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Cauã Reymond: ator versátil e pai atencioso conversa com CLAUDIA

Camaleão no trabalho, cria a filha com pé no chão, carioca indignado com a política, sedutor... Não é à toa que ele provoca tantos suspiros por onde passa

Por Elizabete Antunes
19 jan 2018, 14h55

Com uma gripe forte e tossindo muito, Cauã Reymond, 37 anos, sai de casa, na Joatinga, Rio de Janeiro, para o que qualquer mortal faz quando está doente. Ir à farmácia do bairro, porém, não é algo trivial para ele. Comprar um remedinho obriga um dos atores mais desejados do país a tirar uma, duas, três, quatro selfies com as fãs que o param pelo caminho.

Vai logo avisando que está gripado. “Se você quiser tirar a foto comigo mesmo assim, tudo bem”, afirma o galã, que pegou a virose da filha, Sofia, 5 anos. Embora sinta o corpo quebrado, o nariz entupido, não desmarca a entrevista com a equipe de CLAUDIA, em um clube na Barra da Tijuca, do qual é sócio. Só pede para não posar para o fotógrafo naquele dia. “Olha a minha cara. Tô mal”, exagera, apontando uma leve olheira.

Durante a conversa, procura aliviar o pigarro na garganta devorando quase todas as pastilhas de hortelã, sem açúcar, da repórter. “Posso pegar mais uma?”, pede, sedutoramente. Cauã também está ansioso. Na TV, será o protagonista da série Ilha de Ferro, superprodução da Globo com direção de Afonso Poyart, que já conduziu o ator britânico Anthony Hopkins em Presságios de um Crime (2015) e fez Mais Forte Que o Mundo (2016). “É um projeto ambicioso”, afirma Cauã com orgulho. “Eu quis muito fazer parte dele.” Nos bastidores, Ilha de Ferro vem sendo apontada como um trunfo da Globo para enfrentar a Netflix, em um serviço de streaming (já apelidado de Globoflix) que será lançado este ano.

Na história, ele será Dante, coordenador de produção em uma plataforma de petróleo, a PLT-137. Para isso, viveu dias de 007. “Participei de um curso de sobrevivência numa plataforma, lugar que é considerado o grau máximo de periculosidade para um ambiente de trabalho. É nível 4, o mesmo de uma usina nuclear”, explica Cauã, que teve aulas teóricas no Instituto de Ciências Náuticas, no centro do Rio, e realizou a prática em Maricá, município da região metropolitana do estado.

“Aprendi a combater um incêndio, entendi como funciona um plano de evacuação em emergências… Tive de lidar com situações críticas o tempo todo.” Uma delas elevou a adrenalina ao pico. O ator se viu em uma queda de helicóptero e precisou se salvar. “Fiquei dentro de uma espécie de tanque, que simulava a aeronave. Gera uma certa agonia no começo, porque a gente submerge na água, com cinto de segurança. Foi tenso, mas, depois, adorei.” Até pediu para repetir várias vezes o episódio. “Algumas pessoas do elenco ficaram nervosas, mas eu me joguei”, empolga-se ao contar.

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(Marcelo Tabach/CLAUDIA)

Hollywood é um sonho

Além de Ilha de Ferro (as gravações terminarão em maio), há projetos incluindo o cinema ao longo deste ano. Cauã pensa grande, não descarta Hollywood. “Se um filme meu cruzar a fronteira de um festival e surgir um convite, vou aceitar. Falo inglês muito bem e estudo espanhol.” Garante, no entanto, que uma carreira internacional não o forçará a abrir mão da convivência com a filha.

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“Não há a menor possibilidade. Nunca ficaria longe de Sofia. Nem por seis meses”, diz. “É muito mais importante ser pai do que profissional bem-sucedido. Para mim não faz sentido conquistar sucesso financeiro, reconhecimento na carreira e, no final da vida, ter de correr para recuperar as coisas boas que se perderam.” Nisso, ele parece bem radical, e a razão é clara. “Eu pego a Sofia na escola, levo na natação, na ginástica olímpica. A gente reza à noite para o anjinho da guarda. Quero ter uma relação de intimidade e cumplicidade com a minha filha, sempre”, conta.

