Por que a Shirley de ‘Éramos Seis’ não existia na versão do SBT?
Personagem foi colocada na novela para um inédito relacionamento interracial, inexistente no livro.
Se uma pessoa fã de ‘Éramos Seis‘ desde a versão da Tupi assistir à versão da Globo, muito provavelmente achará uma coisa muito estranha: existe uma personagem que não existe nas outras filmagens da trama de Maria José Dupré. E com o aumento da participação de Shirley (Bárbara Reis) nesses capítulos atuais da novela das seis, é uma boa hora para entender de uma vez por todas por que essa personagem não existe nem no livro e nem na novela anterior.
Pra começar, a personagem não está presente no livro porque as novelas precisaram incluir muitos personagens para fazer a história render. Quando Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho adaptaram o romance para o folhetim televisivo, criaram pessoas para ocupar aquele universo. Um exemplo é o chefe de Júlio, o Assad, que só era citado no livro e agora é um personagem de verdade, com nome e tudo.
Ao produzir a novela lá pelos idos dos anos 70, Silvio de Abreu achou que seria interessante criar uma família para o dono do armazém, e inventou uma trama envolvendo uma mãe que escondia da filha quem era seu verdadeiro pai. Embora seja semelhante com o que vemos atualmente, ainda assim não era o drama da Shirley da atual versão.
Tanto na Tupi quanto no SBT a personagem se chamava Pepa, e sua filha era a Carmencita. A ideia do autor era retratar a vida dos imigrantes, e por isso fez com que as duas tivessem ascendência espanhola (os nomes já deixavam isso bem claro). Na versão do SBT, Pepa era interpretada por Nina de Pádua e a Carmencita por Eliete Cigarini.
Quando a Globo comprou os direitos do texto de ‘Éramos Seis’ para essa novela que estamos vendo atualmente, tiveram a ideia de mudar a etnia das personagens. Assim, Pepa deixou de ser uma matriarca espanhola para se tornar a mulher negra que conhecemos como Shirley, assim como sua filha Carmencita passou a se chamar Inês.
Para a intérprete da personagem Shirley, a mudança bebe muito na questão da representatividade: “dá espaço também para os pretos estarem na televisão”, contou a atriz ao MdeMulher. Inclusive, ela ressalta que a personagem ainda traz um pouco de nordeste à novela, porque a Shirley é baiana e se muda para São Paulo para se afastar de seu antigo companheiro.
Outro drama extra colocado na personagem, e lembrado por sua intérprete, é a questão do relacionamento interracial, pois ela tem esse envolvimento tanto com João (Caco Ciocler) quanto com Afonso (Cássio Gabus Mendes) dois homens brancos.
A mudança do perfil da personagem, mesmo com situações repetidas da outra novela, acabou criando uma forma totalmente nova de enxergar a Shirley: “Depois que ela casa com o Afonso, ela se torna uma mulher negra que tem uma condição de vida boa. Numa época em São Paulo, com colonização europeia, uma negra é dona de um armazém, o único que tem na rua. É incrível.”, finaliza Bárbara Reis animada com a personagem.