Mineiro de Passos, Danton Mello tinha só 5 anos quando estreou na televisão – levados pela mãe, a dona de casa Selma, ele e o irmão mais velho, Selton, começaram fazendo comerciais e logo receberam convites para novelas. A primeira foi A Gata Comeu, em 1985. Agora, aos 42 anos, ele já soma 21 folhetins, 14 longas, mais minisséries e programas de entretenimento.
O mais recente dos trabalhos estreou em junho. Em Pega Pega, trama das 19 horas da Globo, Danton é Borges, personagem que o fez resgatar prazerosas memórias afetivas. “Ele é ator de teatro de bonecos, esse ambiente mágico que desperta a imaginação de crianças e adultos. Sempre levei minhas filhas e até fiz uma peça usando a técnica há dez anos”, contou Mello em encontro com CLAUDIA.
Só a menção às filhotas, como ele chama Luisa, 16 anos, e Alice, 13, já traz lágrimas aos olhos do ator. Há três anos, as duas se mudaram com a mãe, a roteirista Laura Malin, para a Califórnia. “Casei aos 18 anos e a relação durou 13 anos. Quando nos separamos, a caçula tinha 1 ano e meio, mas eu sempre estava perto”, afirma. Por muito tempo, o ator buscava a dupla na escola, dava o jantar e dividia com a ex-mulher os dias da semana em que as filhas dormiam em sua casa. “Mesmo sem advogados, adotamos a guarda compartilhada por nossa conta”, diz.
Assim que Laura avisou que havia recebido uma proposta de trabalho fora do Brasil, ouviu um “não” firme do ex-marido, receoso de ficar longe das meninas. “Precisei de muitas sessões de terapia para aceitar que era uma oportunidade única na vida delas, uma experiência enriquecedora. Ainda assim, morro de saudades”, revela, enternecido.
A tecnologia ajuda a aplacar, de leve, a falta que sente das meninas. “Falamos no WhatsApp e temos um grupo fechado no Snapchat. Elas gravam o dia a dia na escola e eu mando registros do meu trabalho.” Abraços e beijos de verdade, só nas férias, quando as meninas vêm ao Brasil, ou quando Mello tem um intervalo nas filmagens e voa até os Estados Unidos.
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O ator sempre foi muito próximo da família. Se em Minas eram comuns as grandes reuniões com os parentes em torno da mesa, em São Paulo, onde viveram por um tempo, e depois no Rio, para onde mudaram por causa da carreira, o jeito foi se aproximar do núcleo. “Meus pais são meus vizinhos e falo com o Selton todos os dias, ao vivo ou por mensagem”, diz, decidido a derrubar de vez a fofoca de que há competição entre eles.
“Só tenho admiração pelo artista completo que ele se tornou: ator, diretor, escritor.” Selton insiste que a sensibilidade do irmão é um bom motivo para que ele mesmo vá além de encenar. “Ele me diz que já passou da hora de eu dirigir e produzir”, conta. O desejo até existe, mas o caçula acha que ainda não chegou o momento certo.
Por enquanto, segue atuando. Além da novela, ele é peça importante no humorístico Tá no Ar, comandado por Marcelo Adnet. As gravações da quinta temporada, que começam em outubro, quase atrapalharam a oportunidade de fazer a novela, mas Danton fez questão de se comprometer com os dois. “O programa é uma megaprodução, com muitos personagens, caracterização elaborada, gravação em estúdio e externas por todo o Rio. Isso faz o trabalho ser divertido. E o resultado é incrível: cômico, porém crítico.”
Mas longe dele aceitar o rótulo de comediante que recebeu nos últimos anos. “Se você me pedir para contar uma piada agora, vou travar. Sou tímido. Isso só muda se você juntar uma turma bacana, se me der um bom texto.” É o que acontece no semanal e também o que rolou na novela I Love Paraisópolis (2015), em que ele contracenava com a atriz Tatá Werneck. “Às vezes eu levantava a bola, depois respondia; era como um jogo.”
