Em uma de suas viagens, a jornalista
conheceu os tuaregues, povo nômade
que vive no deserto da África Central
Foto: Roberta Sanches
Cercada de mapas, Ana Paula Padrão, 42 anos, escreve em seu laptop o texto de uma das próximas edições do SBT Realidade. Ela acaba de chegar do Alasca, onde visitou um grupo de esquimós. Elegante e informal num vestido todo colorido, a jornalista faz uma pausa para receber o marido, o economista e empresário Walter Mundell. Depois, volta ao trabalho em sua ampla sala na produtora Touareg Conteúdo, instalada no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Ana Paula montou a empresa em novembro de 2006 e lá comanda uma equipe de 20 profissionais. “Sou feliz”, ela resume, ao fazer uma avaliação de sua carreira e da vida pessoal. Enquanto olha para o espaço decorado com móveis de madeira e tecidos, uma de suas paixões, completa: “Hoje faço acontecer todos os projetos que guardava na gaveta”. Nesta entrevista exclusiva a tititi, a bela fala de viagens, TV, carreira e amor.
tititi – Em março, o “SBT Realidade” completou um ano. Que balanço faz do programa?
Ana Paula Padrão – Estou conseguindo realizar todos os projetos que tinha mais rapidamente do que imaginava.
O que são esses projetos?
Neste um ano, a gente fez muita coisa: um programa na Amazônia; dois em Níger, na África; dois em Nova York, nos EUA; um sobre moda e outro sobre cinema; dois na China e dois no Japão. Também estivemos em Portugal, Israel e na República Checa. E acabo de chegar do Alasca. Há ainda muitos outros na fila. A capacidade de realização é alta, pois a dedicação é quase que exclusiva.
Você tem total autonomia para trabalhar?
Tenho uma produtora de conteúdo, a Touareg, que faz os programas para o SBT Realidade. A equipe trabalha aqui. A pré-produção, a produção, a decisão de para onde vamos, tudo é aqui, temos autonomia total. A gente recebe um orçamento mensal e entrega dois programas de produção própria e dois comprados da Discovery, Animal Planet e BBC. Fazemos também assessoria de conteúdo e TV corporativa para algumas empresas.
É uma equipe fixa de quantas pessoas?
São 20 pessoas trabalhando comigo nesse espaço onde é possível exercer o jornalismo com pautas especiais e grande controle editorial do material que fazemos. Mas o orçamento não é infinito e trabalhamos bastante.
Como é sua rotina?
Faço ginástica em alguns dias da semana, consigo ir à análise, cuidar das unhas… Chego aqui por volta das 10 h e saio às 20 h. Administro minha rotina, hoje, de maneira muito mais razoável.
Qual viagem mais a impressionou?
Essa é a pergunta mais difícil de responder porque cada uma emociona a gente de um jeito. A China, por exemplo, foi cansativa, mas recompensadora. O país é extenso e os deslocamentos são difíceis. Além disso, a comida é muito diferente, eu emagreci demais.
Em qual lugar foi mais difícil adaptar-se?
No Níger, África Central, onde passamos três semanas. Montamos uma caravana para atravessar o deserto do Ténéré e passamos esse tempo com todas as nossas coisas no carro, montando e desmontando barraca. Não tinha banho, a comida e a água eram aquelas que tínhamos levado.
Valeu o desgaste físico?
Totalmente. As imagens e as histórias que tivemos do deserto são impagáveis. Fomos procurar um povo nômade, os tuaregues, que eu queria conhecer há muito tempo.
Por que você queria conhecê-los?
Eles têm fama de ser um povo guerreiro, bravo, indomável. Sempre tomaram conta dessa parte do deserto do Saara que se chama deserto do Ténéré, onde há muito menos oásis. Eu queria entender por que escolheram viver num lugar tão desafiador.
Eles são os homens azuis?
São, sim. Desde meados dos anos 700, quando os árabes chegaram à região, esses povos nômades já tomavam conta desse território e se identificavam como os homens dos turbantes azuis. Eles usavam o único corante existente na época, o índigo, para tingir a roupa toda que, com o tempo, ia descorando e passando (a substância) para a pele, que também ficava azulada. Atualmente, usam outras cores, mas o azul ainda prevalece. Alguns fazem comércio do sal e outros já se instalaram nas cidades. São muçulmanos mas também xamânicos, cultuam os deuses da natureza, têm talismãs e superstições.
Você acaba de voltar do Alasca, o que viu de interessante por lá?
Fomos visitar um povoado de 4.500 esquimós do extremo norte, o último antes do pólo. Essa comunidade montou um instituto de pesquisa, com o apoio de alguns governos, para estudar o aquecimento global, pois lá está ocorrendo o derretimento da camada de gelo permanente, o que afeta a vida deles.
Como tuaregues e esquimós a receberam?
O grande segredo de qualquer viagem, seja para fazer o fatual ou uma matéria especial é pré-produzir bem. Se for uma viagem que envolve riscos, em uma região de conflitos, então, isso pode significar o sucesso ou não da missão e até a integridade física da equipe.
Então, há um contato antes da viagem?
Sim, com um guia especializado, que conhece muito bem a região e tem contatos com as tribos locais, os comandantes daquela área ou daquele povo. Ele faz as primeiras aproximações e depois não deixa a gente cair numa enrascada cultural.
Você pode dar um exemplo?
Em países de tradição religiosa muito forte, às vezes, a mulher não é vista como chefe de equipe, já me aconteceu na África várias vezes. Aí, é preciso pedir ao cinegrafista ou produtor que se apresente primeiro.
Se você respeita a tradição, consegue quebrar o gelo…
Isso mesmo. E se você chegar com a cabeça descoberta em um país muçulmano onde o uso do véu é obrigatório, por exemplo, vai ter um desgaste cultural imediato. Uma dona-de-casa que poderia lhe dar uma entrevista ótima, vai se sentir desrespeitada. Eu sempre usei o xador (véu) quando necessário.
É um gesto na direção deles.
A gente tem que entender. Estamos lá para captar o que é aquela cultura, como funciona a vida naquele lugar, e não para achar os costumes deles um absurdo e querer mudá-los. Posso até fazer um julgamento comigo mesma e formar um juízo de valor depois, mas é preciso respeitar.