Namorado da modelo e apresentadora Mariana Goldfarb, 26 anos, Cauã pretende aumentar a prole. Eles se conheceram em novembro de 2015 e moram juntos há um ano. [ATUALIZAÇÃO: O relacionamento chegou ao fim. Esta reportagem foi publicada originalmente na nossa edição de janeiro de 2018 quando eles ainda estavam juntos] “Se a vida continuar generosa comigo, vou querer muitos filhos. Mas tem de ser com calma.” Em dezembro, seguidores do casal comentaram nas redes sociais que Mariana estaria grávida. O boato surgiu após a modelo ser vista no lançamento de uma revista, no Copacabana Palace, ao lado de Cauã. Ela usava um vestido de crochê que marcava bem a silhueta. Chateada com os comentários, teria perguntado a amigos: “Vocês estão me chamando de gordinha?”.

O ator foi marido das atrizes da Globo Alinne Moraes e Grazi Massafera, a mãe de Sofia. Assinou um termo de união estável e dividiu a vida com Grazi entre 2007 e 2013. A separação gerou polêmicas. Na época, caiu sobre o astro a acusação de trair a mulher com uma colega da emissora, a belíssima Isis Valverde, que contracenava com ele na minissérie Amores Roubados (2014), sob direção de José Luiz Villamarim. Grazi e Cauã tentaram transmitir, em público, certa normalidade. Isis igualmente.

Sofia com o pé no chão

Cauã conta que, com a guarda compartilhada, “bate uma bola boa” com Grazi sobre a educação da menina e a alteração de dias e horários para cada um estar com a criança. “Grazi está gravando novela (O Outro Lado do Paraíso), e eu a deixo à vontade. Se precisar de alguma coisa, pode me acionar. Ela faz o mesmo comigo. A gente se ajuda.” Depois que a filha nasceu – garante o galã –, sua vida social se tornou “quase inexistente”.

Ele afirma ser muito caseiro e acredita que isso joga a seu favor. “Quando estou com a Sofia, faço tudo pensando nela.” Para ele, o condomínio onde mora “parece uma vila”; as portas das casas “ficam abertas” e as crianças “transitam e brincam livremente”. Diz tudo isso com grande alívio. “Acho que dá uma simplicidade; tira minha filha do universo do glamour em que colocam os atores”, explica. A exposição preocupa o pai. “Sei de famosos que têm muito prazer e orgulho em exibir os filhos. Eu respeito, mas evito ao máximo.”

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O ator se esforça para criar a menina com o pé no chão. “Tenho pavor de Sofia virar aquela criança que não dá valor às coisas. Pavor, pavor!”, repete. “Se ela tiver uma camisetinha furada, eu falo: ‘Bota essa, filha. Qual o problema? É para brincar’. Não vim de condições superfavoráveis. Nem a Grazi. Eu tinha minha roupa de sair, que eram duas camisetas mais novinhas, e só.”

Ele combina com a filha tarefas como arrumar o próprio quarto se ela deixar bagunça. “Sofia faz isso; às vezes de forma preguiçosa, mas faz”, lembra. Quando o ator tinha 2 anos, depois da separação dos pais, foi morar em Friburgo, na região serrana fluminense, com a mãe, a astróloga e escritora de livros infantis Denise Reymond. Eram tempos de finanças extremamente magras e controladas. O pai, o psicólogo José Marques, havia mudado para Santa Catarina, onde Cauã, mais tarde, aprendeu a surfar.

Leia mais: Cauã: ” Eu e Grazi quebramos muito o galho um para o outro” 

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(Marcelo Tabach/CLAUDIA)

Vaidoso, eu?

O papo continua no clube. Começa a ventar forte e Cauã resolve se enrolar em uma toalha de mesa. “Vou proteger minha garganta”, afirma ele, que prefere ficar ali, ao ar livre, onde acha mais agradável. “Entrei de sócio nesse clube quando a Sofia chegou. Se eu não estivesse doente, ia fazer uma sauna depois da entrevista. Adoro sauna a vapor.”

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Pausa para mais uma selfie. “Estou gripado, hein”, ele não esquece de alertar. O ator admite que se sente paparicado pelas seguidoras e pelos seguidores e lisonjeado por provocar tantos suspiros por onde passa. “Não acordo me sentindo assim (um homem lindo). Fui ficando mais velho e melhorando, com um pouco de sorte também”, diz, ensaiando uma modéstia. Ele revela, no entanto, que o perfil de bonitão já atrapalhou sua carreira, iniciada em Malhação, em 2002.

