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Sergio Guizé fala sobre sua trajetória para o autoconhecimento

Em entrevista a CLAUDIA, o ator revela estar mais tranquilo em relação às escolhas de vida e com o olhar voltado para si, querendo aportar em terras seguras

Por Elizabete Antunes | Styling Isabella Castro | Beleza Karina Aletto/Capa MGT | Assistente de fotografia Maria Morgado
20 abr 2018, 12h41

Sergio Guizé não era um rosto conhecido quando, se apresentando em uma peça no Rio, descobriu que andar de metrô ali significa seguir regras – algo que ele detesta. Nascido em Santo André, no ABC paulista, não sabia que há vagões exclusivos para mulheres, em dias úteis e nas horas de pico, para protegê-las de assédio. Distraído, cansou de pegar o trem errado.

“Eu tomava um susto! Algumas advertiam: ‘Vai pro outro vagão, ô, paulista’.” Reincidiu no descuido até estourar como João Gibão, no remake de Saramandaia (2013), que o colocou no primeiro time da Rede Globo. Passou então a ser paparicado nas ruas. Hoje, no ar como Gael, de O Outro Lado do Paraíso (que bate em mulher), mexe com a ira do público.

Antes de chegar ao Hotel Grand Mercure, na Barra da Tijuca, onde foi entrevistado, levou bronca de uma telespectadora. “Lá vai o mauzinho!” Tentando apartar-se do personagem, ele respondeu brincando: “Bom dia para a senhora também”. Na história de Walcyr Carrasco, que termina em maio, Gael não encarna apenas o malvado. É um criminoso.

Na lua de mel, estuprou a mulher, Clara (Bianca Bin), e durante o casamento a agrediu várias vezes, depois de já ter esmurrado outras parceiras. “Desde a preparação, sabia que o papel seria difícil. E interpreto de verdade. Foi um trabalho de concentração em que beirei o neurótico”, conta. “Ele tem uma sensibilidade à flor da pele e se entrega ao jogo cênico”, diz Marieta Severo, a vilã Sophia, sua mãe na trama.

As cenas com Bianca eram tão pesadas que a verdadeira mãe de Sergio, a pedagoga Cleide, 57 anos, ligava chorando. “Que mulher gosta de ver o filho batendo na esposa? Nenhuma”, justifica ele. Sergio espera que Gael sirva de reflexão para a sociedade se tornar mais justa. “A maior arma contra a violência doméstica é a denúncia. É meter a colher mesmo. Qualquer movimento para legitimar os direitos das mulheres e o respeito aos limites do corpo delas é válido” , afirma.

Na ficção, o playboy tem a segunda chance. “Sei que é difícil defendê-lo, mas Gael foi preso e penalizado. Acredito na sua redenção. Vai se reeducar e virar um homem de bem.”

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(Daryan Dornelles/CLAUDIA)

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Autoconhecimento

Perto dos 38 anos (o aniversário dele é dia 14 de maio), o ator aproveitará o fim da novela para promover mudanças na vida pessoal, como arrumar um pouso seguro. Desde que saiu de Santo André, aos 20, vive como cigano. Tem um pequeno apê no bairro paulistano do Bixiga, e no Rio pula entre apart hotéis e casas alugadas pela emissora. “Estou ficando mais calmo, entendendo melhor a vida, conseguindo ser mais coerente”, revela.

“Antes, achava que tinha que estudar muito, trabalhar duro – quase só enxergava isso – para saber quem eu era”, analisa. “Hoje quero olhar para dentro, ficar mais forte.” Mas é o trabalho que usa como escudo para fazer mistério sobre o romance com Bianca Bin, 27 anos. “Não vou falar disso. A relação é profissional. Se você der um Google, só falam disso (do namoro). O foco tem que ser a novela”, afirma.

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O envolvimento teria surgido nas gravações em outubro, no Jalapão, Tocantins. Em janeiro, assistiram ao show de Chico Buarque; em fevereiro, ao que tudo indica, se abrigavam sob o mesmo teto num condomínio carioca, do Itanhangá. No Carnaval, apareceram em foto na piscina e, na rotina, saem lado a lado da academia. Também posaram juntos no batizado de um afilhado – Sergio, carinhosamente, segura Bianca no ombro e na cintura.

