“Minha mãe teve oito filhos, então sempre fomos uma família grande. Meu pai faleceu muito cedo e minha mãe acabou ficando sozinha, então um dos meus irmãos foi criado pela minha avó materna. Minha mãe vendia salgados dava para pagar o aluguel, mas não pro resto dos gastos, ainda mais com tantas crianças.
O processo para receber a pensão que minha mãe tinha direito demorou. Estávamos para ser despejados da nossa casa, mas ela juntou o que pôde e comprou um terreno para construir uma casa. Ela também conheceu uma pessoa que se ofereceu pra ajudar com a construção. Parece absurdo, mas não culpo a minha mãe. Ela estava desesperada e em uma situação muito ruim, então aceitou a primeira mão que lhe foi estendida. Só que a verdade é que essa pessoa queria fazer mal aos filhos dela.
Pouco tempo depois do início dessa relação, o homem convidou minha irmã mais velha, na época com 14 anos, para fugir com ele. Minha irmã não aceitou, claro, e ainda contou o que havia acontecido com a minha mãe. Mas ele deu outra versão e minha mãe acreditou nele.
Pouco tempo depois, começaram os abusos comigo e, acredito, com minhas irmãs. Uma vez, fomos para a casa dele e ele me chamou para sair à noite com ele. Quando estávamos no meio do caminho, ele colocou a mão dentro da minha blusa e começou a apertar os seios que eu ainda nem tinha. Em outra situação, também na casa dele, estávamos deitados vendo um filme e, debaixo da coberta, ele colocou o pênis pra fora e ficou passando na minha mão. Nunca tive coragem de contar o que acontecia pra minha mãe porque achei que ela não acreditaria, assim como aconteceu com a minha irmã.
Pouco tempo depois, minha mãe conseguiu construir dois cômodos na área que ela havia comprado. Como era muita gente, dormíamos todos em um quarto só. Esse namorado da minha mãe estava morando com a gente e diversas vezes eu acordava no meio da noite com ele colocando a mão debaixo da coberta e acariciando meu corpo. Nunca aconteceu penetração, mas essas situações já foram o suficiente para eu ficar muito mal. Chorei tanto. Algumas vezes, pensei em suicídio.
Isso tudo se repetiu até eu fazer 14 anos, quando ele ameaçou matar a minha mãe e a polícia tirou ele de dentro da nossa casa. Apesar de saber que os abusos não eram só comigo, mas com todos os meus irmãos, nunca falamos sobre o assunto.
Consegui contar ao meu marido quando já tínhamos mais de dez anos de casados. Essa situação me afetou psicologicamente por muito tempo. Hoje não afeta mais, mas acho que contar a minha história pode ajudar quem já passou ou ainda passa por isso.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem