“Meu padrasto só parou com os abusos quando ameacei matá-lo”
A leitora Georgia* foi abusada por muitos homens de confiança em sua vida. O último era casado com sua mãe
“Sofri abusos diversos dos 3 aos 15 anos.
O primeiro abusador foi meu tio, irmão da minha mãe. Meus pais tinham se separado e eu e minha irmã fomos morar na casa da minha avó. Esse tio adolescente morava lá também. Ele esperava nossos avós saírem e revezava para levar eu e minha irmã para o quarto. Ele fazia tudo o que queria e batia muito na gente. Fazia ameaças para que a gente não contasse para ninguém.
Depois de um tempo, minha mãe foi buscar a gente para morar com ela. Ela estava namorando um homem. Em casa, esse homem me violentava. Ele me penetrava com os dedos. Eu não entendia por que aquilo sempre tornava a acontecer comigo.
Não me lembro ao certo o que aconteceu, mas minha mãe se separou desse homem e voltamos a morar com a minha avó. Eu tinha 7 anos. Ficamos lá por um ano e o namorado de uma prima, que frequentava a casa sempre, fazia investidas frequentes. Ele queria que eu passasse a mão no pênis dele sob o cobertor quando estávamos assistindo TV e ficava tentando passar a mão em mim.
Minha mãe tornou a se casar e pensei que o meu sofrimento iria acabar de vez. O homem parecia sério, pediu que a gente chamasse ele de pai. Infelizmente, foi quando o inferno piorou. Fui abusada de todas as formas possíveis sob ameaça de que se contasse para alguém ele mataria minha mãe e meus irmãos. Ele falava que ninguém nunca acreditaria em mim, que ele diria que eu o seduzi, que eu era safada.
Os abusos acabaram depois que assisti uma palestra na escola. O apresentador dizia: ‘Você tem que enfrentar os seus medos’. O marido da minha mãe sempre esperava ela ir trabalhar para me trancar no quarto ou banheiro. Esse dia foi igual. Ele fez o que ele quis. Quando ele acabou, eu falei: ‘Essa é a última vez que eu vou fazer isso. Se acontecer de novo, eu mato você’. E assim ele parou.
Eu nunca tinha contado para ninguém até poucos meses. Falei para filha dele, minha meia-irmã. Tinha medo que ele repetisse a violência com a filha pequena dela. Minha mãe se separou desse hoje, ainda tenho convivências pontuais, mas não tenho ódio dele, apenas uma grande mágoa. Fico triste de pensar que minha mãe nunca fez nada, mesmo desconfiando.
Fiz terapia durante muito tempo, mas sinto que preciso voltar, pois foi o que me ajudou a encarar tudo isso de forma menos dolorida. Tenho 43 anos e, apesar de alguns traumas, consegui dar a volta por cima. Sou assistente social, pós-graduada em saúde pública e educação especial e tenho três filhos lindos.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem