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“Abusos deixam a sensação de corpo sujo que nenhum banho limpa”

A leitora Luisa* sofreu o primeiro abuso aos 8. Alguns anos depois, foi molestada pelo amigo do pai. Mais velha, por homens na rua

Por Da Redação
Atualizado em 17 ago 2020, 14h26 - Publicado em 17 ago 2020, 09h00
mulher depressão
 (|Palmiro Domingues/Getty Images)
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“Fui abusada várias vezes e por pessoas diferentes. Ainda criança, morava em uma rua que tinha um senhor conhecido pela garotada por permitir que as crianças brincassem em seu quintal. Eu sempre estava por lá, era a única menina e ele sempre pedia para eu sentar ao seu lado, dava uns tapas nas minhas coxas dizendo eu eu tinhas as coxas grossas, me exibia para os meninos e mandava eles pegaram nas minhas pernas. Eu não gostava, mas não sabia como sair daquela situação, também não tinha clareza do que aquilo significava. Até que um dia, no Natal, fui desejar ‘feliz Natal’ ao ‘querido vizinho’. Totalmente inocente. A rua estava deserta e ele se sentou na calçada e pediu para que eu sentasse ao seu lado. Quando sentei, ele começou a passar as mãos nos meu peitos, que nem existiam, porque eu tinha entre 8 e 10 anos. Fiquei assustada. Tentei levantar para voltar para casa, mas ele não deixou. Meu coração ficou acelerado, estava com tanto medo, vontade de chorar. Até hoje não me lembro como voltei pra casa. Outro dia, ele tentou me arrastar pra casa dele, disse que estava sozinho e queria que eu entrasse. Com medo, corri para minha casa. Às vezes eu choro pensando no que poderia ter acontecido comigo caso eu tivesse entrado na casa.

Depois de um tempo, nos mudamos dessa rua. Eu estava muito feliz com isso. Usava um vestido verde e azul. Um amigo do meu pai foi nos ajudar, pois tinha um caminhão baú. Ele iria fazer a mudança de graça. Como minha mãe estava trabalhando, éramos eu, meu pai e o tal amigo. Seguimos para a casa nova. O amigo do meu pai estava dirigindo e meu pai na janela do passageiro. Fiquei entre os dois com a minha gata no colo. Chegando lá, meu pai foi atrás do proprietário para pegar a chave e demorou a voltar. O tal amigo começou a conversar comigo, foi se aproximando, começou a passar a mão na minha perna, no meu braço, no meu peito. Mais uma vez aquela sensação de medo, o coração acelerado e a vontade de chorar ficando mais forte. Até que ele colocou a mão debaixo do meu vestido, puxou minha calcinha e tentou introduzir o dedo na minha vagina. Por impulso, joguei minha gata no rosto dele e desci do caminhão para ir atrás do meu pai em busca de proteção. Eu não queria ser mal educada, mas tinha medo de pedir para parar e dizer que não estava gostando. Não sabia que ele estava fazendo uma coisa errada. Passei o resto do dia parecendo um animal acuado, com medo de ficar sozinha com ele de novo, mas sem coragem de contar para o meu pai.

Duas semanas depois, meus pais ofereceram um almoço para ele, em agradecimento. Chegando em casa, a primeira coisa que ele fez foi me chamar pra sentar no colo do ‘tio’. Eu me neguei e saí correndo para a rua. Voltei só depois que ele já tinha ido embora. Ainda levei bronca do meu pai pela falta de educação com alguém que tinha nos ajudado tanto! Eu tinha apenas 11 anos.

Estes foram os abusos mais marcantes, mas tiveram outros. Voltando da escola, aos 14 anos, desci do ônibus e me deparei com três rapazes. Eles passaram as mãos em todas as partes do meu corpo. Isso aconteceu em público, de dia e com o ponto de ônibus lotado. Vi muitos homens dando risada da situação, inclusive o próprio motorista do ônibus que eu pegava todo dia.

Homens se roçando no ônibus ou no metrô, homens passando o pênis no meu braço no ônibus lotado, se masturbando dentro do carro e buzinando para chamar minha atenção, me convidando para um sexo oral. E tudo isso sem que eu saísse na rua de roupas curtas e chamativas, essa desculpa ridícula que os homens adoram dar, dizendo que a mulher procurou a situação. São tantas histórias nojentas e inesperadas que nos deixam totalmente sem reação, mas que causam marcas, traumas, medos e uma sensação de corpo sujo que nenhum banho do mundo consegue limpar! Agradeço o espaço para compartilhar essas palavras de desespero. Foi importante para mim porque nunca contei detalhes das coisas que me aconteceram pra ninguém.”

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A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

*Nome trocado a pedido da personagem

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