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Felipe Andreoli: “Sonhava em ser famoso”

Ele anda muito bem, obrigado. O jornalista e humorista deixou o CQC, na Band, para assumir o posto de repórter do Encontro com Fátima Bernardes, na Globo, atração talvez mais coerente com o "homem sensível e certinho" que garante ser

Por Adriana Negreiros
Atualizado em 22 out 2016, 15h17 - Publicado em 8 Maio 2015, 17h16
Pablo Saborido
Pablo Saborido (/)
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Felipe Andreoli estava tão nervoso na noite anterior ao seu terceiro exame no Detran que não conseguia dormir – como levara bomba nas duas primeiras vezes em que tentara tirar a carteira de motorista, não tinha como não se sentir tenso. Insone, saltou da cama e bateu à porta do quarto da mãe, a esteticista Edy Guimarães. “Vim dormir com você”, avisou. Então se aninhou no colo materno e, minutos depois, adormeceu. No dia seguinte, foi aprovado no teste. “Imagina um marmanjo de 18 anos pedir para dormir com a mãe?”, brinca Felipe, 17 anos depois do ocorrido. “Hoje, aos 35, sou este homem sensível e certinho porque fui um menino muito bem educado pela minha mãe”, derrete-se.

Com essa alma um tanto feminina, é natural que Felipe Andreoli esteja se sentindo bem à vontade como repórter do Encontro com Fátima Bernardes, matutino da TV Globo comandado pela ex-apresentadora do Jornal Nacional. Sua desenvoltura no novo trabalho, aliás, foi uma surpresa. Afinal, ele tinha ganhado fama como repórter do CQC, programa de jornalismo e entretenimento da Band. Lá, fazia reportagens necessariamente mescladas com humor, às vezes bem escrachado. “É um alívio não ter a obrigação de ser engraçado”, afirma. “No CQC, durante a entrevista, eu ficava pensando em como colocar uma piada no meio – ou ia para o lixo.”

Um certo desconforto de Andreoli em adaptar-se ao estilo costumeiramente batedor do CQC podia ser percebido por telespectadores mais atentos. “No começo, eu sofria muito”, confessa. Recém-contratado, chegou a fazer uma viagem a trabalho para a Europa na companhia de um produtor argentino tido como durão – o CQC é uma franquia da produtora Cuatro Cabezas, com sede em Buenos Aires. O chefe orientava Felipe a correr atrás das pessoas, subir em muros, gritar. “Cara, não vou fazer isso”, respondia. O produtor não gostava, mas ele se mantinha firme. “Não vou fazer piadas agressivas. Prefiro rir com uma pessoa do que rir dela”, respondia.

A postura de Felipe cobrou seu preço. Entre os colegas, circulava a tese, em pretenso tom de piada, de que o rapaz era “puxa-saco”. “Achava isso uma babaquice”, conta. “Não acredito que tratar bem uma pessoa seja puxa-saquismo. Vou atazanar a Carolina Dieckmann só porque alguém a considera metida? Vou zoar um jogador porque ele perdeu uma partida? Não faço isso”, defende-se. Ele mudava o comportamento, contudo, quando era pautado para entrevistar políticos. “Aí eu tinha tesão de cobrar”, diz. Como resultado, em 2012, levou um tapa no rosto do deputado Márcio Moreira (PP-MG) depois de perguntar se os políticos não recebiam muito dinheiro “para não fazer nada”.

A grande inspiração na escolha da profissão veio do pai, Luiz Andreoli, que fez carreira como jornalista esportivo e foi estrela de emissoras como Bandeirantes e Globo. Pai e filhos – Felipe e o irmão, Roberto, três anos mais novo – passavam juntos dois fins de semana por mês. Luiz e Edy tinham se separado quando os meninos eram bem pequenos. Muitas vezes, o domingão era dentro do estúdio de uma emissora de TV, acompanhando a narração de programas esportivos. Dali, veio o amor pelas câmeras e pelo esporte. Desde março, ele integra a equipe do Extra Ordinários, programa do canal SporTV. “Meu pai sempre foi uma referência profissional para mim”, diz. Do ponto de vista pessoal, entretanto, a maior referência é a mãe. “Ela é minha grande inspiração para batalhar.” Embora o pai fosse celebridade do mundo esportivo da TV, Felipe não teve vida fácil. Aliás, era comum ouvir da mãe a frase: “Vou colocar o pai de vocês na cadeia porque ele não paga pensão”. Na época, os irmãos estudavam no Dante Alighieri, colégio de classe média alta de São Paulo. O apresentador-humorista se recorda dos constantes atrasos no pagamento das mensalidades e nas tentativas de negociação entre a mãe e a direção da escola para que os garotos continuassem frequentando as aulas.