“Não vou ficar dando uma de quem não liga para elogios. Acho bacana, me leva a interpretar alguns personagens. Mas sei que perdi outros pelo mesmo motivo.” Já percebeu que hoje o raciocínio dos diretores não passa mais por aí. Para Villamarim, diretor-geral de Justiça, Cauã virou um camaleão. “Ali era o antigalã, aquele que, depois que a mulher morreu, não ficou com mais ninguém. O Cauã mostrou, definitivamente, que é do ofício. Não está mais no lugar da vaidade”, diz.

O ator repete o conhecido discurso de que é vaidoso na medida, só por causa da saúde, alimenta-se de orgânicos, cuida do físico surfando e nas aulas de boxe etc. etc. etc. Quando o assunto é amadurecer e envelhecer, desponta o tema calvície. E então escapa o que pensa diante do espelho. “Quero ser um velho com cabelo!”, confessa, sem esconder o medo de que uma careca se manifeste.

Todos atrás das grades já

Doido pelo bairro da Gávea, pelo Rio, onde nasceu, se revolta com tantas notícias negativas. “Quando vejo políticos que tinham envergadura no cenário nacional atrás das grades, até renovo a esperança. Dali a pouco, eles começam a passar mal na cadeia e vão para casa! Isso me deixa indignado, porque o cara que cometeu um crime infinitamente menor e fica muito doente não sai da cadeia de jeito nenhum.”

Com 15 anos de carreira, vem investindo em uma nova frente – a produção, como em Alemão, que também protagonizou. Exibido nos cinemas em 2014, virou série, na Globo, dois anos depois. Com esse filme, concorreu em novembro ao Emmy Internacional edição 2017 na categoria melhor filme e minissérie para a TV. O diretor, José Eduardo Belmonte, e Cauã torceram muito pela vitória.

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“Quando o reconhecimento se dá em um prêmio de escala mundial, como o Emmy, é ainda mais recompensador e um estímulo para buscar o novo”, diz Belmonte. Alemão, porém, perdeu para um concorrente da França. Ninguém vai para uma festa como essa, realizada em Nova York, pensando em voltar de lá sem o troféu na mala, mas Cauã não passou recibo. Ele perdeu também com Justiça, que disputou na categoria melhor série dramática.

Em fevereiro, estreia a comédia A Dupla, com Tatá Werneck. Ele atua e está entre os produtores, curtindo dar palpites no destino do filme. “Gosto de falar alguma coisa e fui me sentindo à vontade nesse posto. Não tenho a necessidade de dar a última palavra, mas acho interessante entender a função de cada um no processo.” Também como produtor, rodará em outubro Dom Pedro, tomando o papel principal e Laís Bodanzky a condução.

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(Marcelo Tabach/CLAUDIA)

Faço um Gay, com orgulho

Mas nada, nos últimos tempos, o marcou mais que treinar em casa a andar de salto alto para interpretar a transexual Clara. Por quê? Ele fez o ensaio aos olhos curiosos de Sofia. O ator havia colocado dinheiro do próprio bolso no videoclipe Your Armies (“Seus exércitos”), da cantora e compositora carioca Barbara Ohana, sobrinha da atriz Claudia Ohana. Nele, o maior sex symbol da TV brasileira aparece de cílios postiços, batom e lingerie de renda preta.

Clara seduz um homem, vive uma cena quente à beira da cama e… apanha do amante. “A gente fala sobre a intolerância. Isso é muito importante”, destaca Cauã para justificar a naturalidade com que testou o figurino da personagem diante da filha. “Ela me viu provando as perucas loiras, usando make. No início, estranhou, mas eu contei que era o trabalho do papai. Espero que a Sofia sinta orgulho de mim e dos meus papéis. E que a sexualidade de cada um esteja mais bem resolvida na cabeça de todas as pessoas.”

No filme Piedade, sem data de lançamento, será visto em novos takes eróticos. Com Matheus Nachtergaele. “Não quero dar spoiler, mas foi tranquilo transar com Matheus”, conta. Dirigido por Claudio Assis, faz um gay, dono de um cinema pornô. O colega descreveu a mesma sensação de tudo dominado e calmo no sexo cênico. “O Cauã é um ator que se formou na TV, mas tem asas grandes para voos tão longos que acaba ganhando a eternidade no cinema”, afirma Matheus. Rasgando mais seda, diz que seu par é um profissional inspirado e um homem lindíssimo. “Não só por fora. Tem uma superalma, é meu amigo. Eu amo o Cauã Reymond.”

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