Quando Ryan Gosling começou a ganhar espaço em Hollywood, em meados dos anos 2000, atuando em produções independentes, críticos o apontaram como “o ator mais interessante da sua geração” e disseram que tinha potencial para se tornar uma espécie de Robert De Niro, conhecido por performances intensas e lacônicas. O que ninguém previu, no entanto, é que ele faria as vezes de Fred Astaire cantando e sapateando em cena no musical La La Land – Cantando Estações, como o carismático Sebastian, um pianista de jazz que se apaixona pela atriz iniciante Mia, papel de Emma Stone. “Sempre quis tocar piano. Tive a oportunidade perfeita para passar três meses aprendendo. Foi uma das preparações mais gratificantes para um filme”, conta o ator, de 36 anos, que não usou dublê nem nas cenas que focavam as mãos do personagem.
Ele não é estranho ao universo da música, vale dizer. É integrante da dupla indie Dead Man’s Bones e chegou a fazer parte do Clube do Mickey Mouse, com Justin Timberlake e Britney Spears. Aos 20, teve aulas de balé e sapateado. Ainda este ano, vai aparecer como outro músico nos cinemas em Song to Song, de Terrence Malick. “Gosto de ver como os dançarinos incorporam a música e se comunicam com o corpo. Acho lindo”, disse ele. Mesmo assim, teve medo o de parecer ridículo sapateando e dançando, mas acha que o resultado valeu o receio. Ah, e como valeu. O romance moderno que reverencia clássicos do cinema é um dos favoritos a prêmios nessa edição do Oscar (que acontece domingo, 26) e tem conquistado o público e a crítica de maneira avassaladora, algo que o ator atribui à falta de cinismo do longa. “Fiquei intrigado quando soube que o Damien (Chazelle, o diretor) queria fazer um filme com a estética da era de Gene Kelly e Fred Astaire porque são esses os musicais que me comovem”, afirma ele, no páreo para conquistar a estatueta de melhor ator. “Era meu desejo secreto fazer um trabalho desse.”
Na festa do Globo de Ouro, em janeiro, La La Land levou sete prêmios, sendo um deles o de melhor ator em musical ou comédia. Gosling recebeu o troféu agradecendo à mulher, a atriz norte-americana Eva Mendes, mãe de suas filhas, Esmeralda, 2 anos, e Amada, 10 meses, por ter segurado a onda em casa enquanto ele vivia uma “experiência incrível”. O discurso, sensível como ele, marcou a noite. Esta é a sua mágica: ser charmoso, inteligente, cool – além de muito bonito.
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Todos amam Ryan Gosling. “Ele é gentil e adorável, e sombrio e estranho. Tudo o que você quer em um ator”, disse Kirsten Dunst, com quem contracenou em Entre Segredos e Mentiras (2010), a um jornal britânico. Emma, com quem faz par romântico pela terceira vez, conta que ele é divertido. E Michelle Williams, seu par no drama romântico Namorados para Sempre (2010), declara: “É tão perceptivo que chega a ser desconcertante”. Todos amam Ryan Gosling. Mas, sim, as mulheres o amam um pouquinho mais. E ele nos ama de volta. “Sou atraído por filmes com personagens femininas fortes porque há mulheres fortes na minha vida. Cresci com a minha mãe e irmã”, explica. Por essa identificação, virou meme na internet, com sua imagem ligada a dizeres românticos e feministas, mas nada disso nunca se sobrepõs a seu talento. “Poucos conseguem fazer os filmes que querem sem sucumbir à maquina de sonhos que é oferecida”, diz Nicolas Refn, diretor de Drive (2011), importante trabalho de Gosling e no qual interpretou um tipo complexo, como os que marcaram sua suave ascensão como ator. “É preciso integridade para conduzir uma carreira como ele fez.” Quando era tempo, escolheu bem os blockbusters, sem sacrificar a solidez de sua trajetória. Nunca quis fazer o papel de um super-herói e chegou a dirigir seu próprio longa, Rio Perdido (2014). Em 2017, estrela também o esperado Blade Runner 2049. Não é arriscado dizer, porém, que será como Sebastian que ele será lembrado por um bom tempo. Sem problemas, né, Ryan?