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Entrevista com Kiko e Sr. Barriga

A emocionante passagem de Carlos Villagrán e Edgar Vivar pelo Brasil, o país que nunca esqueceu do Chaves

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 00h21 - Publicado em 4 Maio 2010, 21h00
Fernanda Tsuji (/)
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Entrevista com Kiko e Sr. Barriga

A dupla veio ao Brasil para participar do Festival da Boa Vizinhança 
Foto: Divulgação – SBT

“Kiko! Kiko! Kiko!” gritava a multidão enlouquecida. Não, não era o fã clube do Chaves que bradava o nome de um dos personagens mais conhecidos do seriado mexicano. Se tratava da arquibancada do Estádio do Morumbi durante um jogo do São Paulo, que parou quando Carlos Villagrán, o intérprete do garoto bochechudo, apareceu para uma visita. Este é só um exemplo da dimensão da fama do personagem.

No ar, desde 1983 no SBT, o seriado tem uma legião de fanáticos que não se cansam de ver os episódios repetidos, lembrar as frases conhecidíssimas e se vestir como os personagens. E vamos ser sinceros: quem é que nunca assistiu ao Chaves? Acompanhado por um emocionado (e 64 quilos mais magro) Edgar Vivar, o famoso Sr. Barriga, Villagrán esteve no Brasil para participar do 2º Festival da Boa Vizinhança, organizado pelo Fã Clube Chespirito Brasil, que aconteceu no sábado 24 e reuniu 5000 pessoas.

“Como estão, gentalha?”, grita o Villagrán assim que chega, enquanto Edgar usa uma das suas tiradas preferidas: “É a primeira vez que não me recebem com uma pancada!”. Apesar das muitas piadas – internas, os dois se divertiam muito juntos- e dos bordões, a passagem dos míticos personagens pelo Brasil (que receberam cachê para vir) foi marcada por uma emoção, digamos assim, bem mexicana. Teve choro, declarações inflamadas de amor aos fãs e muito calor humano. “Vocês tem meu agradecimento perpétuo”, declarou Villagrán em “portunhol”. “Não imaginava que era tão querido aqui. Acho incrível que mesmo depois de tanto tempo e, apesar da distância e do idioma, ainda hoje o programa faz sucesso”, completou Edgar.

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A seguir, eles contam tudo sobre a série, a famosa briga de Carlos com Roberto Gómez Bolaños, (o Chaves) e o amor pelo Brasil. “Temos que ser felizes e fazer os outros felizes. E vocês contribuíram muito para a minha felicidade. É difícil de expressar, mas tem uma palavra em português, que é intraduzível em outro idioma: saudade. Eu tenho saudade antes mesmo de ir embora. Obrigada”. Edgar chora e Carlos o abraça. Tudo está bem outra vez na vizinhança.

Por que vocês acham que a série fez tanto sucesso no Brasil?
Carlos: O Brasil e o México são países latinos, que apesar do idioma são muito parecidos, por isso, a série era tão bem assimilada por aqui também. Fora que era um programa muito puro, pra toda família. Não tinha sexo, nem violência. Eram palhaçadas feitas por profissionais. Acho que o Chaves revela um pouquinho da realidade, porque existem muitos orfãos como o Chaves, muitas crianças que tem só mãe, como o Kiko, e também tem os que não pagam aluguel, né? (risos)

Acredita que daria para fazer um remake com atores mais jovens?
Carlos: Mais jovens não: menos velhos! Risos. Acredito que este tipo de coisa nunca fica bom. É como quando você faz um bolo e vai acrescentando ingredientes. Nós fomos enriquecendo os personagens com alegria e não tem como mudar esta receita. 
Edgar: O que nós fizemos foi algo que não tem como repetir. O acerto do Chespirito (apelido e um dos personagens de Bolaños) foi juntar pessoas diferentes com talentos diversos. E até hoje funciona! 

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Exibida pela SBT, a animação Chaves divide opiniões.
Foto: Divulgação – Televisa

Vocês gostam do desenho do Chaves, da Televisa?
Edgar:
Bom, fazem muito sucesso e o melhor é que os personagens não pedem aumento de salário! As crianças estão mais acostumadas com animação e é natural que gostem. Acho que o desenho é uma homenagem aos atores e ao modo como interpretam.
Carlos: É, mas o desenho não tem tanto valor como a versão com os atores.