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“O trabalho da minha mãe dependia de clientes e, às vezes, ela enfrentava oscilações. Mas fazia das tripas coração para honrar os compromissos dos filhos”, lembra Andreoli. Quando a situação profissional do pai começou a apresentar certa instabilidade, a família passou a não mais contar com ele. “Já não contava tanto”, diz. “Foi minha mãe quem sempre me sustentou. Então, quando fiz 18 anos, não ganhei um carro de presente.”

Apesar dos pequenos apuros decorrentes dos caminhos seguidos pelo pai pós-separação, Felipe Andreoli tinha grandes alegrias no convívio com ele, que deu ao filho a oportunidade de conhecer seus ídolos da televisão. Nutria uma paixão platônica pela cantora Simony, do programa infantil Balão Mágico. Foi apresentado a ela por Luiz Andreoli, que costumava ser solicitado a dar autógrafos em shoppings e restaurantes. “Eu via e queria aquilo pra mim”, diz Andreoli filho. “Sonhava em ser famoso.” Ao entrar na faculdade de jornalismo, já sabia que seu caminho seria a televisão. Passou por programas com baixa audiência antes de ser convidado, em 2008, para atuar no CQC e, em menos de seis meses, tornar-se uma celebridade nacional. “Foi uma loucura”, recorda-se.

Do ponto de vista emocional, lidei com a fama muito mal.

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Como trabalhava com humor, o jornalista, muitas vezes, era tratado pelos fãs de forma carinhosamente agressiva. Ouvia palavrões, levava safanões, era provocado com ombradas nas baladas. De repente, sua vida em público transformara-se em um grande pátio de colégio do ensino médio, com telespectadores agindo como adolescentes que o consideravam como um dos integrantes da turma. Mesmo quando o assédio era mais convencional – um pedido para tirar foto no meio de uma garfada no restaurante -, ele sentia desconforto. “Agora não posso, estou comendo”, costumava dizer, assertivo. “Meu pensamento era de que, quando não estava com o terno do CQC, não tinha obrigação de agir como figura pública. Depois notei que isso estava me fazendo criar fama de antipático e mudei o meu comportamento”, conta. Adotou, então, uma regra: se o fã o trata com educação, responde com simpatia. Desde que não o acorde em plena madrugada, durante um voo de nove horas, para tirar foto, está tudo bem. Isso já aconteceu, e Felipe quase soltou fogo pelo nariz.

Entre os prazeres da fama, ele saboreou um com especial entusiasmo: o aumento do assédio feminino. Solteiro, flertava em quantidade – algumas vezes, em detrimento da qualidade. “A rede era o gol; então a bola batia e entrava”, brinca. Por essa época, a cada vez que acessava o Facebook, via mais de 200 pedidos de solicitação de amizade, quase todos de mulheres. Foi assim, analisando a foto de perfil das interessadas, que deparou com uma linda loirinha. “Nossa! Que gata”, deslumbrou-se na ocasião. Aceitou o pedido, fuçou na página dela e descobriu que a moça tinha namorado.

Às vezes, a solteirice me deixava para baixo.

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Meses depois, em um fim de semana de depressão – “às vezes, a solteirice me deixava para baixo” -, resolveu mandar um “oi” para a moça no chat. Ela respondeu de imediato, com um gracejo: “Ai, meu Deus! Vou ter um aneurisma!” O jornalista gostou da piadinha, engatou papo e, ao descobrir que ela estava solteira, convidou-a para sair. Foi assim que conheceu a gaúcha Rafaella Brittes, 28 anos, que hoje atua como repórter do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, também na Globo. O primeiro encontro dos dois foi uma singela ida à sorveteria numa tarde quente de segunda-feira, em 2010. Depois, foram à casa do jornalista, onde, entre outras atividades previsíveis, dedicaram-se a ver DVD’s da banda irlandesa U2. Casaram-se um ano depois.

Não faz muito tempo que o ex-CQC passou a visitar, com alguma frequência, instituições de caridade. Em uma delas, viu doentes mentais sem braços e sem pernas, que faziam as necessidades fisiológicas em fraldas, trocadas por voluntários “que sorriam”. Nessas ocasiões, costuma perceber quanto as pequenezes do cotidiano são apenas isso, pequenezes. “Sou um reclamão. Eu me queixo do avião que atrasou, do trânsito, da chuva… Mas é uma bobagem. Tenho uma mulher legal, amo a minha família, tenho carro, casa e emprego”, diz. E conclui: “Minha vida é muito boa”.

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