Ela não usa make nem salto no dia a dia e garante não saber fazer tipo nem falar frase de efeito, pois é fã da verdade. De volta às novelas, a atriz Adriana Esteves demonstra aquela tranquilidade típica de quem, como ela mesma diz, já encontrou seu “lugar no mundo”
Como é voltar às novelas dois anos depois do incrível sucesso como Carminha, de Avenida Brasil?
Descansei, viajei e estou animada. Mas dizer que é simples voltar depois da Carminha seria mentira. Foi um grande sucesso, e é normal eu me cobrar. E sei que posso ser cobrada. É uma constante para mim me manter vigilante para tornar as coisas mais leves, não carregar tanto peso. Além disso, claro, estudo e me esforço para ter outro bom desempenho. Em 2012, fiz a Dalva de Oliveira (na minissérie Dalva & Herivelto – Uma Canção de Amor), um trabalho bem elogiado. Depois, um amigo que admiro, o ator Fernando Eiras, me encontrou e disse que a vida de artista é cíclica e temos que nos acostumar aos altos e baixos. Pensei muito naquilo. E meu papel seguinte foi logo a Carminha, ou seja, fui mais para o alto ainda. Mas estava – e acho que estou – preparada para ter o equilíbrio de amenizar as possíveis quedas dessa montanha-russa.
Você deu uma sumida mesmo depois da Carminha. Como faz isso num mundo cheio de paparazzi?
Viajei com a família. Quando voltei ao Brasil, retomei o trabalho, mas fiz cinema (filmou Beleza, de Jorge Furtado, em que atua com o marido, e Mundo Cão, de Marcos Jorge, que estreiam neste ano), mas, além disso, fiquei quieta na minha vida familiar. Tenho uma rotina tranquilinha. Moro em São Conrado, bairro que adoro, entre o agito do Leblon e da Barra. Parece um pouco cidade do interior.
Quem é Inês, sua personagem em Babilônia?
É uma mulher ambiciosa e obcecada por uma amiga de infância, Beatriz, vivida por Gloria Pires. É nosso primeiro trabalho juntas! Só pela Gloria, o convite já seria irrecusável. Fica até fácil viver alguém que tem fixação por ela (risos). A Inês mistura amor e ódio, encantamento e inveja. Fui atrás de coisas para apoiar a criação. Quando fiz a Carminha, treinei jiu-jítsu, pois precisava de agressividade para compor a personagem. Agora, com a Inês, me deu um estalo: meu filho Felipe adora jogar pôquer com o pai e com amigos. Pensei: vou pedir a ele para me ensinar. Achei que esse clima do blefe e do risco seria bem rico.
A tônica de Babilônia é a ambição. Você é ambiciosa?
Acho que sou. Mas é uma ambição boa. Não aquela que leva você a atropelar os outros, e sim a que me faz uma pessoa batalhadora. Lutei por uma profissão vital para mim. Olho pra trás e vejo quanto caminhei. A ambição é o motor.
Você está em ótima forma, magra, tonificada, com pele bonita… Qual é o segredo? Muita água! Água o tempo todo. Mas tenho uma genética boa. Minha mãe, cuja idade não vou dizer agora porque ela me mata, é linda. Não tem dia em que ela não ponha o biquíni para ir à piscina e as pessoas não comentem sobre o corpo dela. Além disso, fiz balé clássico dos 11 aos 16 anos, o que me deu base muscular. Gosto de exercício, da sensação que dá depois. Faço ginástica funcional e já fiz musculação, luta, corrida, bicicleta. Estou sempre me mexendo. Quando não tenho tempo, peço para deixarem meu tênis na portaria e subo de escada (ela mora no décimo andar).
Essa rotina de exercícios faz falta quando se entra na maratona que é uma gravação de novela?
Faz, porque a gente fica sem tempo para nada. Mas vou ser sincera: não é disso que sinto mais falta quando estou gravando. A maior saudade que dá é a de tomar minha cervejinha sossegada, no fim de tarde, com o marido ou amigos, relaxada. Ou um vinho se estiver frio. É bom demais.