Vocês improvisavam muito?
Edgar:
Nada! Tudo era friamente calculado: os golpes, as caídas, as piadas… E os diálogos eram de memória! Na época, era o único programa do México onde se decorava as falas (por lá se usa ponto no ouvido). Carlos, lembra do episódio dos Siete Chuin Chuin FumFlain (no Brasil, o episódio chamou A História da Branca de Neve e os Sete Anões)? Uma canção que aparecia só 3 minutos no ar, demorou dois dias para gravar! Carlos, lembro que você usou uns cílios tão bonitos! (Risos)
Carlos: (Risos) Você gostou? Eu era o Dengoso. Tínhamos uma preocupação muito grande para que a história chegasse limpa, quase digerida pro público.

Qual foi o episódio mais marcante?
Edgar:
O de Acapulco, que aqui vocês colocaram como Guarujá, risos. Foi um dos mais divertidos, porque ficamos naquele hotel, que era o melhor da época. Lembro que o último que eu gravei da série toda era um esquete de uma escolinha.
Carlos: Eu gostei do episódio de Natal, quando o Chaves deixa sua caixa de engraxate para outra criança, porque sempre vai ter alguém mais pobre do que ele. Acho que é uma mensagem muito bonita.

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Como a série começou e a que vocês atribuem o final?
Carlos:
Começamos com um esquete de 10 minutos, que causou tanto furor, que se repetiu na semana seguinte e Bolãnos por fim, aceitou fazer do Chaves um programa de 30 minutos. Aí nasceu o seriado. Tudo foi feito com 101% de carinho.
Edgar: No fim, foi Bolaños que decidiu parar, porque estava muito velho. Tanto, que nos últimos 2 anos, ele nem fazia mais o Chaves, só fazia o Chapolin, o Dr. Chapatin e seus outros personagens.

Como é hoje sua relação com Roberto Bolaños e os outros atores?
Carlos:
Cada seguiu o seu caminho. Minha relação com Bolaños não é nem boa e nem má. (Neste momento, a luz do salão falha e Villagrán comenta: “Isso foi coisa do Chespirito!”). Bem, a última vez que vi o Edgar e o Rubens Aguirre (Professor Girafales) foi num evento nos EUA. Foi muito bom nos encontrarmos, nos abraçarmos e o Edgar até me pediu um dinheiro emprestado! (Risos)
Edgar: Dificilmente nos vemos, porque cada um mora em um lugar. Na Cidade do México, onde moro, encontro mais com o Rubens. Já o Carlos, fazia mais de 10 anos que não o via. Falo com a Maria Antonieta de las Nieves (Chiquinha) por e-mail, porque ela vive em Miami. Já Bolaños mora em Cancun. 

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Dona Florinda, Chapolin e Kiko eram parceiros na telinha. Fora dela, a atriz, que 
já foi namorada de Villagrán, acabou se casando com Bolaños.
Foto:Divulgação – Televisa

 

Carlos, você foi convidado para voltar para a série?
Carlos:
Não, ninguém nunca me chamou. Fiquei afastado da Televisa por 20 anos. Tive que emigrar do meu país e felizmente encontrei trabalho e fui muito bem recebido na Venezuela.

Ficaram tristes de ter que aposentar os seus personagens?
Carlos:
Eu pendurei meus tênis do Kiko. Acredito que meu maior inimigo é este menino que está na TV, que eu fazia quando tinha 36 anos a menos. Agora com 66, tenho que respeitar o personagem e os fãs. Vou me dedicar a outra coisa, mas ainda não sei o quê. Estou escrevendo um livro para contar o que vivi nos vários países que passei com fãs, crianças, presidentes de república….mas não falarei sobre minha vida, não será um departamento de queixas. É só um “muito obrigado”.
Edgar: Não faço o Sr. Barriga há 10 anos. Nos últimos anos da série, a peruca do Nhonho precisava ficar cada vez maior! (Risos) Fiz novela, cinema, dublagem e agora a novela da Televisa, Matrimonios, além de ter quatro filmes que estrearão em breve.

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Qual a importância do Brasil na sua vida?
Carlos:
Vocês nos levaram a posição que temos hoje e por isso, onde vocês estiverem, nós também iremos, que o que aconteceu agora. Os fãs brasileiros estão para sempre no meu coração e isso ninguém nunca vai tirar de mim.
Edgar: Os programas foram feitos há mais de 28 anos! São quatro gerações que gostam do Chaves. Temos muito que agradecer por nos receber por tantos anos em suas casas. Godines (Horácio Gómez Bolaños), Seu Madruga (Ramon Váldes), Dona Clotilde (Angeline Fernández) já não estão mais entre nós, mas continuam fazendo rir. Então, estão vivos!  

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