“Ashton e eu sonhávamos em ter uma família”, diz Mila Kunis, grávida do segundo filho, a CLAUDIA
A estrela vive no cinema o papel que está aprendendo a desempenhar fora das telas: o da mulher multitarefa, que se divide entre maternidade, carreira, vida pessoal e críticas alheias
O dia a dia de Amy é familiar a muitas mulheres: em um malabarismo complexo, ela equilibra a rotina dos dois filhos, as obrigações no trabalho, os cuidados com a casa. E ainda atura críticas frequentes de outras mães da escola das crianças. Exausta com as cobranças, chama duas amigas para uma folga da maternidade e descobre que a busca pela perfeição, além de cansativa, não tem fim nem saída honrosa. O enredo hiperrealista chega aos cinemas no dia 11 com a comédia Perfeita É a Mãe!, dos diretores Jon Lucas e Scott Moore. Amy é a personagem interpretada por Mila Kunis, atriz ucraniana naturalizada americana, famosa pela atuação na série That ‘70s Show, exibida entre 1998 e 2006. Foi no set do programa que ela conheceu o ator Ashton Kutcher, com quem começou a namorar em 2012 e se casou no ano passado.
Em junho, durante a turnê para promover o filme, Mila anunciou que está esperando o segundo filho do casal (a garotinha Wyatt completa 2 anos em outubro). A coincidência uniu ficção e realidade e fez com que a atriz colocasse toda a experiência da maternidade em perspectiva. No dia do encontro com CLAUDIA, a barriguinha ainda não aparecia, mas a empolgação com o tema era visível.
No filme, você tem uma inimiga, Gwendolyn, mãe que defende o estereótipo da perfeição e quer dar pitaco na vida alheia. Já encontrou alguém assim na vida real?
Wyatt ainda não vai à escola. Então, não convivo com mulheres assim, mas sei que elas existem. Já topei com algumas nos blogs sobre maternidade – felizmente, eu estava protegida pela tela do computador.
Por que será que as mães exigem tanto umas das outras?
Não sei, mas acho desnecessário. Pelo que minha mãe conta, não era assim antes. Cresci na União Soviética na década de 1980. Meu pai secava o tabaco para fazer cigarros em casa e, um dia, peguei um punhado e enfiei na boca. Pelo que eles contam, eu gostei! (risos) Não havia cadeirinhas de carro nem cintos de segurança. Minha mãe ainda me deixava tomar café. E eu sobrevivi!
Qual a sua principal preocupação como mãe?
Quando Wyatt nasceu, meu maior medo era de que ela fosse mimada. Não quero que meus filhos sejam egocêntricos. Sei que vão crescer com muitos privilégios, em um mundo em que tudo é acessível, tanto informações quanto bens materiais. Aí penso: como fazer com que certas coisas sejam encaradas como realmente especiais? Como ensiná-los a apreciar o que têm? Como transmito a ética do trabalho para alguém que não vai precisar procurar emprego por necessidade? É muito difícil, até porque para mim foi o oposto disso tudo. Cresci em uma família pobre, de imigrantes que chegaram aos Estados Unidos com bem pouco. Tomávamos catchup misturado com água para fazer as vezes de sopa.
Como evitar essa inversão de valores?
Há algum tempo, eu e Ashton levamos nossas sobrinhas (adolescentes) até Skid Row, área de Los Angeles onde tem muitos moradores de rua, para que elas vissem o que é o mundo real.
Você pede muitos conselhos à sua mãe?
Não, ela sempre responde que não lembra como era na minha época de criança, porque faz muito tempo! (risos) Mas é interessante vê-la interagindo com a minha filha. Quando Wyatt tinha uns 2 dias de vida, minha mãe estava com ela no colo quando avisou: “Está fazendo xixi”. Eu perguntei, espantada: “Como você sabe?” Segundo ela, Wyatt estava abrindo as narinas, exatamente como eu fazia. Aquele comentário só poderia ter saído da minha mãe, a pessoa que mais me conhece no mundo! E eu a amo muito por isso. Também acho engraçado como ela simplesmente não consegue lidar com fraldas descartáveis – eu usei apenas fraldas de pano. Ela fica toda desconcertada, sempre coloca ao contrário.
No filme, as mães não podem contar com os pais na criação dos filhos. Como é isso na sua casa?
Tenho o melhor marido do mundo, de verdade. Além de ser uma pessoa incrível, Ashton não poderia ser um pai mais participativo. Nós dois trabalhamos bastante, mas, quando estamos em casa, ficamos com nossa filha, somos presentes. Acho que isso tem a ver com o fato de que sonhávamos em ter uma família. Essa é uma prioridade para a gente.
Ainda assim, você sente que a carga de trabalho recai mais sobre você?
Sim, mas é essencial ter um marido que me apoie e confie nos meus instintos. Ele reconhece que eu sei fazer algumas coisas melhor que ele, como checar a febre às 2 horas da manhã ou resolver qual é a comida certa para cada hora. Há algo inexplicável nesse instinto natural que surge nas mães quando o bebê nasce, mas é sempre bom ouvir alguém dizendo: “Vai fundo que eu estou ao seu lado”.
Algumas cenas do filme mostram como julgamos todo mundo o tempo todo. Você, sendo uma celebridade, sofre muito com isso?
Com certeza sou julgada todos os dias. Mas não porque sou famosa. Hoje em dia, basta ser humano para ser julgado. E tem muita gente por aí que se sente melhor quando humilha o outro. É uma pena, mas é a pura verdade.
O que muda na maternidade sob os holofotes?
A exposição é complicada. Fazemos o possível para Wyatt não ser fotografada. É até meio triste, mas inventamos uma brincadeira sempre que vamos sair à rua: falamos para ela se esconder; aí Wyatt fecha os olhos e não se incomoda com os flashes. Ela fica assustada com o assédio, claro. Ninguém pensa no impacto daquilo para uma criança dessa idade. Quando ela quer ir ao parquinho, peço para alguém da minha família levá-la; assim eles não são reconhecidos e ela pode ter o gostinho da liberdade. Querem mexer comigo? Beleza! Mas eu vou proteger os meus filhos. Acho até que deveria haver uma lei para isso. Cheguei a processar um jornal inglês, e eles estão proibidos de publicar fotos de qualquer filho que eu venha a ter até que as crianças completem 16 anos. Parece extremo, mas é o único jeito de impor limites.