Na última quinta-feira (15), mais um filme de Quentin Tarantino chegou aos cinemas brasileiros. Com uma história parcialmente baseada em fatos reais, ‘Era Uma Vez em… Hollywood‘ conta a história de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), um ator instigado pela fama e o seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt) tentando ganhar os holofotes hollywoodianos na época em que Charles Manson (Damon Herriman) cometia uma onda de assassinatos nos Estados Unidos. Na trama, o nome de Sharon Tate volta à tona com a interpretação de Margot Robbie – e por ter sido uma das figuras mais emblemáticas dos ataques de Manson.
Tarantino tem um estilo único e isso é fato. Já no nono filme de sua carreira, o diretor resolveu debater questões internas da indústria cinematográfica. Para isso, ele utiliza a imagem de um ator infeliz, que tenta de tudo para ser reconhecido e não acabar na sombra de apenas um trabalho. Na construção dessa narrativa, o cineasta fala de celebridades da vida real, mas sem adentrar muito em suas história, como Bruce Lee (vivido por Mike Moh), Steve McQueen (vivido por Damian Lewis) e a própria Sharon – que é muito mais do que é mostrado no longa.
‘Era Uma Vez em… Hollywood’ contenta-se em mostrar a figura de Sharon como uma atriz inocente, carismática e sonhadora. Sabemos que ela estrela um filme durante o período retratado da trama, mas Sharon esteve presente em muitos outros trabalhos.
A atriz nasceu em 1943, na cidade de Dallas, nos Estados Unidos. Filha de um coronel, a menina já atraía olhares desde pequena pela beleza estonteante. Com apenas seis meses de vida, ganhou seu primeiro concurso de beleza, o chamado Miss Tiny Tot. As vitórias repetiram-se na adolescência, ao participar de outros concursos, como Miss Autorama e Miss Richland.
No começo dos anos 60, na chamada “Era de Ouro” de Hollywood, a jovem se mudou para Los Angeles, a fim de seguir o sonho de ser atriz. Foi modelo, capa de revista, fez aparições na TV, como na lendária série ‘A Família Buscapé‘, e até chegou a fazer um teste para interpretar Liesl von Trapp em ‘A Noviça Rebelde‘. Seu talento chamou a atenção de diretores da época e ela, então, fez uma bela estreia nas telonas em 1966 – com ‘O Olho do Diabo‘, de J. Lee Thompson.
Daí pra frente, decolou em pouco tempo e chegou a ser conhecida como Million Dollar Baby. Namorou Jay Sebring, cabeleireiro das celebridades daquele momento, e atuou em ‘Não Faça Onda‘, ‘A Dança dos Vampiros‘ (onde conheceu o diretor e seu futuro marido, Roman Polanski) e ‘O Vale das Bonecas‘, que é a obra mais conhecida de sua carreira. Este filme, inclusive, lhe rendeu um indicação ao Globo de Ouro, em 1968, na extinta categoria de Atriz Revelação.
Sharon e Polanski formavam um dos casais mais populares dessa época. Ela, contudo, não fazia questão de aparecer em todas as produções de seu marido. Depois de casar-se, em 1968, estrelou outros dois filmes antes de ser assassinada em 1969.
Sharon era uma estrela em ascensão que só trazia bons ares por onde passava. Infelizmente, a atriz teve um destino trágico, sendo assassinada aos 26 anos a mando de Charles Manson, quando estava grávida de oito meses e meio. Essa era a primeira gestação da atriz, e seu filho também não sobreviveu.
Polanski havia ido para Londres fazer a pré-produção do filme ‘O Dia do Golfinho‘ e Sharon estava sozinha na casa dos dois em Beverly Hills. Na noite do dia 9 de agosto de 1969, ela foi a um restaurante mexicano com três amigos (Jay Sebring, Abigail Folger e Wojciech Frykowski) e retornou com eles para casa. Lá também se encontrava o caseiro da família, William Garretson, que morava em uma pequena construção perto da mansão, e seu amigo Steven Parent, que tinha apenas 18 anos.
Durante a madrugada, quatro integrantes do grupo de seguidores do serial killer, conhecidos como Família Manson – Tex Watson, Linda Kasabian, Susan Atkins e Patricia Krenwinkel – foram em direção à casa para executar um plano encabeçado por Mason: assassinar Terry Melcher, produtor musical que recusou-se a lançar a carreira musical de Manson.
Terry morava na casa onde Sharon e Polanski viviam, mas ele já havia se mudado. Isto os assassinos não sabiam. De maneira covarde e totalmente gratuita, os quatro jovens estavam decididos em executar quem que estivesse ali. Steven foi a primeira vítima, ele estava saindo da casa de William e foi pego de surpresa. Por fim, os criminosos invadiram a mansão, assassinando Sharon e seus amigos.
Dez anos depois do crime, Polanski homenageou a esposa com a adaptação cinematográfica de uma das leituras favoritas. ‘Tess – Uma Lição de Vida‘ foi lançado em 1979 e ganhou três Oscars na edição de 1981 do evento (Melhor Figurino, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte), além da grande indicação a Melhor Filme.
Hoje, Sharon é mais conhecida por seu brutal assassinato do que pelas coisas que fez em vida, o que é muito desanimador. Ao levar em conta sua trajetória, Sharon não merecia ser reduzida à vítima de um serial killer horripilante. E ela é, com certeza, muito mais do que isso.