“Eu tinha 7 anos quando meus pais se separaram. Minha mãe conheceu o homem com quem vive até hoje pouco depois, no ano seguinte. Já aos 8, eu morava com ele. Era uma área invadida, com poucas casas e muito mato. Nosso barraco era simples, de plástico preto e com piso de barro.
Minha mãe não parava em casa. Ela trabalhava muito como diarista. Às vezes, até dormia fora. No meu aniversário de 9 anos, o namorado da minha mãe me deu um abraço. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Ele me levantou um pouco e me apertou contra ele. Isso aconteceu na frente do meu irmão, que é um ano mais novo do que eu. Senti nele um volume estranho e, desconfortável, pedi que ele me soltasse.
Passou um tempo e algumas semanas depois, fui dormir com um shorts que era do uniforme escolar do filho de alguma das patroas da minha mãe, que havia doado pra gente. Era um pouco folgado, mas o elástico na cintura segurava. Acordei algumas vezes durante a madrugada com a sensação de que alguém estava tirando a minha roupa. Uma hora, vi o namorado da minha mãe sair correndo do quarto. meu short estava abaixado. Daí em diante, não consegui mais dormir bem. Nunca mais.
Essa situação se repetiu muitas vezes até minha adolescência. Só cessou porque pedi para morar com meu pai. Nunca falei sobre isso com minha mãe. Meu pai morreu sem saber. Ele me tratava como a pessoa mais importante do mundo. Minha mãe, coitada, já apanhou muito desse namorado. Ela era vítima também, não teria por que falar pra ela.
Hoje em dia tenho dificuldade para ter relações sexuais. Penso que qualquer homem com quem me envolvo será um nojento como aquele cara, uma pessoa que bate na mulher e abusa da filha dela enquanto faz cara de santo para os vizinhos, colegas e parentes. Não consigo confiar facilmente em alguém e talvez eu nem deva.
Espero que um dia exista uma geração formada por homens que entendam que sexo não é tudo. Que não deve ser forçado. E, muito menos, que não deve ser feito com uma criança.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem