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Rodrigo Lombardi sobre a série “Carcereiros”: a tensão era enorme

Sucesso na série e na peça "Um Panorama Visto da Ponte", o ator ressalta a importância da cultura na educação

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 nov 2018, 10h51
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  • Desde agosto, todas as sextas, sábados e domingos Rodrigo Lombardi faz hora extra no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Assim que acaba a sessão de “Um Panorama Visto da Ponte”, peça escrita por Arthur Miller em 1955 sobre imigração e intolerância, ele convida a plateia para uma conversa descontraída, mas profunda. “Quando escuto: ‘Por que vocês escolheram esse texto?’, já sei que provocamos reflexão e que o público se identificou”, explica Rodrigo, 42 anos. Ele pegou a ideia do debate emprestada do colega Antonio Fagundes e insistiu quando o elenco duvidou de que a ação geraria resultados bacanas. “Ficamos surpresos com a qualidade da discussão. Tem quem veja a peça mais de uma vez e sugira novas contemplações. O elenco aprende muito com isso; serve de material para nos renovarmos”, acrescenta o ator. Para ele, essa é uma oportunidade enriquecedora de formação de público e também um espaço democrático de troca, em que o essencial é ouvir e se colocar no lugar do outro. “O teatro carece de espectadores. As pessoas não sabem, mas elas também precisam de teatro. Estou feliz porque vamos para mais cinco cidades brasileiras.”

    A paixão que Rodrigo sente pelo palco transparece na fala intensa. Mas o ator sente-a no corpo. Às vezes, isso é positivo, traz um sentimento recompensador quando alcança o resultado que deseja. Em outras ocasiões, faz mal. Durante os ensaios da peça em que faz um imigrante italiano nos Estados Unidos, sofreu. “Perdi o chão para me reconstruir, fiquei desesperado. Ia para o flat dormir, mas tinha insônia porque não parava de buscar respostas. Achei que seria ridicularizado se não chegasse à interpretação correta. Aos poucos, fui me encontrando”, lembra. Nem assim ganhou total confiança. Há dias em que ainda volta para casa achando que poderia ter feito melhor. “Não caio no conforto. Cada apresentação é uma maratona.”

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    Tem aí também uma pitada da personalidade do paulistano, que mora no Rio de Janeiro com a mulher, a maquiadora Betty Baumgarten, e o filho Rafael, 11 anos. “Eu me cobro muito. Ligo para as pessoas pedindo opinião sobre minha atuação”, conta. Foram vários anos de terapia para pegar mais leve consigo mesmo, sempre interrompidos nas temporadas de mais trabalho – como é o caso atualmente. Quando fica longe do consultório, lê sobre psicologia, principalmente infantil. “É meu hobby. Acredito que nossos problemas começam lá atrás, desde pequenininhos. Se as coisas não são explicadas, vão embolando”, diz. Com os anos de autoanálise, descobriu que não era o bicho de sete cabeças que imaginava. Olhou para si mesmo, eliminou certas confusões. Hoje, se está em São Paulo e tem tempo livre, convida o terapeuta para um café. “Chamo para bater papo, não é um atendimento. Sinto falta”, diverte-se.

    Apesar do bom humor para tratar do tema, Rodrigo reconhece quando há necessidade real de pausar. “Senti meu corpo dando sinais durante as gravações de Carcereiros. Eram 12 horas por dia falando de violência, perseguição”, lembra ele. A série voltou à TV Globo para encerrar a primeira temporada. A próxima chega em breve ao Globoplay. “Fui parar no hospital três vezes, a tensão era enorme.” Inspirada nos relatos do médico Drauzio Varella do período em que trabalhou em presídios, a produção foi supervisionada por carcereiros e ex-detentos. O diretor José Eduardo Belmonte contribuiu com o tom de ficção documental e tomou cuidado para que as interpretações não ficassem caricatas. “Tivemos muitas participações especiais. Então, se alguém chegava no meio do processo, fazíamos exercícios. Invariavelmente, isso levava a uma catarse, e a pessoa se excedia. Aí nós parávamos, servíamos água, acalmávamos”, recorda Rodrigo. Mas, mais do que a conquista profissional, ele destaca a responsabilidade social da obra. “Trouxemos à tona um tema evitado. Quantas vezes ouvi: ‘Passava pelo Carandiru e olhava para o outro lado, não queria ver’. Porém, quando mostramos a realidade, desvendamos esses mistérios e estereótipos. Assim, fica mais natural, fácil de lidar”, ressalta.

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    Mais alcance

    Não é só por meio da arte que Rodrigo contribui com a informação e a educação. Desde o ano passado, investe na Nomafy, empresa dedicada a levar alunos para estudar nas melhores escolas do exterior e, ao mesmo tempo, chamar a atenção dessas instituições para talentos brasileiros. O sonho antigo se concretizou após o contato com uma amiga da época do intercâmbio que fez, em 1995, em San Diego, na Califórnia, tentando ser jogador de vôlei profissional – faz sentido, ele tem 1,80 metro de altura. Ela propôs uma sociedade na agência, que combina viagem a estudo. “Em 2050, 85% dos empregos que conhecemos estarão extintos. Então precisamos dar às pessoas ferramentas para que elas se reinventem e possam estar inseridas nesse futuro”, defende Rodrigo. Entre as parceiras estão a americana Amda, que forma profissionais para espetáculos musicais, e a Central Saint Martins, em Londres, considerada uma das melhores escolas de moda e design do mundo. “Meu maior objetivo é promover nessa área um conceito muito atual, o do compartilhamento. Hoje não faz sentido apenas algumas pessoas terem acesso a certas coisas”, explica. “Quero me dedicar a desenvolver um modelo no qual quem pode pagar contribui com a educação dos menos favorecidos financeiramente. Para multiplicar, antes temos que dividir.”

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    Profissão nº 1

    Rodrigo ainda assume o papel de educador em casa – sua prioridade. O desempenho com Rafael parece surtir efeito, dado o encantamento que o menino sente pelo pai e seu ofício. Tanto é que, depois de fazer aulas de dublagem, chegou a participar do filme Procurando Dory, de 2016. Quando questionado sobre a possibilidade de o pequeno seguir seus passos na carreira, Rodrigo fica com o pé atrás. “Não sei se me agrada. Na verdade, quero que ele tome essa decisão consciente da realidade da profissão. Eu fui só pelo sonho; aí fica mais complicado”, justifica.

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    Até lá, filho e pai divertem-se com brincadeiras que estimulam a criatividade. Enquanto Rodrigo concedia esta entrevista, Rafael viajava para Minas Gerais, onde aconteceria uma batalha épica de RPG (role-playing game, ou jogo de interpretação de papéis, em português). “Há personagens e um set; eles têm que desenvolver poderes mágicos, enfrentar o mal. É tudo muito didático”, conta o pai, orgulhoso. “Quero que ele tenha liberdade de criar antes de chegar à fase de proibir e limitar. Hoje, consigo me enxergar nele, vejo nossas semelhanças e fico feliz com a pessoa que o Rafael se tornou.”

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