Antes disso, no entanto, as novelas já eram craques em driblar a censura e, assim, explorar temas considerados tabus nos anos 1960 e 1970. O mesmo Dias Gomes, logo em sua estreia na teledramaturgia, com Verão Vermelho (Globo, 1969), foi pioneiro em abordar questões como a reforma agrária e o divórcio, que não estava legalizado na época. Sem chamar muita atenção do governo depois de ser perseguido por suas peças teatrais, o autor seguiu ampliando os horizontes da ficção televisiva e fez um contraventor, o bicheiro Tucão, interpretado por Paulo Gracindo, morto em 1995, de Bandeira 2 (Globo, 1971), cair no gosto popular, além de mostrar o morro carioca, até então só conhecido pelo público do cinema.
A ousadia de Dias Gomes o fez ser observado com mais atenção, tanto que em seu próximo trabalho, O Bem Amado (Globo, 1973), uma crítica bem-humorada ao sistema político do Nordeste brasileiro, os censores implicaram desde a trilha sonora até a forma como os personagens Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) e Zeca Diabo (Lima Duarte), coronel e capitão respectivamente, eram tratados.
Mas, enquanto Dias Gomes usava a criatividade para driblar a censura nos campos político e social, sua mulher, Janete Clair, morta em 1983, escrevia em prol de mudanças comportamentais. E um dos primeiros tabus que rompeu foi provar que homem também gostava de novela. Com Irmãos Coragem (Globo, 1970), Janete atraiu o público masculino com uma trama que misturava bangue-bangue, futebol e romance. Em sua trama seguinte, Selva de Pedra (Globo, 1972), no entanto, foi proibida de casar o protagonista, Cristiano (Francisco Cuoco), com a vilã, Fernanda (Dina Sfat), pois ele era marido de Simone, papel de Regina Duarte, que era dada como morta, mas isso caracterizaria adultério, e com a Namoradinha do Brasil!
Só que Regina Duarte, em vez de protegida, foi alvo da censura ao protagonizar Despedida de Casado (Globo, 1976), que também foi proibida de ir ao ar já com 30 capítulos gravados por tratar dos novos comportamentos conjugais. Mas Regina “se vingou” com a novela substituta, Nina (Globo, 1977), já mostrando a força da mulher emancipada que encarnaria futuramente.