Há boa dose de ironia na nova trama de Tony Bellotto, Lô (Companhia das Letras, 44,90 reais) – e talvez seja esse o ingrediente que a deixa tão intrigante. Ele retrata a rotina de uma elite carioca viciada em conquistar o equilíbrio e o bem-estar, que extrapola os limites na busca por uma alimentação saudável combinada a exercícios intensos e meditação. “É a ilusão de que há uma pureza a ser perseguida, da procura pela salvação, que se torna ridícula, cômica. No fundo, não passa do medo de morrer”, filosofa o integrante, de 58 anos, da banda de rock Titãs.
Lô, o personagem-título, é um designer renomado, com uma aparente vida perfeita: carreira consolidada, família-margarina, belo apartamento. Ele completa 50 anos nas primeiras páginas do livro e parece sereno até se encontrar com Ju, a namorada do filho adolescente. “Meu intuito inicialmente foi criar uma Lolita (personagem de Vladimir Nabokov) ao contrário. Lô é vaidoso, aquele que corre atrás das descobertas mesmo sendo mais velho”, explica Tony. “A sociedade, porém, não permite que ele viva essa libertação. E isso o leva à derrocada”, acrescenta.
Autor de uma série de livros sobre o investigador Bellini (que virou filme estrelado por Fábio Assunção), neste novo trabalho Tony aposta em sua veia para o suspense. Há sangue e mistério envolvendo esse personagem, que, com a idade, resolve mudar o estilo de vida.
Apesar das semelhanças pontuais com sua história, o marido de Malu Mader nega que ela seja inspirada em fatos reais. “A gente escreve sobre o que conhece, é claro, mas me preparei tanto para chegar aos 50 que não tive crise. Há um pouco de mim na descrença repentina do Lô. Coloquei meus traços em outros personagens também, como na Ju, que é transgressora. Sou um feminista na essência”, afirma. Para Tony, o excesso de crenças e verdades absolutas de cada um atrapalha discussões e avanços importantes na sociedade. Ele cita o debate pela descriminalização do aborto, que é sempre barrado pelos argumentos religiosos. “Aqui no Brasil mal falamos sobre o assunto, enquanto na Argentina ele avançou muito, mas travou na hora H.”
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