio que isso destruiria a minha família. Mas eu sou a vítima e quem destruiu uma família foi o meu tio, quando abusou de uma criança.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado para preservar a identidade da entrevistada.