Duas amigas planejam um fim-de-semana de pescaria e paz, uma longe do namorado e outra, do marido, e antes de embarcar na viagem elas fazem uma das selfies mais famosas de todos os tempos. Nasce assim uma cena icônica no cinema.
Thelma e Louise nunca voltaram para casa e há 29 anos o filme confirma seu status de cult e inovador.
As estrelas, e amigas, Geena Davis e Susan Sarandon se reuniram mais uma vez na noite de terça (28) para uma exibição especial do filme de Ridley Scott, no Museu de Arte Moderna de Nova York.
As atrizes, combinando em vestidos de tom preto, posaram juntas no tapete vermelho, levando os fãs ao delírio.
“É um filme muito romântico, é um filme que romantiza road trip“, avalia Susan Sarandon hoje.
O filme é bem mais do que isso.
Nos anos 90, mulheres raramente lideravam um filme sozinhas e nunca se investia em filmes com apenas mulheres nos papéis principais. O diretor Ridley Scott brigou muito para realizar o projeto e encontrar as atrizes certas para o papel. Em um determinado momento Michelle Pfeiffer quase fez parte da produção, que acabou fechando com Sarandon e Geena Davis (na época recém vencedora de um Oscar de Atriz Coadjuvante).
As duas foram indicadas para o prêmio da Academia por suas atuações, mas perderam para Jodie Foster em O Silêncio dos Inocentes. Amigas e ativistas, as atrizes volta e meia fazem um agrado aos fãs quando registram seus reencontros.
Hoje em dia a questão mais controversa sobre o filme ainda é a cena final.
Scott sempre diz que queria que o carro magicamente pousasse no chão e que as duas sobrevivessem. Se tratando de um precipício, ficou complicado e ele cedeu terminando Thelma e Louise com o carro ainda no ar. O fato de que as duas protagonistas – que enfrentaram abusos e machismo com violência – terminam mortas seria, muitos argumentam, uma punição contra o empoderamento feminino.
“Entendo que nós estavamos se sentindo tão empoderadas que nos matamos. E as pessoas saem do filme comemorando!”, Davis riu em uma entrevista no ano passado. “Se penso que o filme teria o mesmo final se fosse feito hoje? Sim, porque se você pensar bem, é frustrante o quão pouco as coisas mudaram. Ainda assim não me parece que fomos punidas. Nós seríamos punidas se fossemos pegas e presas. Se jogar do precipício é uma metáfora e acredito que foi como as pessoas inconscientemente entenderam também. Nós mantivemos o controle de nossas vidas”, ela completou.
A experiência de gravar Thelma e Louise mudou a vida das duas atrizes. As duas se conheceram na primeira leitura de roteiro. Davis, mais tímida, lembra que “tinha algumas idéias’ de mudança , mas ia esperar as gravações para dar suas sugestões como ‘brincadeira’. Sarandon chegou com outra atitude.
“Minha primeira fala não está certa”, disparou deixando Davis boquiaberta. “Ela [Sarandon] não começou com um ‘não sei o que vocês acham’ ou ‘talvez eu esteja errada, mas’, que eram as duas únicas formas que eu conhecia para começar a argumentar alguma coisa. Foi uma educação diária ver como ela se movia sem esforço no mundo, sem confrontar ninguém, mas simplesmente sem se desculpar por suas idéias”, relembra.
Sarandon lembra especificamente sobre a cena final, que ela perguntou ao diretor: “Você vai mudar e fazer com que a gente esteja em um Club Med?”, aludindo à obrigação da época de fazer filme para mulheres com final feliz. “Ele me respondeu: ‘Eu sei que [Louise] definitivamente vai morrer, não tenho certeza sobre [Thelma]”. No final das contas nós ganhamos nosso direito de se jogar. Ele disse ‘talvez você ainda a empurre para fora do carro no último minuto’, mas na verdade só poderíamos fazer um único take. Eles filmaram o dia todo com os helicópteros… e aí o sol já estava se pondo e tínhamos apenas uma tomada”, ela contou meio brincando.
Depois de Thelma e Louise, Geena Davis se dedicou a possibilitar projetos inclusivos em Hollywood e criou o Geena Davis Institute on Gender in Media, organização que busca eliminar preconceitos e estereótipos sexistas em cinema e TV. Ela ainda está frustrada com os resultados, mas será homenageada no Oscar 2020 com o Jean Hersholt Humanitarian Award, que homenageia artistas que trabalham para mudar a indústria.
Uma bela homenagem.