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Maria Fernanda Cândido: ‘A graça do humano está na não-perfeição’

Aos 43 anos, a atriz leva a vida com a sabedoria de um mestre zen. Não por acaso, equilíbrio, imperfeição e elegância são alguns dos seus temas preferidos.

Por Patricia Hargreaves
Atualizado em 17 jan 2020, 17h32 - Publicado em 26 ago 2017, 19h00
 (Pedrita Junckes/Estilo)
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Depois de uma década ausente, Maria Fernanda Cândido retorna às novelas, gênero do qual escolheu se distanciar para cuidar dos filhos. “Entre preparativos e início de gravação, uma produção como essa demora 11 meses e, no meu caso, inclui mudar de cidade. Com os meninos pequenos, não queria ficar longe por tanto tempo. Quando percebi que a primeira infância tinha passado, que eles já sabiam se expressar, relatar seu dia a dia, que têm consciência do entorno, de si próprios, comecei a visualizar que já dava para ficar longe por períodos mais longos.”

A maturidade dos meninos é proporcional à da mãe. “Hoje sou uma pessoa mais disponível, aberta a abraçar os erros. Antes da maternidade, era sistemática, preocupada em fazer tudo da maneira correta. Com os anos, fui entendendo que o imponderável está presente o tempo inteiro, que as coisas escapam ao seu planejamento, ao seu controle. Entender isso nos torna uma pessoa mais adaptável à vida contemporânea. E isso se reflete também na minha profissão. Sou uma atriz mais capaz de lidar com o imprevisível.” Ela nem titubeia ao dar um conselho à Maria Fernanda de dez anos atrás: “Deixe de lado o perfeccionismo. A graça da vida, em ser humano, está na não-perfeição. É isso é o que faz a vida ser bonita. Se não fosse assim, seria um plano traçado. Encontre graça nisso”.

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Vestido e body de guipure, Paula Raia, R$ 7 178, o conjunto, tel. (11) 3073 1205. Colar de metal, A. Niemeyer, R$ 1 700, tel. (11) 3034 4411. ()

Para minimizar a distância de casa, abriu mão de hotel e está morando em um apartamento na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, para onde o empresário francês Petrit Spahija, seu marido, e os meninos vão quando a rotina das gravações e/ou a canseira não a permitem voltar para São Paulo nos finais de semana. Na cabeceira do lar temporário, repousam os livros do momento: Buracos Negros, do físico inglês Stephen Hawking, e O Mal-Estar da Pós-Modernidade, de Zygmunt Bauman, no qual o filósofo e sociólogo polonês faz uma reflexão sobre como as ansiedades atuais se opõem à segurança de uma vida social estável.

Maria Fernanda consegue ser ativa no dia a dia das crianças e também um dínamo criativo profissional. Ao longo dos últimos anos, ela não fez novelas, mas atuou em minisséries, teatro, cinema e ainda participou do desenvolvimento e da produção do Terra Dois, programa em exibição na TV Cultura, em que ela e o psicanalista Jorge Forbes debatem questões atuais (como avanços genéticos, relações de afeto, mundo digital) por meio da dramaturgia e de teorias filosóficas. Tem ainda a rotina de sócia-fundadora da Casa do Saber (com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro), onde coordena o ciclo de leituras dramáticas. A atriz é o que se chama de papo cabeça. Artes, filosofia e sociologia fazem parte de seu círculo de interesses. Ela nada de braçada nesses temas. Mas sabe que tipo de música ela mais ama? Rock pesado: AC/DC. A beldade, ex-modelo, ex-aluna da faculdade de terapia ocupacional e nascida no Paraná, tem suas nuances. E ensina aos filhos a apreciar as diferenças. Assim como a mãe, eles já gostam da pauleira do rock’n’roll do mesmo jeito que curtem Aretha Franklin e MPB.

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Outro exemplo da afeição da atriz por contrastes: ano passado, ela interpretou William Shakespeare no teatro, em Tróilo e Créssida, com direção de Jô Soares. No final da temporada, emendou com os preparativos da tradicional peruérrima dondoca do horário nobre. “A Joyce tem características das mulheres dos anos 1950, dos valores daquela época, que carrega o conservadorismo, uma dona de casa perfeita, que quer segurança, conforto, não gosta do novo, da diversidade, do risco, da mistura. As unhas vermelhas, longas, não escolhi pela beleza, mas porque são instrumentos estruturantes da personalidade. São para defender o patrimônio. Ela é bélica, territorialista.” Pois bem. Toda semana, Maria Fernanda se despe da personagem na hora de voltar para casa. Retira as unhas postiças para ficar com seus meninos. E só recoloca quando volta ao estúdio. Sim, porque Joyce e sua intérprete têm apenas uma característica em comum. “É só mesmo o amor pelos filhos e a forte ligação com a família”, esclarece a atriz.