Mesmo sem pretensões de fazer graça, a verdade é que o talento de Danton para o gênero chamou a atenção de diretores. A primeira vez foi em 2005, quando ele integrou o elenco da peça Camila Baker – A Saga Continua, dirigida por Fernando Guerreiro. Para contar a história de uma diva do teatro que, após ser acusada de matar o marido, precisa provar sua inocência, ele e outros quatro atores (incluindo Marcos Mion e Daniel Boaventura) interpretaram mais de 30 papéis femininos e masculinos.
No total, faziam 60 trocas de roupa, que incluíam salto alto e muita maquiagem. “Fiquei surpreso vendo as pessoas curtindo, rindo com o resultado. Dali vieram os elogios que me deram incentivo para fazer outras três comédias no teatro com o diretor Alexandre Reinecke, especialista no assunto”, lembra. Em 2014, foi a vez de a Globo notar essa veia e chamar o mineiro para a equipe de Tá no Ar.
Com tantas oportunidades, Danton se considera privilegiado. Ele está na lista de contratados da Globo, construiu uma carreira frutífera e variada. Além disso, a maturidade trouxe outro olhar sobre a profissão. “Aprendi a atuar na prática e, por um tempo, sofri com a culpa por não ter formação acadêmica”, conta ele, que, pequeno, observava atores como Nuno Leal Maia e Antonio Fagundes para colher dicas. “Quando criança, era tudo prazeroso. Eu tinha a responsabilidade de decorar o texto e cumprir os horários, mas sem cobrança. Depois, ia embora brincar.”
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Mais velho, nas rodinhas com outros atores, ouvia papos sobre teóricos do teatro, como Stanislavski. “A princípio, me envergonhei de não saber, achei que teria que correr atrás, estudar. Desencanei porque sempre trabalhei muito e conseguia passar por todos os gêneros. Para mim, não tem nada mais gratificante do que estar no set de gravação, ouvir o ‘ação’ ou o terceiro sinal no teatro”, diz.
A maior crise foi justamente durante a ação – como apresentador do programa Globo Ecologia, em 1998. Durante uma das gravações, ele sofreu um grave acidente de helicóptero. Nas 30 horas em que ficou esperando resgate no Monte Roraima, extremo norte do país, passou frio e fome e sentiu dores intensas dos ferimentos causados pelo desastre. “Estava sentado no banco da janela e vi toda a queda. Consigo lembrar até do impacto, quando desmaiei”, recorda.
Ele teve hemorragia interna, mas os médicos afirmaram que o frio intenso e a pouca idade garantiram sua sobrevivência. Outras quatro pessoas também estavam na aeronave. Uma delas, o cinegrafista, morreu. “Não sei explicar como resisti, mas isso reforçou uma filosofia que tenho desde moleque: aproveitar a vida intensamente, porque ninguém tem certeza do que vai acontecer no momento seguinte.”
Desde então, ele tem se empenhado em ampliar horizontes e experimentar. Há seis anos abriu, com o amigo Tande Bittencourt, chef de cozinha, o Restô, em Ipanema. O sonho é expandir o negócio para São Paulo em breve. A ideia, a princípio, era ir para a cozinha, aprender a fazer alguns pratos. “Mas, quando vi aquela correria, fiquei com medo de não dar conta. Prefiro ser o ajudante da Sheila, que manda bem no fogão”, conta, referindo-se à esposa, a empresária Sheila Ramos.
O casal oficializou a união em abril passado, três anos depois de começar um relacionamento na ponte aérea. Um dos ganhos do casamento, ele diz, é poder ouvir de novo risadas de criança em casa. João Vitor, 7 anos, filho de Sheila, vive com o casal. “É alegria demais de uma vez só”, conclui Danton, com um sorriso no rosto.