A chef virou a queridinha do público brasileiro já na primeira temporada do MasterChef, em 2014. Nas redes sociais, era descrita como a mais maternal e delicada dos jurados. Ao lado de Fogaça e Jacquin, equalizava as reações: dizia com firmeza, mas sem se exaltar, quais eram os erros e acertos de um prato. Até aparecer na TV, Paola Carosella era conhecida apenas pelos fãs da boa comida, que encontravam no Arturito, seu restaurante em São Paulo, carnes no ponto – como era de se esperar de uma chef portenha.
O convite inesperado para participar da audição para o reality veio em um momento emblemático. Francesca, filha de Paola, tinha apenas 6 meses. “Até ali, a maternidade havia sido claustrofóbica. Era muito trabalho, sobretudo porque, quando a Fran tinha 20 dias, tive que voltar para o Arturito. Havia acabado de pegar um empréstimo milionário para comprar a parte dos meus sócios e o sustento da casa dependia de mim”, conta. Aos 41 anos, a oportunidade era um sopro de ar fresco e significava a possibilidade de ganhar visibilidade. O medo bateu quando entrou no estúdio. “Passei a primeira e a segunda temporada inteiras em choque, insegura. Só comecei a curtir depois”, revela.
Paola se descreve como intensa, o que torna cada experiência um mergulho profundo. Quando abriu o primeiro restaurante, o Julia Cocina, em 2003, trabalhava 18 horas por dia. “Buscava a perfeição. Sou dessas que começam arrumando a gaveta, organizam o quarto e já querem chamar o arquiteto para uma reforma”, diverte-se. Hoje, olhando para trás, vê que podia ter relaxado um pouco, mas acredita que só a vivência traz o aprendizado. “Agora, busco o melhor dentro do possível. Não dá para me dedicar 100% ao restaurante, à Fran, a mim, ao namorado (o fotógrafo irlandês Jason Lowe, que se divide entre Londres e São Paulo). É preciso dosar”, acredita.
Contar com apoio também ajuda – é assim que ela encara a agenda apertada. Quando Francesca tinha 2 anos, Paola se separou do pai da menina. Desde então, administra o cotidiano dela com a ajuda de duas funcionárias. “Estou gravando e vendo quem pode levá-la ao médico ou buscá-la na escola”, diz. “Mas, no fim do dia, a filha é minha. E sem companheiro é mais difícil. Chego em casa e ainda tenho que cozinhar, resolver burocracias. Não tem quem adiante essas questões para mim.” Não é exatamente uma reclamação – ela lembra das mulheres que não têm uma estrutura privilegiada como a dela. “O que acontece com quem pega duas horas de condução até o trabalho e deixa o filho na creche, volta meia-noite, precisa cuidar da casa e mal tem tempo de ficar com a criança? É cruel. Para mim, o machismo se exibe em uma sociedade que não considera as diferenças entre as mulheres”, afirma.
INTENSA
Uma de suas marcas à frente do MasterChef são as lágrimas, que correm soltas diante dos finalistas. “Não ligo para o que pensam de mim, não vivo uma personagem. Esse coquetel de emoções que aparece na tevê é quem eu sou.” A autoconfiança não veio fácil. Paola conta ter sofrido na adolescência por se achar feia e não se adequar a nenhum grupo. É por isso que assumiu como prioridade mostrar à filha que ela deve se sentir confortável na própria pele. “Quero que se orgulhe de quem é e não mude só para se encaixar em um padrão de beleza ou chamar a atenção dos meninos”, afirma.
Fran tem apenas 5 anos, mas a preocupação com a adolescência da menina reflete outra característica de Paola: a de manter um olho no futuro sempre. O traço é ainda mais forte nos negócios – ela se diz empreendedora por natureza. Prova disso é a extensa lista de projetos que mantém. Quer continuar investindo no Arturito, aumentar de três para oito unidades a rede La Guapa, que vende suas famosas empanadas argentinas; transformar a fábrica de salgados em uma cozinha-escola; e abrir uma padaria. Não nega ainda a possibilidade de ter um programa próprio na Band. “Minha vontade é crescer e me tornar uma profissional cada vez mais inovadora”, afirma.