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Jaqueta de algodão, A. Niemeyer, R$ 4 200, tel. (11) 3034 4411. Top de linho, Osklen, R$ 397, tel. (11) 3552 7777. Calça de algodão, Carolina Herrera, R$ 2 120, tel. (11) 3552 7777. Tênis de sarja, Converse, R$ 319, converse.com.br. ()

Sempre que encara um novo trabalho, Maria Fernanda tem o hábito de conversar sobre a empreitada com os meninos. Com A Força do Querer, não foi diferente. Vivendo pela segunda vez a mãe de um personagem transexual (a primeira foi em 2012, na minissérie Brado Retumbante), ela falou sobre o assunto com Thomas e Nicolas, numa conversa prosaica, ao redor da mesa de jantar:

MF – A filha da minha personagem na novela terá uma confusão com sua identidade sexual.

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Filhos – Ela é gay?

MF – Ela será trans.

Filhos – O que é trans?

MF – Ela vai se transformar em um menino.

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Filhos – Ah, já ouvi falar disso. Mãe, passa a manteiga, por favor.

E a explanação acabou por aí. “A cabeça das crianças de hoje é muito diferente das crianças da minha geração. Certos conceitos nem são mais valorizados. É engraçado. Foi um fato bem menos impactante do que aquilo que eu imaginei. Não é um choque”, conta.

Dando sequência às diferenças entre criadora e criatura, Maria Fernanda não é uma consumidora compulsiva, do tipo que vive carregada de sacolas. Muito pelo contrário. Dá preferência a roupas de qualidade, com um bom corte. “Gosto de pensar que terei o que escolhi por muito tempo. Por isso, procuro o que é atemporal. Como a roupa que estou vestindo hoje, um suéter, canguru, de cashmere, cinza. A peça favorita no meu armário é uma jaqueta de couro, que eu levo para todo lado.” E ela atribui parte de seu gosto por roupas despojadas à maternidade. “Acho que isso tem a ver com o fato de ser mãe de dois meninos. Não tinha muito tempo escolhendo o que usar. A correria do dia a dia com eles me levou a ser prática”, explica ela, que nunca usa salto alto (nem precisa, vamos combinar. Ela mede 1,77 m). Assim como aconteceu com o retorno às novelas, tem chance disso mudar. “Agora, com meus filhos maiores, quem sabe, eu não passe a dedicar mais tempo a esse assunto, né?”

Pode ser também que a vaidade tenha sido impactada pela correria com a chegada dos filhos. O fato é que Maria Fernanda não ocupa muito de seu dia com cuidados estéticos. Sem pestanejar, ela logo lista que sua rotina de beleza e bem-estar inclui entre seis e sete horas de sono e uma alimentação à base de produtos frescos (legumes, saladas, vegetais). Os longos cabelos, uma de suas marcas registradas, são lavados, dia sim, dia não, cuidadosamente com xampus de uso frequente (aqueles mais transparentes), massageando a raiz com a ponta dos dedos. A delicada operação é seguida de condicionador nas pontas. E, volta e meia, ela alterna a marca dos produtos para que os fios não se acostumem. Uma vez por mês, depois de lavar, aplica um vinagre capilar da marca italiana Santa Maria Novella para limpar os fios de produtos finalizantes (que ela busca evitar ao máximo) e deixa o líquido secar naturalmente. Deixa uma parte da despensa no boxe do banho para uma esfoliação semanal no corpo com uma mistura de flocos grossos de aveia, fubá e mel, que retira a pele morta e ainda hidrata, explica. Antes de sair de casa, protetor solar fator 60. Não usa esmalte. Para manter a (boa) forma longilínea: pilates, há 20 anos. E ponto final.

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Vestido e body de guipure, Paula Raia, R$ 7 178, o conjunto, tel. (11) 3073 1205. Colar de metal, A. Niemeyer, R$ 1 700, tel. (11) 3034 4411. Escarpins de couro, Cris Barros, R$ 1 398, tel. (11) 3082 3621. ()
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Vestido de linho, Ralph Lauren, R$ 10 200, tel. (11) 3198 9470. Pulseira de ouro, Cartier, R$ 26 900, tel. (11) 3030 0930. Escarpins de couro, Cris Barros, R$ 1 398, tel. (11) 3082 3621. ()
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Top de seda, R$ 11 200, e calça de algodão, R$ 5 050, Louis Vuitton, tel. (11) 3060 5099. Brincos de ouro, Cartier, R$ 10 400, tel. (11) 3030 0930. Anéis de ouro e diamantes, H. Stern, R$ 8 490, cada um, tel. 0800 0227442. Escarpins de couro, Cris Barros, R$ 1 398, tel. (11) 3082 3621. ()

Edição de moda: Marcela Belleza. Styling: Paloma Vergeiro. Bele\a: André Veloso (Capa MGT) com produtos Diorskin Star e Bed Head. Produção executiva: Patrícia Veneziano e Monica Borges (WBORN Productions). Tratamento de imagem: Mané. Cenário: AE Cenigrafia. Assistentes: Rafael Maximo e Ramondg (fotos) e Raphael Venerucci (beleza). Manicure: Dulce Heinrich.

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