Humberto Martins, mais maduro e feliz com seu persongam em Em Família
Foto: Contigo!
São mais de 25 anos atuando na Rede Globo e, mesmo assim, Humberto Martins nunca tinha tido a oportunidade de trabalhar em uma obra assinada por Manoel Carlos. Agora, aos 52 anos, ele realiza o desejo de interpretar um personagem criado pelo autor. Como o reservado Virgílio de Em Família, o ator mostra uma nova faceta na TV e acredita que o título de galã sedutor ficou no passado. Com uma fala pausada, Humberto é muito atencioso com a reportagem e se mostra bastante motivado com o novo trabalho na telinha. Ao falar sobre o atual papel, o veterano defende o comportamento compreensivo de Virgílio em relação à esposa, Helena (Julia Lemmertz). “Ele não é bobo. Ele sabe lidar com a vida”, explica o ator, que afirma ter a mesma maturidade que a de seu personagem quando o assunto é amor. “Todos nós somos iguais e buscamos um único propósito na vida: a felicidade”, diz.
Como você define o Virgílio?
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Ele é um personagem muito bom; um cara simples, honesto, bem bacana. Ele tem uma alma pura. É um sujeito tranquilo, que tem uma paixão enorme pela esposa. A Helena é o grande tesouro da vida dele.
Mas a relação deles não tem futuro, não é? Ainda mais com o retorno do Laerte (Gabriel Braga Nunes)…
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Ele ficará cada vez mais abalado com essa volta do Laerte, sim. Isso, claro, estremeceu a relação dele com a Helena. Ele esperava que a esposa já tivesse esquecido aqueles sentimentos que nutria pelo primo. Mesmo assim, o Virgílio contorna todas as situações com muita compreensão e delicadeza.
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Ao lado de Julia Lemmertz, o veterano comemora o fato de viver um personagem cheio de conflitos internos
Foto: TV Globo/Divulgação
Não acha que esse lado compreensivo dele é exagerado? Ele é muito submisso e parece ser muito ingênuo…
O Virgílio não é bobo. É um sujeito que sabe das coisas, um cara muito inteligente. Ele sabe lidar com a vida, é feliz por tudo o que conquistou. A vida em família para ele é tudo.
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Mas você acha que, em algum momento, o personagem não cansará de ser o “bonzinho”?
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Não sei se, em algum momento, ele irá sentir um descontentamento por ter sido tão passivo e se perguntar: “Por que fui tanto assim?” Ele pode ir por outros caminhos, mas acho difícil se tornar o avesso do que sempre foi. Mas, na vida de um ser humano, pode tudo. No decorrer da trama, ele pode querer mudar de vida e deixar de aceitar tudo.
Há diferença entre interpretar o mocinho e o bandido?
É muito bom fazer o malvado. O vilão nos acrescenta propriedades internas que nos fazem sofrer muito durante o processo de construção do personagem. Você lê coisas bárbaras e terríveis que terá que fazer em cena… Mas isso mexe muito comigo, me deixa muito para baixo e me desgasta. Um personagem como o Virgílio é um desgaste diferente, é mais intelectual, é um trabalho mais ameno e harmonioso.
E como foi o processo de criação do Virgílio?
É um personagem contemporâneo, só isso já tira um pouco a composição. É algo mais interno. Está mais ligado ao estado de espírito que cada cena envolve. É na forma como são vividas as situações. O que eu faço mesmo para interpretá-lo é falar de uma forma mais pausada, isso se assemelha ao meu estado de espírito de uns tempos para cá. Além disso, tem a parte física, que fica por conta da cicatriz que ele tem no rosto.
Demora muito para fazer a cicatriz? Não incomoda?
Demora cerca de uma hora. Ela passa a incomodar depois da metade do dia, porque começa a coçar.
Você tem uma longa trajetória na Globo, mas só agora faz uma novela do Manoel Carlos. Que tal?
Sempre tive vontade de trabalhar com ele e acompanhava suas obras. Mas me envolvia com outros projetos propostos pela Globo. Essa novela é estritamente humana. Os conflitos são todos humanos e a principal questão é como resolvê-los. Tinha muita vontade de fazer isso na TV.
E realiza o sonho de participar de um obra de Maneco, apelido de Manoel Carlos
Foto: TV GLobo/Divulgação
Parece que o Virgílio é muito marcante para você…
Todos os papéis tiveram importância, mas essa novela é um gênero que não tinha feito na minha vida, que é trabalhar os fatores psicológicos do ser humano, a própria vida.
Durante muito tempo você interpretou diversos sedutores. Ainda existe alguma fantasia das fãs com você?
Acho que isso fica no imaginário de uma época, de um traçado do meu início de carreira. E acaba que isso vem junto com a minha história e com os trabalhos que foram feitos. É claro que todos gostam do belo, mas, agora, o personagem não tem essa pegada.
Você tem algo em comum com o Virgílio?
O paternalismo e a maturidade, que é algo que adquiri dos meus 38 anos para cá. Mas o Virgílio é muito mais avançado do que eu. Desde garoto, ele já tem essa calma. Eu, quando rapaz, era mais impetuoso.
Na trama, ele sofreu uma decepção com o Laerte, a quem considerava um amigo. Já passou por situação semelhante?
Não só com amigos mas também com colegas, familiares, pessoas que nos cercam na vida. Todos nós, seres humanos, lidamos com decepções e com momentos de felicidade gerados por um gesto de nobreza. Já me decepcionei muitas vezes, mas isso já passou.
O Virgílio é muito compreensivo com a mulher que ama. E como é a sua postura em relação aos assuntos do coração?
Entendo que todos nós somos iguais e buscamos um único propósito na vida: a felicidade. A pessoa tem que saber se livrar das mágoas e das tristezas que passou. É preciso viver o dia a dia da melhor maneira que você pode. Cada minuto é o mais importante que existe. Posso dar três passos e ter um infarto. Esse momento agora é o mais importante. Isso deve ser honrado e deve ser vivido assim por todos os seres humanos.