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O mergulho e as descobertas de Débora Falabella no ativismo ambiental

Uma das protagonistas da série 'Aruanas', da Rede Globo, a primeira cena da atriz na produção foi o assassinato de indígenas na Amazônia

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 set 2020, 08h56 - Publicado em 5 Maio 2020, 19h52
 (Camilla Maia/Rede Globo)
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Como uma boa mineira, Débora Falabella compõe aquela conversa calma e que não dá vontade de parar. É visível, até por uma entrevista por telefone, como foi a nossa, o respeito e o amor que ela tem pela arte. Uma relação íntima, construída há 25 anos, que proporciona o privilégio de participar de projetos que acredita, como a série Aruanas, da Rede Globo, em que interpreta Natalie, jornalista e uma das fundadoras da ONG Aruana, que defende causas ambientais.

Com a advogada Verônica (Taís Araújo), a estagiária Clara (Thainá Duarte), a ativista Luiza (Leandra Leal), Natalie sai de São Paulo e vai para a cidade fictícia de Cari, próximo de Manaus, por conta de uma denúncia de garimpo. Miguel (Luis Carlos Vasconcellos), dono da mineradora e responsável pela operação ilegal, ao lado de Olga (Camila Pitanga) formam a dupla de vilões da série. O resultado é um enredo com muita ação, mesclado com momentos bem rotineiros da vida dos personagens. Para Débora, essa é uma das fortes características da trama: a identificação com histórias reais.

Aruanas
Clara (Thainá Duarte), Verônica (Taís Araújo), Natalie (Débora Falabela) e Luiza ( Leandra Leal ) em Garimpo Eldorado (Fábio Rocha/Rede Globo)

Construir uma história em que as questões ambientais, como desmatamento, garimpo ilegal, demarcação de terras indígenas e genocídio dessa população, servem de base foi um processo longo. Em 2010, a série, escrita e dirigida por Estela Renner e Marcos Nisti, roteiro de Pedro de Barros e direção artística de Carlos Manga Jr., começou a ganhar vida. Mas foi em 2019, mesmo ano em que as queimadas na Amazônia ultrapassaram a médica histórica do mês de agosto, que a primeira fase foi lançada na plataforma de streaming da Globo, o GloboPlay, em coprodução com a Maria Farinha Filmes. Agora, o público pode acompanhar às terças-feiras na TV aberta, após a novela das 21h, Fina Estampa, os 10 episódios da série, sendo que o primeiro foi exibido no dia 28 de abril.

Para CLAUDIA, a intérprete de Natalie na série contou sobre a relação estreitada com o estado do Amazonas, onde gravou sua primeira cena, a troca de experiência e o aprendizado que teve com os atores locais e o processo de inserção a temas tão complexos, como o ativismo ambiental.

Débora, você acredita que a série é um convite para o público se sentir mais responsável e próximo do estado do Amazonas e de suas demandas socioambientais?

Eu já conhecia Manaus, porque tinha ido uma vez com a minha filha, que inclusive pediu para irmos até lá. Sempre fazemos uma viagem juntas, só nós duas. E no hotel que ficamos, éramos as únicas hóspedes brasileiras. Fico realmente muito impressionada por ser um lugar tão pouco falado e explorado pelas pessoas daqui. Pra gente proteger, precisa ter conhecimento. E a Amazônia fica em uma região distante do pensamento e da realidade de muitos brasileiros. Claro, que tem também a distância física, porque o Brasil é um país de proporção continental. Mas é extremamente importante não mantermos essa visão distante, que a Amazônia é o pulmão do mundo. Precisamos de conhecimento sobre a cultura e as riquezas naturais. A floresta em pé gera muito mais riqueza pra gente do que ela destruída. Ela tem um poder cientifico e social. Muitas famílias se sustentam por meio dela de um jeito equilibrado, temos muito o que aprender com eles.

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A serie tem vários atores locais que trazem uma veracidade ímpar para o enredo. Qual foi impacto deles para a composição da sua personagem?

Uma das coisas que mais me orgulho na série é o elenco. Tivemos atores indígenas maravilhosos e é algo distante para o que estamos acostumados a consumir de dramaturgia, que acaba ficando sempre no mesmo eixo. Indo pra Amazônia, isso se intensificou gravando com pessoas de lá. Tive uma parceira de cena, a Caiçara, que é atriz e ativista. Além de ser ótima profissional, ela foi uma companheira e me passava um conhecimento que eu realmente não tinha e fez toda a diferença. Então, foi uma série que modificou todos nós e espero que tenha o mesmo impacto em quem assiste.

 

A luta de ativistas de variadas causas ainda é vista com distância ou como “mimimi” para muitos. Ao colocar movimentos sociais e ambientais em destaque, a série pode quebrar essa barreira ainda existente?

Acho que as pessoas não têm a noção de quantas coisas foram conquistadas por conta da luta dos ativistas. E o Brasil é um dos lugares que mais mata essas pessoas, que estão na linha de frente. Não é todo mundo que consegue voltar os seus olhos pra isso, mas espero que fique uma faísca por meio da série. Todo mundo pode fazer um pouco, o ativismo também é feito de pequenas coisas. Vivemos em um momento que é impossível não olhar pro outro, pras pessoas que estão em maior situação de vulnerabilidade do que a nossa. Entender a necessidade de outras causas, do mundo. A série, de uma maneira muito inteligente, joga luz nisso e mostra que são pessoas comuns, já que são 4 mulheres que têm suas questões pessoais, mas que são movidas por essa paixão.

 

Além dos problemas para resolver com a ONG, a Natalie também passa por uma traição em seu casamento com Amir (Rômulo Braga) e a perda da filha em uma gravidez avançada. Como foi costura tantas camadas delicadas dessa personagem?

O roteiro por si só já faz com que a gente se identifique com as personagens por conta dessas histórias de vida, que muitas mulheres também passam na vida real. O que acho muito interessante da série é que, talvez, em outra situação dramatúrgica, a história da traição e a perda da filha estariam em primeiro plano. E, na história, ela passa por essas dificuldades, mas há algo maior que a motiva: sua paixão ao trabalho e às suas convicções em relação ao mundo. Então, é bem dosado. Claro, que em nenhum momento ela abandona os sentimentos, mas consegue equilibrá-los. Ou seja, a série não reduz a personagem a uma relação amorosa. Pra nós, mulheres, isso causa muito orgulho, já que mostra que não estamos ligadas a uma coisa só.

Com tantos assuntos densos, quais foram as etapas da preparação para a série e como esse processo impactou em você como pessoa?

Além da Natalie ser fundadora de uma ONG de questões ambientais, ela também é jornalista. Então, o conhecimento tinha que estar muito ligado à personagem. E nós tivemos uma base muito grande desde o início com apoio de ONGs ambientais, como o Greenpeace, que foi um dos parceiros técnicos. Tivemos verdadeiras aulas e é impossível não fazer uma revisão de hábitos, de consumo. Eu acredito também que esse momento atual seja um reflexo de algo que está muito errado, então o público poderá acompanhar a série em um contexto de mudanças internas e externas.

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