Você come muito e de tudo?
Não tenho muita tendência para engordar, mas vivo naquela política das compensações, igual à de muitas mulheres: se abusei aqui, seguro ali. Não é grande sacrifício. A única vez na vida em que engordei muito foi na primeira gravidez. Foram 21 quilos! Não sei o que aconteceu; eu fiquei tão feliz que liberei geral. Já na segunda, engordei pouquíssimo. Agora, para mim, tão importante quanto a boa forma é a saúde. Faço check-ups semestrais, não deixo nada para amanhã: clínico, dermatologista, ginecologista… Fora a saúde mental: faço terapia desde os 17. Sou um ser humano com muita necessidade de me entender, me confrontar, me localizar.
Você é vaidosa?
Acho que nem tanto. Afinal, me visto de forma básica, uso salto baixo, gosto de conforto. No dia a dia, uso zero de maquiagem. Aliás, eu nem sei me maquiar. E não gosto quando a personagem tem que se produzir demais. Não aguento ficar sentada muito tempo. Mas tem uma coisa de que eu adoro: estar loira. Para fazer a Inês, tive que cortar e escurecer. Mas sempre me imagino loura (risos)! No mais, prefiro o simples.
Qual é sua definição de simples?
É não ficar criando clima, inventando frase para causar efeito. Não sei fazer isso. O simples é a verdade, e eu gosto da verdade. Procuro dizer sempre o que sinto, fazer o que realmente gosto, não me enquadrar. Acredito que o melhor está por vir. Sou sagitariana, otimista. A sabedoria é simples, a inteligência é simples… E é o que eu busco.
Você fala do seu marido com muita paixão…
São nove anos de casamento mais dois de namoro e continuamos trocando mensagens pelo celular o dia inteiro. A vontade de estar junto não diminui. Estou aqui, mas quero encontrar com ele logo. Vlad é um homem maravilhoso, parceiro adorável, amigo fiel. É um elemento agregador da minha família. Meus pais, irmã, amigos, todos amam o Vlad. E é um padrasto inacreditável para o Felipe, além de ter ficado bem amigo do pai dele, meu ex-marido, Marco Ricca. E sou mãe da Agnes, que não é do meu sangue, mas me fez ver que essa coisa de sangue é a maior bobagem do mundo. O amor vem de outro lugar.
Que tipo de mãe você é?
Sou amorosa, apaixonada, mas rígida. Essa rigidez é boa quando vem da vontade de dar limites, de fazer com que eles sejam pessoas melhores. Mas às vezes vem do cansaço e da intolerância. Aí é ruim. Nessas horas, é bom ter pessoas em volta para abrir seus olhos, dizer que você exagerou. Meus três filhos são muito doces. Tanto os dois que nasceram da minha barriga quanto a Agnes, que amo da mesma maneira. Agora está num intercâmbio de um mês na Austrália e estou aqui estressada, quero saber dela o tempo todo. Mas entendo que ela gosta do mundo, ama viajar. Nós, mães, precisamos estar em constante transformação, temos de saber que os filhos crescem e têm demandas de outro tipo. Tento sempre lembrar de quando eu era adolescente e me colocar no lugar deles. Ajuda a aceitar que devem se distanciar para descobrir quem são. Quero ser uma mãe de adolescente legal, e de adulto também.
Ver os filhos crescendo faz sentir mais o peso do tempo?
A cabeça muda (com a idade). E me faz ver a necessidade de me aprimorar, evoluir como ser humano. A gente tem a opção de se enxergar como aquela que está envelhecendo, a inútil que ninguém quer mais, mas também pode ver o lado bom. Prefiro enxergar da melhor forma. Acho que não tenho medo de envelhecer, e sim de falta de saúde e de perder pessoas. Mas tenho 45 anos e estou muito bem com minha vida, lutando por minha família, meu trabalho, minhas amizades. Eu encontrei o meu lugar no mundo.