Os dois fizeram a novela Êta Mundo Bom!, em 2016, quando ele interpretou o impagável caipira Candinho. Na época, Bianca estava casada com Pedro Brandão, ator do mesmo folhetim (eles terminaram no fim do ano passado). Sergio não assume um relacionamento desde que, em 2017, rompeu o namoro de dois anos com a colega Nathalia Dill – com quem protagonizou um casal em Alto Astral (2014).

Se a pergunta se refere a envolver-se novamente com a companheira de cena, o ator fecha a cara de bom moço: “Isso não é verdade! Se fosse assim, teria namorado a Débora Nascimento (de Êta Mundo Bom!) ou a Cleo Pires (do longa Terapia do Medo)”, enumera, ajeitando-se na poltrona. Até esse momento estivera tranquilo, só deixando a xícara de café, já vazia, cair no chão por distração.

O tema filhos não o tirou do prumo como o amor. Ele cogitou não ter herdeiros. “Pensava em como vamos sobreviver à bomba atômica que é este mundo, à poluição sonora e visual, à violência. Mas quero ter filhos.” Por enquanto, cuida só de Gustavo, cão da raça griffon de Bruxelas, de 8 anos. Sergio nasceu e foi criado no Jardim Alzira Franca, periferia “barra pesada”, como descreve, e que o ensinou a ser humilde. Sua avó foi seu norte. “Analfabeta, teve 16 filhos; oito morreram. Ela não tinha dentes, mas falava com o coração e com sabedoria e me ensinou a olhar as coisas pelo lado lúdico.”

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A mãe de Sergio, que fez faculdade depois dos 40 anos, incentivada por ele, trabalhou como manicure, feirante e foi dona de mercadinho. “Passei por muita coisa, fui parado pela polícia e cheguei a ser xingado de bichinha porque fazia teatro.” Enquanto seus amigos se preparavam no Senai para encarar a indústria, ele desenhava, grafitava, fazia xilogravura, pintava. “Vendia meus quadrinhos e, com o dinheiro, comprava mais tinta”, lembra.

No ano passado, expôs em São Paulo. Suas telas variaram de 500 reais a 6 mil reais. Aos 5 anos, aprendeu a tocar violão com o pai, Salvador, 64, funcionário público que é cover de Zé Ramalho em barzinhos. Sergio também compõe, canta e toca guitarra na banda de rock Tio Che, que completa 18 anos lançando o CD Tudo Sagrado. “Ele tem muitos talentos”, atesta a atriz Deborah Secco. “Quando filmávamos Mulheres Alteradas, não se separava dos lápis de cor. Até mandou um kit de presente para minha filha, Maria Flor (de 2 anos).”

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(Daryan Dornelles/CLAUDIA)
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O motoboy bom de garfo

Antes de ter certeza de qual seria o seu negócio, Sergio foi motoboy, trabalhou em rede de fast-food e chegou a dar aula de artes no ensino público. Acha que não foi um bom professor. “Tinha vergonha daquela situação e pensava: ‘O que vou fazer com 45 alunos, garotada cheia de fome, esperando a merenda?’ Eu me sentia traindo, sabe? Queria ensinar algo para aquelas crianças.

Só com educação o povo vai impedir esses políticos de nos representarem. Não acredito que um poderoso, muito rico, vai olhar para os problemas de quem é pobre.” E pergunta para seu assessor: “Estou falando demais?”. Na mochila, carregava o livro Numa Fria, de Charles Bukowski, e roupas de ginástica. Dos 91 quilos exibidos no início do folhetim, perdeu 7. “Quando a novela acabar, vou dar graças a Deus (risos)!”, diz. “Comer é a coisa de que mais gosto na vida!”

Foi ao vê-lo atuando em Crime e Castigo, de Dostoiévski, em um palco de Santo André, que um produtor da Globo o chamou para um teste. Cogitou recusar. “Nunca sonhei muito com dinheiro; eu queria mesmo era encenar os clássicos do teatro.” Pesava ainda o fato de não ser de cumprir regras. “Na vida, aliás, eu sempre era reprovado, demitido, não me encaixava em lugar nenhum”, observa.

Como Sergio estará em quatro filmes com estreia este ano, dá para concluir que acabou aprendendo a se encaixar no mundo e a lidar com horários e normas. Será visto em O Homem Perfeito, de Marcus Baldini, Beatriz, de Alberto Graça, Além do Homem, de Willy Biondani, e Mulheres Alteradas, de Luis Pinheiro – prova de que é excelente para acatar a condução dos bons diretores.

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