“Você é um marido atípico, cada vez mais, de uma maneira ou outra desde que nos casamos, então não deveria ficar tão surpreso de ter uma esposa atípica”, escreveu Jackie Kennedy para o marido, John F. Kennedy meses depois do nascimento da primeira filha do casal, Caroline, em 1957.
A carta de três páginas, escrita à mão, foi recuperada antes de ir à leilão público e muito celebrada pelos curadores do Kennedy Library Foundation. Ela revela momentos e pensamentos íntimos da sempre reservada Jackie.
Batizada como “Com todo meu amor, Jackie”, que era como a ex-primeira dama dos Estados Unidos assinava, o documento foi escrito em um período que Kennedy ainda era senador e revela que com apenas 5 anos o casamento já estava em crise, devido à infidelidade dele.
Na carta, Jackie admite que é formal e tem dificuldade de se comunicar com o marido. “É difícil para mim me expressar, algo que você faz tão bem”, ela desabafou antes de explicar a preocupação de que a distância das viagens pudessem impactar ainda mais o relacionamento já fragilizado.
“Eu sei que todos dizem que casais nunca devem se separar – e você se afasta com a frequência – mas eu acho que é bom quando nos afastamos e nos damos conta de tanta coisa” , ela escreveu. “Nós somos muito diferentes, mas eu estava pensando sobre essa viagem, e toda vez que estivemos longe você me pediu para não analisar tanto nosso relacionamento, etc (e) agora eu não estou fazendo isso, porque ninguém pondera algo do que faz parte”, seguiu duramente.
Caroline Bouvier Kennedy, a primogênita do casal, nasceu após Jackie perder vários bebês. Analistas dizem que o nascimento da filha foi determinante para garantir a reeleição de Jack no Senado e depois levá-lo à Casa Branca. Na carta, Jackie fala do quanto os dois estão felizes com o nascimento e que Caroline é o ‘ bebê que ambos amamos’. Historiadores celebram a recuperação da carta pois ela dá uma luz de como Jackie já estava vivendo o conflito de contemplar a separação, mas, como era comum na época, escolhendo salvar o casamento e a família, amenizando as traições ao dizer que Jack é um marido ‘atípico’.
A carta, que ela abre com o ” Mais querido Jack”, encerra com mais uma declaração sofrida de Jackie: “Cada um de nós seria muito solitário com pessoas normais. Não posso descrever o que sinto por você, mas demonstrarei quando estiver com você e acredito que você já saiba”, concluiu.
“A carta agora está em seu devido lugar, muito mais digno do que ser leiolada”, celebrou Doris Drummond, presidente da Kennedy Library Foundation. Jackie assinou com o seu usual “com todo meu amor, Jackie”. Não há menção se o ex-presidente respondeu a carta, que não será disponibilizada em público no Museu, mas guardada nos arquivos. “Assim estará guardada e protegida”, explicou em nota a Fundação.